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 A Mariologia após o Vaticano II no Brasil e na América Latina.
                  Conquistas e Tendências

Texto esquemático do Prof. Afonso Murad, apresentado na sessão brasileiro-portuguesa do 23º
Congresso Mariológico-mariano Internacional, promovida Pontifícia Academia Mariana
Internacional (Roma, 2012). A ser publicado nos Anais do Evento.


I. Luzes de Lumen Gentium 8 para a mariologia:
- Apresenta a Mãe de Jesus em interdependência com Cristo e a Igreja.
- Traz nova luz para os dogmas marianos e o culto a Maria, a partir de elementos da
História da Salvação e da teologia bíblica.
- Elabora o discurso mariano de maneira equilibrada, lúcida e contemporânea, que
evite a lógica dos privilégios, os silogismos e os argumentos de conveniência.
- Estimula os teólogos a continuar seus estudos, para esclarecer e aprofundar temas
em fase de maturação (cf. LG 54). Os mariólogos não são meros repetidores do
magistério da Igreja. Em comunhão com a Bíblia, a Tradição, o magistério e os Sinais
dos Tempos, eles tem a missão de contribuir para o avanço da teologia mariana na
Igreja.
- Articula-se principalmente com textos bíblicos e patrísticos. Não há referências
explícitas a tradicionais tratados de devoção a Maria, nem a mensagens de videntes.
- Amplia as características do perfil bíblico-teológico de Maria, até então restrito a três
elementos: o sim da anunciação, a maternidade biológica, a união com o filho no
momento da cruz. Acrescenta-se: companheira de Jesus, servidora (LG 61), mulher que
avança em peregrinação na fé, de Caná até a cruz (LG 58).
- Põe as bases teológicas para superar a ambiguidade de títulos marianos como
“medianeira” e “corredentora”. Reafirma-se o dado bíblico central: “Jesus é o único
mediador”. Maria e os Santos cooperam na missão salvífica de Jesus, o que não os
elevam ao mesmo nível de Cristo.
- Aponta as múltiplas e complementares relações de Maria com a Igreja:
simultaneamente membro, mãe e protótipo da Igreja.
- Alerta sobre os equívocos dos extremos do minimalismo (subtrair a presença de
Maria do cotidiano dos católicos) e do maximalismo (devocionismo que se afasta da
centralidade de Jesus). Nem toda forma de devoção mariana é aceita pela Igreja.
Critica-se o afeto estéril e transitório e a vã credulidade. Valoriza-se a atitude de
inspirar-se no perfil bíblico-espiritual de Maria (suas virtudes).


II. Avanços da mariologia bíblica após o Concílio, refletidos na teologia
latinoamericana
1. A grande descoberta: os traços humanos de Maria de Nazaré, tematizados nos
evangelhos.
2


2. Perfil lucano de Maria: perfeita discípula (ouve, medita e frutifica a palavra),
peregrina na fé, mulher, sinal da opção preferencial de Deus pelos pobres, ungida pelo
Espírito Santo.
3. Perfil joanino de Maria: pedagoga da fé (leva os amigos/servidores a fazerem a
vontade de Jesus e reúne a comunidade em torno a Ele), perseverante junto à cruz,
símbolo da resistência das mulheres e das “mães das dores”, solidária aos crucificados
na história, mãe da comunidade.
Autores: Li. Boff, Cl. Boff, F. Taborda, A. Murad, M.C. Bingemer e I. Gebara. Ecos em
Puebla e em Aparecida.


III. Maria no culto cristão: devoção e liturgia
1. Valorização da devoção mariana (que não é somente popular), trazendo à luz seus
elementos libertadores. Resgate dos elementos indígenas, africanos e mestiços.
2. Identificação e promoção das devoções locais.
3. Reflexão sobre a figura da Mãe como chave hermenêutica da intensidade do culto a
Maria. Tensão e equilíbrio com a centralidade de Jesus.
4. Estímulo à renovação do culto mariano, seguindo os critérios da “MarialisCultus”.
5. Maria, símbolo do feminino de Deus.
6. Discernimento sobre o fenômeno das Aparições no Brasil.
Autores: P. Iwashita, Li. Boff, Cl. Boff, L. Boff, M. Gonzáles Dorado, M. Bremen, C.
Caliman, R.M.F. Silva, A. Murad.


IV. Mariologia dogmática
1. Adoção de um esquema tríplice para leitura e interpretação dos dogmas marianos,
superando o esquema dos “privilégios”: o que se diz sobre Maria, o que afirma sobre
Deus, o que revela sobre nós.
2. Theotókos: Maria: mãe, educadora e primeira discípula do Filho de Deus encarnado
(e não da Trindade). Filha predileta do Pai, templo humano do Espírito Santo.
3. Maria Virgem: associação com a imagem da “Terra Virgem”. Valorização do corpo da
mulher. Virgindade como opção de vida.
4. Imaculada. A partir da Graça original e não do Pecado Original. Maria é a imagem
realizada da Nova Humanidade sonhada por Deus. Leitura pastoral e ética, articulada
com o perfil de “perfeita discípula”.
5. Assunção: Leitura à luz da ressurreição de Jesus. Deus assume e transforma toda a
pessoa de Maria (corpo e alma). Tudo o que ser humano constrói de bom neste
mundo, em resposta à graça de Deus, será assumido e transformado.
Autores: C. Temporelli, Cl. Boff, M.C. Bingemer, L. Boff.
3


V. Tarefas teológicas e pastorais da mariologia no nosso continente
1. Administrar a permanente tensão entre “Maria de Nazaré” e “Maria glorificada”,
inspirada na cristologia (o mesmo Jesus que seguimos é o Senhor que adoramos).
2. Colaborar com os bispos no discernimento e acompanhamento dos fenômenos
aparicionistas.
3. Denunciar os equívocos e marcar limites ao devocionismo mariano maximalista.
4. Refletir sobre Maria, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso no contexto próprio
do continente, com seus interlocutores concretos (diferentes dos europeus).
5. Continuar a elaborar a mariologia em relação aos outros tratados e áreas da
teologia: bíblia, trindade, antropologia teológica, cristologia, liturgia, eclesiologia,
pneumatologia.


                                 (Texto apresentado e discutido em setembro de 2012)

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A mariologia após o vaticano ii no brasil e na américa latina

  • 1. 1 A Mariologia após o Vaticano II no Brasil e na América Latina. Conquistas e Tendências Texto esquemático do Prof. Afonso Murad, apresentado na sessão brasileiro-portuguesa do 23º Congresso Mariológico-mariano Internacional, promovida Pontifícia Academia Mariana Internacional (Roma, 2012). A ser publicado nos Anais do Evento. I. Luzes de Lumen Gentium 8 para a mariologia: - Apresenta a Mãe de Jesus em interdependência com Cristo e a Igreja. - Traz nova luz para os dogmas marianos e o culto a Maria, a partir de elementos da História da Salvação e da teologia bíblica. - Elabora o discurso mariano de maneira equilibrada, lúcida e contemporânea, que evite a lógica dos privilégios, os silogismos e os argumentos de conveniência. - Estimula os teólogos a continuar seus estudos, para esclarecer e aprofundar temas em fase de maturação (cf. LG 54). Os mariólogos não são meros repetidores do magistério da Igreja. Em comunhão com a Bíblia, a Tradição, o magistério e os Sinais dos Tempos, eles tem a missão de contribuir para o avanço da teologia mariana na Igreja. - Articula-se principalmente com textos bíblicos e patrísticos. Não há referências explícitas a tradicionais tratados de devoção a Maria, nem a mensagens de videntes. - Amplia as características do perfil bíblico-teológico de Maria, até então restrito a três elementos: o sim da anunciação, a maternidade biológica, a união com o filho no momento da cruz. Acrescenta-se: companheira de Jesus, servidora (LG 61), mulher que avança em peregrinação na fé, de Caná até a cruz (LG 58). - Põe as bases teológicas para superar a ambiguidade de títulos marianos como “medianeira” e “corredentora”. Reafirma-se o dado bíblico central: “Jesus é o único mediador”. Maria e os Santos cooperam na missão salvífica de Jesus, o que não os elevam ao mesmo nível de Cristo. - Aponta as múltiplas e complementares relações de Maria com a Igreja: simultaneamente membro, mãe e protótipo da Igreja. - Alerta sobre os equívocos dos extremos do minimalismo (subtrair a presença de Maria do cotidiano dos católicos) e do maximalismo (devocionismo que se afasta da centralidade de Jesus). Nem toda forma de devoção mariana é aceita pela Igreja. Critica-se o afeto estéril e transitório e a vã credulidade. Valoriza-se a atitude de inspirar-se no perfil bíblico-espiritual de Maria (suas virtudes). II. Avanços da mariologia bíblica após o Concílio, refletidos na teologia latinoamericana 1. A grande descoberta: os traços humanos de Maria de Nazaré, tematizados nos evangelhos.
  • 2. 2 2. Perfil lucano de Maria: perfeita discípula (ouve, medita e frutifica a palavra), peregrina na fé, mulher, sinal da opção preferencial de Deus pelos pobres, ungida pelo Espírito Santo. 3. Perfil joanino de Maria: pedagoga da fé (leva os amigos/servidores a fazerem a vontade de Jesus e reúne a comunidade em torno a Ele), perseverante junto à cruz, símbolo da resistência das mulheres e das “mães das dores”, solidária aos crucificados na história, mãe da comunidade. Autores: Li. Boff, Cl. Boff, F. Taborda, A. Murad, M.C. Bingemer e I. Gebara. Ecos em Puebla e em Aparecida. III. Maria no culto cristão: devoção e liturgia 1. Valorização da devoção mariana (que não é somente popular), trazendo à luz seus elementos libertadores. Resgate dos elementos indígenas, africanos e mestiços. 2. Identificação e promoção das devoções locais. 3. Reflexão sobre a figura da Mãe como chave hermenêutica da intensidade do culto a Maria. Tensão e equilíbrio com a centralidade de Jesus. 4. Estímulo à renovação do culto mariano, seguindo os critérios da “MarialisCultus”. 5. Maria, símbolo do feminino de Deus. 6. Discernimento sobre o fenômeno das Aparições no Brasil. Autores: P. Iwashita, Li. Boff, Cl. Boff, L. Boff, M. Gonzáles Dorado, M. Bremen, C. Caliman, R.M.F. Silva, A. Murad. IV. Mariologia dogmática 1. Adoção de um esquema tríplice para leitura e interpretação dos dogmas marianos, superando o esquema dos “privilégios”: o que se diz sobre Maria, o que afirma sobre Deus, o que revela sobre nós. 2. Theotókos: Maria: mãe, educadora e primeira discípula do Filho de Deus encarnado (e não da Trindade). Filha predileta do Pai, templo humano do Espírito Santo. 3. Maria Virgem: associação com a imagem da “Terra Virgem”. Valorização do corpo da mulher. Virgindade como opção de vida. 4. Imaculada. A partir da Graça original e não do Pecado Original. Maria é a imagem realizada da Nova Humanidade sonhada por Deus. Leitura pastoral e ética, articulada com o perfil de “perfeita discípula”. 5. Assunção: Leitura à luz da ressurreição de Jesus. Deus assume e transforma toda a pessoa de Maria (corpo e alma). Tudo o que ser humano constrói de bom neste mundo, em resposta à graça de Deus, será assumido e transformado. Autores: C. Temporelli, Cl. Boff, M.C. Bingemer, L. Boff.
  • 3. 3 V. Tarefas teológicas e pastorais da mariologia no nosso continente 1. Administrar a permanente tensão entre “Maria de Nazaré” e “Maria glorificada”, inspirada na cristologia (o mesmo Jesus que seguimos é o Senhor que adoramos). 2. Colaborar com os bispos no discernimento e acompanhamento dos fenômenos aparicionistas. 3. Denunciar os equívocos e marcar limites ao devocionismo mariano maximalista. 4. Refletir sobre Maria, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso no contexto próprio do continente, com seus interlocutores concretos (diferentes dos europeus). 5. Continuar a elaborar a mariologia em relação aos outros tratados e áreas da teologia: bíblia, trindade, antropologia teológica, cristologia, liturgia, eclesiologia, pneumatologia. (Texto apresentado e discutido em setembro de 2012)