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ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: PATRIMÔNIO VIVO 
Sheila Maria Conde Rocha Campello1 
Max Jucá Kokay2 
Ana Maria Pinto de Lemos3 
Resumo: Este artigo apresenta a proposta de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em Escolas Parque de Brasília, tendo como objetivo o resgate da memória dessa utopia educativa, buscando promover o surgimento de um debate a respeito das possibilidades de atualização de sua proposta pedagógica, mantendo a coerência com seu ideário. A metodologia aplicada ao projeto fundamenta-se em abordagens teóricas direcionadas à interpretação de imagens em dialogo com a educação patrimonial. 
Palavras-chave: Escola Parque. Arte/educação. Educação patrimonial. 
Abstract: This article presents a research project to be developed in Escolas Parque of Brasilia, with the aim of rescuing the memory of its educational utopia, trying to contribute to the emergence of a debate about the possibilities of updating its pedagogical proposal, maintaining coherency with its ideas. The methodology applied to the projects is based on theoretical approaches directed to images interpretation in dialogue with the patrimonial education. 
Keywords: Escola Parque; Art/ education; Patrimonial Education. 
ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: UMA PITADA DE HISTÓRIA 
O projeto das Escolas Parque de Brasília integrou a utopia educativa concebida por Anísio Teixeira para promover a educação integral, pela inserção da arte e de atividades físicas, no contexto da proposta modernista da nova capital brasileira que estava sendo construída por Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950. 
Sua proposta metodológica inovadora integrava o Plano de Construção Escolar, concebido sob inspiração do pensamento filosófico de John Dewey; das concepções 
1 Doutoranda em Artes pela Universidade de Brasília. Professora de Artes da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). E-mail: sheilacampello@arteduca.unb.br 
2 Professor de Artes Visuais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Especialista em Arte- Educação e Tecnologias Contemporâneas. 
3 Servidora administrativa da Universidade de Brasília. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias Contemporâneas.
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metodológicas de Augusto Rodrigues, com suas Escolinhas de Arte; do ideário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e, da proposta pedagógica adotada no Centro Carneiro Ribeiro, popularmente conhecido como Escola Parque da Bahia, que havia sido criado em 1950 pelo próprio Anísio. Por meio dele pretendia-se propor um modelo de educação voltado para a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nada mais apropriado para viabilizar essa renovação escolar pretendida do que implantá-la no contexto de mudanças proposto para essa cidade-laboratório em construção no Planalto Central. 
O plano educacional e o projeto arquitetônico da cidade se harmonizavam, buscando promover a integração plena do educando em sua vida em sociedade, construída sobre essas bases democráticas e distribuída em unidades de vizinhança dotadas dos recursos necessários para atender suas necessidades básicas. Assim, as superquadras integrar-se-iam, de quatro em quatro, compondo as unidades de vizinhança, atendidas por unidades de comércio, lazer e educação escolar, acolhendo, conforme definido no planejamento educacional, quatro Escolas Classe e uma Escola Parque4. Nesta eram desenvolvidas atividades físicas, manuais e intelectuais voltadas ao desenvolvimento integral dos estudantes. 
A Escola Parque representaria a referência cultural da unidade de vizinhança. Nela os alunos deveriam permanecer durante metade da carga horária de oito horas diárias previstas para a educação integral. À medida que a cidade fosse sendo construída, novas unidades de vizinhança completas, com todos os recursos previstos no programa urbanístico, seriam, também, erigidas e, nesse conjunto de escolas, se forjaria a nova sociedade democrática pretendida. 
Mas, esse ideal de ensino não prosperou. Por razões de natureza econômica e política, que não nos cabe aprofundar neste momento, o plano foi sendo desvirtuado. Novas superquadras foram sendo construídas sem serem dotadas de todos os recursos e serviços previstos no projeto original. Apesar do aumento do número de estudantes, a construção de novas Escolas Parque não se concretizou. Outra distorção logo se fez presente: os operários que construíram a nova capital, os candangos, foram sendo deixados à margem do projeto urbanístico, representando um grave desvio dos objetivos do plano de educação democrática. 
Essa nova conjuntura ocasionou a diminuição da carga horária das aulas de arte e a proposta de integração da educação à vida cultural da cidade, missão dada às Escolas Parque, foi sendo esquecida. Paulatinamente o tempo de permanência dos estudantes nessas escolas 
4 As quatro Escolas Classe atendidas pela Escola Parque compõem as escolas tributárias do conjunto.
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foi sendo diminuído. Das quatro horas iniciais, reduziu-se, em 1962, para duas horas, abrindo espaço para a incorporação, por parte da Escola Parque, de mais uma escola tributária. A segunda alteração, proposta para “solucionar” o problema da falta de vagas, previa o atendimento dos estudantes em dias alternados e, por fim, abriu-se mão completamente da proposta original, reduzindo-se o total de 28 unidades projetadas para as 5 que ainda persistem, funcionando de forma totalmente diversa do que previa Anísio Teixeira; e as novas Escolas Classe deixaram de ser vinculadas a uma Escola Parque. Se nos anos iniciais de Brasília a Escola Parque representou um papel de destaque para a cidade, hoje ela perdeu sua aura de centro cultural de uma sociedade que se pretendia democrática. 
Diagnóstico resultante de observações informais no contexto dessas escolas conduziu- nos à formulação de algumas hipóteses: parte dos estudantes pouco sabe sobre a história das Escolas Parque em que estuda e não se sente pertencente a esse espaço. Eles perderam sua identidade com a escola, ou talvez ela não tenha existido. Esse distanciamento traz como consequência a desvalorização do papel da arte no cotidiano escolar e na vida dos estudantes. O ideário da Escola Parque está sendo esquecido e com ele pode estar sendo perdido seu sentido de existir. Não é incomum perceber, na própria rede pública de Brasília, um discurso que denota um sentimento negativo em relação a essas escolas, vistas como um espaço de privilégios concedido a poucos estudantes e professores. 
Tal diagnóstico reforçou algumas inquietações que nos levam às seguintes indagações: qual será o destino das Escolas Parque existentes? Permanecerão como estão? Serão mais valorizadas como bens culturais? Existe alguma possibilidade de sua desativação, para transformá-las em escolas de ensino regular, visando suprir carências que sabemos existir? Qual será o destino desse projeto educacional? Alguns já se encarregaram de salvaguardar o patrimônio material a ele vinculado, cuidando do tombamento do conjunto arquitetônico da primeira escola. E quanto ao seu patrimônio imaterial, representado pela proposta educacional de Anísio Teixeira? Ele corre o risco de ser definitivamente esquecido, sem que tenha sido devidamente conhecido e valorizado pelos próprios estudantes e pela sociedade em geral, ou será devidamente preservado? 
Tais inquietações nos levaram a buscar meios de contribuir para o debate sobre o assunto e, por meio dele, analisar as possibilidades de atualização da proposta, considerando seu ideário face ao presente contexto sócio-histórico? Com esse objetivo foram propostos estudos sobre o tema na última edição do curso Arteduca: Arte, Educação e Tecnologias
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Contemporâneas5, oferecido a distância pelo Grupo Arteduca, da Universidade de Brasília. Foram, também, feitos convites aos professores das Escolas Parque existentes, para que participassem dessa edição do curso, contando com bolsas de estudos. Alguns professores aceitaram o desafio e, como resultado dessa iniciativa, foram desenvolvidos dois projetos de pesquisa considerando-se o contexto de duas Escolas Parque: a da SQN 210/211 e a da SQS 307/308. 
Como consequência natural desse processo, foi formado um grupo, composto por alguns desses participantes, para dar corpo às intenções do Grupo Arteduca, de empreender ações para alcançar os objetivos propostos, que podem ser resumidos da seguinte forma: pretende-se propor um projeto-piloto, a ser aplicado na Escola Parque 210/211 Norte, visando resgatar a memória dessa utopia educativa, considerando suas características e seu ideário, bem como o contexto cultural, histórico e geográfico que as envolveu, desde sua criação, buscando verificar a viabilidade da atualização da proposta para o momento presente. Objetiva-se, ainda, contribuir para o levantamento e preservação de conteúdos significativos, criando um repositório na Internet, um blog que poderá se desdobrar na criação de um portal direcionado ao acolhimento de informações, contribuindo para o aprofundamento de reflexões a respeito do tema, por meio de recursos de interação em tempo real e por meio de fóruns de debates. As estratégias de desenvolvimento desse projeto-piloto baseiam-se nas propostas desenvolvidas pela equipe desta escola, enriquecida por contribuições relacionadas com o estudo da unidade de vizinhança e a criação do portal, por parte de integrantes da equipe da Escola Parque 308 Sul, que atuam junto ao Grupo Arteduca, na UnB. A proposta despertou o interesse dos organizadores de uma das mesas do 21o Congresso da Federação de Arte- educadores do Brasil (CONFAEB) e recebemos o convite para apresentá-la em uma mesa que discutirá a história do ensino da Arte em nosso país. 
Como previsto no primeiro projeto mencionado, o da Escola Parque 210/211 Norte, a aplicação da proposta deverá estruturar-se em uma série de ações metodológicas desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar que envolve professores de Artes Visuais, Música, Teatro, lotados naquela escola, buscando uma aproximação futura com os professores 
5 O Grupo Arteduca é um grupo de pesquisa sobre arte/educação em rede, vinculado ao Laboratório de Pesquisa em Arte Computacional (MidiaLab), do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. O curso é oferecido a distância pelo Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília, por meio de uma proposta de aprendizagem colaborativa, desenvolvida nem ambiente virtual de aprendizagem. Sobre o assunto, ver www.arteduca.unb.br
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de Educação Física e com o corpo docente das escolas tributárias. Sendo assim, tornou-se necessário buscar referenciais significativos sobre os conceitos de inter/transdisciplinaridade e sobre a arte/educação, considerando tais linguagens artísticas. Por se tratar de uma pesquisa que envolve uma proposta educacional planejada para ser implantada em uma cidade considerada como um bem cultural da humanidade, julgou-se pertinente considerar princípios da educação patrimonial, apresentados por Horta, Grunberg e Monteiro (1999): observação, registro, exploração e apropriação, detalhados oportunamente. 
Foram, ainda, buscados referenciais definidos conforme os seguintes campos e temas da pesquisa: Anísio Teixeira e o projeto das Escolas Parque; as relações entre utopia educativa e o plano urbanístico da Nova Capital; abordagens teóricas relacionadas com arte/educação; interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e, o uso das tecnologias digitais na pesquisa e na criação do portal que abrigará o projeto. 
Não cabe neste momento detalhar todos esses temas. Apresentaremos, de forma bem resumida, alguns dados referentes aos dois primeiros, deixando os dois últimos para outra oportunidade. O primeiro deles foi apresentado, ainda que superficialmente, na contextualização histórica introdutória. Complementaremos o assunto abordando as relações da utopia educativa de Anísio Teixeira com os planos arquitetônico e urbanístico, propostos por Oscar Niemeyer e Lucio Costa, buscando nas unidades de vizinhança os fundamentos da proposta. Nas ideias do inglês Ebenezer Howard (1850-1928), considerado precursor do urbanismo, encontramos as primeiras descrições de uma cidade utópica, onde as pessoas e a natureza conviviam de forma harmônica. Sua publicação, intitulada Garden Cities of Tomorrow, de 1898, deu início a um movimento chamado cidades-jardins, cujo modelo consistia em uma comunidade autônoma, cercada por um cinturão verde, em que o princípio fundamental estaria muito próximo ao conceito atual de ecocidade, onde as pessoas aproveitariam as vantagens do campo, sem ter que passar pelas desvantagens da cidade grande. Sob a influência desse movimento, Clarence Arthur Perry (1872-1944), arquiteto e urbanista americano, apresentou pela primeira vez o conceito de unidade de vizinhança, em 1923, postulando que os equipamentos urbanos deveriam ser dispostos de tal forma que as projeções habitacionais não fossem interrompidas por autovias, mas, sim, tangenciadas, permitindo a preservação da vida comunitária e a proteção e segurança das crianças. Assim,
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as crianças poderiam ir e vir da escola sozinhas, sem se cansar. A escola primária é considerada o equipamento básico principal e orientador para a construção de uma unidade de vizinhança, que traz no foco social a base do seu conceito (FERRARI, 1991, p. 301). Eis aí a origem das unidades de vizinhança presentes na concepção de Brasília. 
Dissertando a respeito das escalas que fundamentam o projeto urbanístico de Lucio Costa, Francisco Lauande (2007) afirma que é preciso que se compreendam as duas escalas que o compõem: a residencial e a monumental. A escala monumental abriga a dimensão coletiva, com seus marcos institucionais. A residencial representa a escala humana no nível individual. As unidades de vizinhança foram pensadas para atender às necessidades humanas, com boa qualidade. Dessa forma, relata o autor, as superquadras foram implantadas observando-se a curva de nível do terreno, prevendo o gabarito de seis andares, de tal forma que a altura máxima da cobertura dos prédios se igualaria à copa das árvores ao longo da curvatura do terreno, garantindo a qualidade do ambiente habitado pelos indivíduos. 
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em entrevista recente, no programa Casa Brasileira, transmitido pelo canal GNT, ao comentar sobre o trabalho de Lúcio Costa, comprova essa preocupação com a escala humana, presente no projeto de Brasília, narrando que, quando perguntado sobre o porquê de ter adotado os seis andares como gabarito para os prédios residenciais do Plano Piloto, respondia que este seria o limite possível para que a mãe pudesse se comunicar com seu filho, pela janela, quando necessário. 
Tais imagens podem representar perfeitamente os fundamentos do conceito de unidade de vizinhança que se aplica à concepção do projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília. Tal conceito transparece na composição das primeiras superquadras residenciais – SQS 107 e 108 – cuja construção foi iniciada em 1959, sob o comando de Oscar Niemeyer, então diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP). Em composição com as vizinhas 307 e 308, tal conjunto formou a primeira unidade de vizinhança, dotada dos equipamentos previstos no projeto urbanístico de Lucio Costa – escola, igreja, comércio, piscina (clube) e cinema. Estava ali composto o modelo que se pretendia para provocar um estilo próprio de vida na capital federal, estendendo-se para todo o Plano Piloto, onde seus moradores encontrariam, dentro daquele perímetro, tudo o que fosse necessário para o seu dia a dia. Os prédios, construídos sobre pilotis, permitiriam a democratização do espaço, facilitando a circulação das pessoas e a convivência dos moradores nesses espaços comuns, que perdiam seu caráter privado.
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O plano arquitetônico de Lucio Costa fazia crer que a cidade reunia condições ideais para a implantação de um sistema integrado de educação. O projeto de educação pública concebido para Brasília foi o primeiro a se ocupar de uma distribuição espacial democrática dos centros escolares. Assim, as escolas primárias seriam edificadas no interior das quadras, de modo que as crianças não precisassem se deslocar por longos trajetos para alcançá-las. Anísio Teixeira convenceu Lucio Costa a destinar o espaço que era previsto para a construção de escolas secundárias, para a criação das escolas parque, que seriam como “universidades infantis”. 
Figura 1 - Igrejinha e comercial da entrequadra 108/107 – 307/308 Sul. 
Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>. 
Figura 2 – Vista da Igrejinha. 
Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.
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Figura 3 - Croquis dos blocos de uma superquadra. Fonte: Nanci Corbioli. Publicada originalmente em PROJETODESIGN, edição 334, dez. 2007. Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008.html>. 
A estrutura da cidade compreendia uma sequência de grandes quadras, densamente arborizadas, as superquadras, nas quais seriam edificados os blocos residenciais dispostos de maneira variada. O tráfego de veículos e trânsito de pedestres não se entrecruzariam, garantindo especial atenção ao acesso seguro à escola primária. As escolas parque ficariam nas entrequadras, ao centro da unidade de vizinhança. 
Em consonância com essa concepção urbanística, a proposta de Anísio Teixeira descrevia especificações relativas às construções das escolas, detalhando suas características físicas. A escola não se limitaria ao ensino primário, mas se referiria a diferentes níveis de escolarização, desde o elementar ao superior, seguindo uma continuidade. O ideal para a escola seria manter a educação caminhando junto à sociedade, acompanhando as mudanças que estavam ocorrendo graças ao acelerado desenvolvimento científico e tecnológico, formando um novo homem, de acordo com a vida moderna. Anísio acreditava que as necessidades da civilização implicavam em obrigações à escola, aumentando suas atribuições para atender as necessidades específicas de ensino e de educação e também ao convívio social. 
Figura 4 - Construção do Cine Brasília 
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal.
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Figura 5 - Canteiro de obras da Escola Parque 307/308 Sul – 1959 
Fonte: Arquivo Brasília. 
Disponível em: <http://www.facebook.com/photo.php?fbid=242316779218174&set= a.239102686206250.50515.177474179035768&type=1&theaterjn>. 
O primeiro conjunto de superquadras, projetado e executado, foi o único que seguiu o projeto original da nova capital. Ainda assim, percebe-se que não conseguiu se manter dentro da utopia de seus idealizadores. Isso é claramente perceptível quando nos deparamos com a realidade que hoje se apresenta na vida cotidiana da cidade e, em especial, da população que habita essa unidade de vizinhança modelo. No percurso natural de desenvolvimento da cidade, a utopia foi sendo gradativamente substituída pela realidade cotidiana e é bem provável que grande parte da comunidade que a habita desconheça o ideário em que ela foi concebida. 
Sobre o assunto, Max Jucá Kokay et al. concluem que as novas condições conjunturais e estruturais de ordem política, administrativa e social, que acompanharam o processo de implantação da cidade 
levaram à gradual descaracterização do plano de educação elaborado por Anísio Teixeira. Dentre os fatores que desencadearam essas alterações, podemos citar: a situação política entre os anos de 1961 e 1964; a explosão demográfica de Brasília, causando descompasso entre a implementação do plano e as demandas educacionais; a paralisação das obras públicas durante o governo de Jânio Quadros [sob] alegação do alto custo do empreendimento (construção de novas unidades); redução da jornada de trabalho dos docentes para seis horas; a redução do período de permanência diária dos alunos na instituição para duas horas; carência de docentes para o ensino primário, em decorrência da desmotivação de possíveis candidatos à transferência para Brasília; falta de prédios escolares; [...] greve e demissões de docentes; perseguição ideológica; crise política e instauração da ditadura militar (KOKAY et al., 2012, p. 25).
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O aumento da densidade demográfica, acarretando aumento da frota de veículos, descaracterizou o cotidiano das unidades de vizinhança e de toda a cidade. A ocupação das superquadras passou a ser feita de forma bem diferente da imaginada por Lucio Costa, que previa a alocação de pessoas de distintas classes sociais em seus blocos, vivendo porta com porta. Para completar o quadro, os condomínios de moradores das superquadras passaram a limitar o acesso aos pilotis dos blocos, criando “jardins” cercados, obstruindo a livre circulação de pedestres. As Escolas Classe e a Escola Parque passaram a ser frequentadas, em sua maioria, por crianças que residiam fora da unidade de vizinhança, visto que seus antigos moradores envelheceram e os novos, com maior poder aquisitivo, preferiram matricular seus filhos em escolas particulares. 
Tais distorções, segundo Lauande (2007), encontram respaldo nas próprias características do urbanismo que, 
assim como as leis, é incapaz de eliminar determinados vícios da vida social. Sem embargo, os equívocos estéticos são tradutores fiéis das doenças que afligem a sociedade. O arquiteto é, também, um construtor de símbolos, transmissores de valores convencionados pela sociedade cuja atividade deve ter uma perspectiva direcionada para uma crítica comprometida com a realidade de sua época. A sua relação, conflitante ou não, com o poder, como consequência, torna-se fundamental tanto quanto inevitável. 
KOKAY et al. (2012) concluem que, apesar de terem sofrido descaracterizações e adaptações, as Escolas Parque de Brasília continuam representando possibilidades de viabilização da educação integral e integradora, por meio da formação artística e de expressão corporal em prol da democratização do ensino na rede pública. Acreditamos que estes são alguns dos ecos dessa utopia pedagógica que pretendemos perseguir. Para tanto deveremos apurar nossos sentidos deixando que esses ecos de um patrimônio, ainda vivo, nos afete. 
Tais ecos também podem ser percebidos no contexto cultural, na narrativa de representantes das gerações que aqui cresceram. É recorrente, por exemplo, ouvir relatos por parte dos contemporâneos da “geração do rock”, a respeito da condição agregadora proporcionada pelo projeto urbanístico das superquadras, que permitia uma rica convivência entre jovens amigos. Nos pilotis dos blocos do Plano Piloto, crianças brincavam e jovens se reuniam para tocar violão, formar bandas, ou apenas para conversar. Hoje, roqueiros ou não, atribuem isso ao espaço público criado pelos seus projetistas e idealizadores. Isso vem comprovar que a unidade de vizinhança, mesmo não tendo sido repetida da forma original, como nesse conjunto de superquadras aqui citado, possibilita, sim, uma convivência mais humana, com uma melhor qualidade de vida para os seus moradores.
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Apresentaremos a seguir algumas informações sobre as abordagens metodológicas previstas no projeto da equipe da Escola Parque 210 Norte, que serão incorporadas ao projeto- piloto. 
O processo, relatado no referido projeto (KOKAY et al., 2012) será iniciado por meio da realização de pesquisas na Internet, baseadas em palavras-chave, que deverão conduzir os estudantes a novos conceitos, proporcionando condições para que eles se percebam como coautores na construção deste projeto. Durante o exercício investigativo eles serão estimulados ao compartilhamento de descobertas, valorizando a colaboração e o companheirismo entre os alunos. Em um segundo momento, as pesquisas exploratórias iniciais serão complementadas na biblioteca da escola, com o objetivo de aprofundar estudos sobre o tema e de incentivar a realização de investigação em diferentes tipos de mídia, valorizando, também, a leitura de livros. Nesse processo serão consideradas ações previstas na educação patrimonial. 
Tais ações envolvem pesquisas etnográficas, baseadas em métodos que incluem a observação participante, a realização de entrevistas abertas, o registro e a exploração de dados e a apropriação de resultados obtidos, para fundamentar análises de possibilidades metodológicas. Serão incentivados os estudos interdisciplinares, ou transdisciplinares, envolvendo a arte/educação, por meio da Abordagem Triangular, sistematizada por Ana Mae Barbosa, que propõe estudos baseados em ações de contextualização, leitura imagética e do fazer artístico. Visando fundamentar tais ações, serão buscados subsídios em textos de Terezinha Losada, que apresenta uma interessante síntese de vários métodos relacionados com a compreensão da História da Arte, baseados na interpretação de características e tendências percebidas nas obras. Reproduz-se a seguir um quadro no qual a autora apresenta uma síntese de vários métodos da História da Arte, com suas características e tendências6. 
Tabela 1 - Síntese de abordagens metodológicas para interpretação imagética. MÉTODO CARACTERÍSTICAS TENDÊNCIAS Biográfico 
relação: arte e vida do artista 
 história de vida (Vassari) 
 influência de fatores psíquicos (Freud / Lacan) Arqueológico 
pesquisa de campo e análise científica dos 
 escritiva (Caylus) 
 desdobramentos interpretativos (Winckelman) 
6 O quadro reproduzido integra o conteúdo de um dos módulos de estudos que compõem a Série GTArtes, produzido para a Licenciatura em Artes Visuais do Programa Pró-Licenciatura.
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objetos Sociológico 
relação: arte e sociedade 
 influência de fatores naturais (Taine) 
 influência de fatores econômicos (marxismo) 
 influência de fatores culturais (neomarxismo e pós-modernismo) Formalismo 
ênfase na forma 
 relação forma e estilo (Wölfflin) 
 percepção visual (Gestalt) Iconologia 
ênfase na imagem 
 conteúdo simbólico/cultural da imagem 
(Riegl, Warburg, Cassier, Panofsky) Estruturalismo 
análise baseada em categorias e estruturas teóricas 
 teorias da linguagem (Peirce, Saussure, seguidores) 
 teorias sociais (marxismo, antropologia) 
 teorias psicológicas (psicanálise, Gestalt) Pós-Estruturalismo 
ênfase na diferença ou pluralidade – microteorias 
(gênero, etnia, idade, etc.) 
 teorias filosóficas (pós-estruturalismo francês) 
 teorias sociais e artísticas sobre a pós- modernidade (T.J. Clark, Griselda Pollock, Gen Doy) Dos Peritos/Crítica 
opinativa, interpretativa 
(em última instância, orienta as atividades do historiador, do crítico, como também do público) 
 observação de detalhes – método moreliano 
 1950 – purismo arte abstrata (Greenberg) 
 1960 – experimentalismo vanguardas (arte e vida) 
 1980 – pós-modernismo (paródia, pastiche, multiculturalismo) 
Em conformidade com esse pensamento inter/transdisciplinar, um site criado na escola pode ser explorado conjuntamente por várias disciplinas, para disponibilização de conteúdos e interação entre os participantes, demonstrando que o conhecimento não é fragmentado, mas sim passível de conexão. 
A metodologia proposta por Denise Soares dos Santos, que integra o grupo da Escola Parque 210 Norte, para ser aplicada aos estudos relacionados com a música fundamentar-se-á no modelo TECLA, proposto pelo músico e educador inglês Keith Swanwick, e envolvem técnica, execução, composição, literatura e apreciação. Serão propostas, também, atividades relativas à sonorização de imagens, baseadas na Paisagem Sonora de Murray Schefer, surgidas para construir o universo resultante de experiências e de conhecimentos adquiridos, “numa integração entre as artes por meio da utilização das tecnologias na produção de sons, na captura de imagens e na fusão de ambas” (KOKAY et al., 2012). 
Ao final desta etapa inicial da pesquisa, os alunos deverão compreender as origens do projeto das Escolas Parque, percebendo que ele é anterior à existência de Brasília,
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descobrindo quem foi o autor da proposta e conhecendo as influências que esse proponente sofreu das teses deweyanas, após realizar estudos no exterior. 
Três recortes de tempo definirão a continuidade da investigação, nas etapas subsequentes. São eles: recorte 1 – o cenário cultural brasileiro no período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque; recorte 2 – do período em que foi criada a escola em que eles estudam, a Escola Parque 210 Norte; recorte 3 – o momento atual das Escolas Parque de Brasília. 
No recorte 1, serão propostas atividades relativas ao cenário cultural do Brasil do período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque inaugurada, em 1960, na 308 Sul. Será abordada a história da cidade e da escola, considerando artes plásticas, teatro, cinema, música, moda e comportamento. As imagens coletadas e produzidas ao longo dessa pesquisa serão objeto de análise e comparações, baseadas na Abordagem Triangular, nos passos do Image Watching e em outras abordagens interpretativas da produção artística. Para finalização das atividades referentes ao primeiro recorte será realizado um evento intitulado Festival Bossa Nova, dedicado à audição de músicas e a apresentação dos trabalhos referentes ao recorte temporal, relacionando-o com o contexto histórico analisado. 
No recorte 2, relativo ao período em que foi criada a Escola Parque 210 Norte, serão realizadas pesquisas a respeito da transição do cenário em que foi implantada a primeira Escola Parque, abordando o período da ditadura militar, citando os “anos de chumbo”, a rebeldia e a repressão dos anos 1970, mencionando até chegar ao período da inauguração da escola, ocorrido na década de 1980. Será analisado esse contexto cultural, mencionando o processo de redemocratização que resultou na redação e a promulgação da nova Constituição Brasileira. Esse enfoque foi considerado necessário para que os estudantes possam compreender os motivos que levaram à interrupção do processo de implantação do programa educacional, abortando um projeto previsto para servir de modelo para todo o Brasil. Está prevista uma visita ao Congresso Nacional, onde manterão contato com a realidade da política brasileira, de ontem e hoje. No campo cultural, pretende-se ressaltar a condição atribuída a Brasília como a Capital do Rock, propondo atividades como: a audição e interpretação de músicas das bandas da cidade; a experimentação de instrumentos eletrônicos, explorando as batidas do rock; a produção de ilustrações, histórias em quadrinhos e cartazes; a experimentação cênica (caracterização, postura, dança), culminando com a realização de um Festival de Rock (KOKAY et al., 2012, p. 47-48).
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No recorte 3, referente ao momento atual, está prevista a realização de uma “caminhada patrimonial” pela Escola Parque 210 Norte e arredores, observando, registrando e explorando impressões, por meio da produção de textos, desenhos e fotografias. Dessa forma poderão identificar as diferenças entre esta e a Escola Parque 308 sul, comparando suas características e as de suas respectivas unidades de vizinhança. 
A equipe propõe o uso do material resultante das pesquisas na elaboração de roteiros e criação de histórias em quadrinhos e animações, que poderão ser produzidas por meio do uso de programas computacionais. Nelas, os estudantes poderiam apresentar a “Escola Parque dos seus sonhos”, planejada com base nos conhecimentos adquiridos no processo. 
Como encerramento do projeto, propõe-se a realização do Festival Escola Parque: patrimônio vivo, quando serão realizadas exposições, instalações e apresentações artísticas contemplando a produção resultante dos três recortes temporais. Nessa mesma etapa pretendemos lançar o portal do projeto, divulgando-o como um canal aberto para a comunicação com a comunidade (KOKAY et al., 2012, p. 48). 
É importante frisar que todo esse planejamento será detalhado e ajustado, conforme avaliações processuais realizadas. 
Como desdobramento, o grupo lembra que será importante contar com novos parceiros, ao final do desenvolvimento do projeto-piloto, abrindo possibilidade de adesão de professores das escolas tributárias em nova experiência a ser desenvolvida nos semestres subsequentes. Tal adesão poderia viabilizar a promoção da interdisciplinaridade pretendida, por meio de contribuições em ações que envolvam suas respectivas áreas de conhecimento. 
No percurso, ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa, quando nos ocupávamos de buscar informações a respeito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), nos deparamos com a homenagem prestada pela Câmara dos Deputados, em sessão solene, no dia 10 de julho de 2012, celebrando os seus 80 anos. Nada mais oportuno do que registrarmos, aqui, essa homenagem, como uma reflexão importante sobre a educação no Brasil. Nesse sentido, gostaríamos de destacar em nossas considerações finais os seguintes trechos publicados em matéria da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília sobre essa homenagem: 
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. [...] O alerta, factível para os dias atuais, foi feito em 1932 por um grupo de notáveis no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento que representou um marco ao
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apresentar uma proposta inédita: educação laica, pública, universal e de qualidade. “O maior legado do manifesto foi ter retirado a educação do sistema censitário que ainda existia. A educação não poderia mais ser um privilégio de classe, mas um fator para o próprio projeto de desenvolvimento do país”, disse o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa Junior, que participou da mesa da sessão solene. 
Nessa seção solene reiterou-se a necessidade de ampliação dos recursos públicos destinados à educação que já era reclamada pelos pioneiros do manifesto há 80 anos e que foi aprovada recentemente, correspondendo a 10% do PIB. Esperamos que não só se cumpra essa meta, mas que sua implantação nos proporcione uma real e crescente qualidade no ensino. 
Neste trabalho, como já foi dito, pretendemos não só fazer um resgate a partir das memórias da comunidade escolar, como também registrar todo o processo de pesquisa em um site que abrigará, inicialmente, o resultado obtido na aplicação do projeto-piloto na Escola Parque 210/211 Sul. A partir desse site, construído de forma coletiva, pretende-se, também, abrigar informações coletadas sobre as demais Escolas Parque do Distrito Federal, em um processo contínuo de análise de possibilidades de formação e construção de novas unidades de vizinhança em rede, no sentido de incentivar o resgate do projeto de educação original da Escola Parque de Anísio Teixeira, em consonância com o plano urbanístico de Brasília, de Lucio Costa. 
Na relação entre presente e passado, podemos perceber o quanto o resgate da memória se torna importante para a construção de uma educação mais sólida. O reconhecimento dessa relação, necessariamente, tornará a sociedade mais atenta às suas possibilidades de conquista pela sua participação efetiva nesse processo. A utopia deve ser perseguida, sempre... 
Referências bibliográficas 
FERRARI, Celson. Planejamento municipal integrado. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999. 
KOKAY, Max Jucá et al. Escola Parque: patrimônio vivo. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas) – Grupo Arteduca, do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília, Brasília. 2012. 
LAUANDE, Francisco. “O projeto para o Plano-Piloto e o pensamento de Lúcio Costa”. Revista virtual Vitruvius, n. 087.08, ano 8, ago. 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/223>. Acesso em: 19 set. 2012.
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LEMOS, Ana Maria Pinto de et al. Escola Parque de Brasília: resgate de memórias para a construção de uma nova unidade de vizinhança. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas) – Grupo Arteduca, do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília, Brasília. 2012. 
MOREIRA, Terezinha Maria Losada. “Teoria da Arte”. CAMPELLO, Sheila; GUIMARÃES, Leda (orgs.). Módulo 8 – Série GTArtes – Programa Pró-licenciatura. Rio de Janeiro: Duo Print, 2009. 
______. A interpretação da imagem: subsídios para o ensino da arte. Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2011.

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Resgatar a memória das Escolas Parque de Brasília

  • 1. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 43 ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: PATRIMÔNIO VIVO Sheila Maria Conde Rocha Campello1 Max Jucá Kokay2 Ana Maria Pinto de Lemos3 Resumo: Este artigo apresenta a proposta de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em Escolas Parque de Brasília, tendo como objetivo o resgate da memória dessa utopia educativa, buscando promover o surgimento de um debate a respeito das possibilidades de atualização de sua proposta pedagógica, mantendo a coerência com seu ideário. A metodologia aplicada ao projeto fundamenta-se em abordagens teóricas direcionadas à interpretação de imagens em dialogo com a educação patrimonial. Palavras-chave: Escola Parque. Arte/educação. Educação patrimonial. Abstract: This article presents a research project to be developed in Escolas Parque of Brasilia, with the aim of rescuing the memory of its educational utopia, trying to contribute to the emergence of a debate about the possibilities of updating its pedagogical proposal, maintaining coherency with its ideas. The methodology applied to the projects is based on theoretical approaches directed to images interpretation in dialogue with the patrimonial education. Keywords: Escola Parque; Art/ education; Patrimonial Education. ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: UMA PITADA DE HISTÓRIA O projeto das Escolas Parque de Brasília integrou a utopia educativa concebida por Anísio Teixeira para promover a educação integral, pela inserção da arte e de atividades físicas, no contexto da proposta modernista da nova capital brasileira que estava sendo construída por Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950. Sua proposta metodológica inovadora integrava o Plano de Construção Escolar, concebido sob inspiração do pensamento filosófico de John Dewey; das concepções 1 Doutoranda em Artes pela Universidade de Brasília. Professora de Artes da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). E-mail: sheilacampello@arteduca.unb.br 2 Professor de Artes Visuais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Especialista em Arte- Educação e Tecnologias Contemporâneas. 3 Servidora administrativa da Universidade de Brasília. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias Contemporâneas.
  • 2. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 44 metodológicas de Augusto Rodrigues, com suas Escolinhas de Arte; do ideário do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova e, da proposta pedagógica adotada no Centro Carneiro Ribeiro, popularmente conhecido como Escola Parque da Bahia, que havia sido criado em 1950 pelo próprio Anísio. Por meio dele pretendia-se propor um modelo de educação voltado para a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nada mais apropriado para viabilizar essa renovação escolar pretendida do que implantá-la no contexto de mudanças proposto para essa cidade-laboratório em construção no Planalto Central. O plano educacional e o projeto arquitetônico da cidade se harmonizavam, buscando promover a integração plena do educando em sua vida em sociedade, construída sobre essas bases democráticas e distribuída em unidades de vizinhança dotadas dos recursos necessários para atender suas necessidades básicas. Assim, as superquadras integrar-se-iam, de quatro em quatro, compondo as unidades de vizinhança, atendidas por unidades de comércio, lazer e educação escolar, acolhendo, conforme definido no planejamento educacional, quatro Escolas Classe e uma Escola Parque4. Nesta eram desenvolvidas atividades físicas, manuais e intelectuais voltadas ao desenvolvimento integral dos estudantes. A Escola Parque representaria a referência cultural da unidade de vizinhança. Nela os alunos deveriam permanecer durante metade da carga horária de oito horas diárias previstas para a educação integral. À medida que a cidade fosse sendo construída, novas unidades de vizinhança completas, com todos os recursos previstos no programa urbanístico, seriam, também, erigidas e, nesse conjunto de escolas, se forjaria a nova sociedade democrática pretendida. Mas, esse ideal de ensino não prosperou. Por razões de natureza econômica e política, que não nos cabe aprofundar neste momento, o plano foi sendo desvirtuado. Novas superquadras foram sendo construídas sem serem dotadas de todos os recursos e serviços previstos no projeto original. Apesar do aumento do número de estudantes, a construção de novas Escolas Parque não se concretizou. Outra distorção logo se fez presente: os operários que construíram a nova capital, os candangos, foram sendo deixados à margem do projeto urbanístico, representando um grave desvio dos objetivos do plano de educação democrática. Essa nova conjuntura ocasionou a diminuição da carga horária das aulas de arte e a proposta de integração da educação à vida cultural da cidade, missão dada às Escolas Parque, foi sendo esquecida. Paulatinamente o tempo de permanência dos estudantes nessas escolas 4 As quatro Escolas Classe atendidas pela Escola Parque compõem as escolas tributárias do conjunto.
  • 3. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 45 foi sendo diminuído. Das quatro horas iniciais, reduziu-se, em 1962, para duas horas, abrindo espaço para a incorporação, por parte da Escola Parque, de mais uma escola tributária. A segunda alteração, proposta para “solucionar” o problema da falta de vagas, previa o atendimento dos estudantes em dias alternados e, por fim, abriu-se mão completamente da proposta original, reduzindo-se o total de 28 unidades projetadas para as 5 que ainda persistem, funcionando de forma totalmente diversa do que previa Anísio Teixeira; e as novas Escolas Classe deixaram de ser vinculadas a uma Escola Parque. Se nos anos iniciais de Brasília a Escola Parque representou um papel de destaque para a cidade, hoje ela perdeu sua aura de centro cultural de uma sociedade que se pretendia democrática. Diagnóstico resultante de observações informais no contexto dessas escolas conduziu- nos à formulação de algumas hipóteses: parte dos estudantes pouco sabe sobre a história das Escolas Parque em que estuda e não se sente pertencente a esse espaço. Eles perderam sua identidade com a escola, ou talvez ela não tenha existido. Esse distanciamento traz como consequência a desvalorização do papel da arte no cotidiano escolar e na vida dos estudantes. O ideário da Escola Parque está sendo esquecido e com ele pode estar sendo perdido seu sentido de existir. Não é incomum perceber, na própria rede pública de Brasília, um discurso que denota um sentimento negativo em relação a essas escolas, vistas como um espaço de privilégios concedido a poucos estudantes e professores. Tal diagnóstico reforçou algumas inquietações que nos levam às seguintes indagações: qual será o destino das Escolas Parque existentes? Permanecerão como estão? Serão mais valorizadas como bens culturais? Existe alguma possibilidade de sua desativação, para transformá-las em escolas de ensino regular, visando suprir carências que sabemos existir? Qual será o destino desse projeto educacional? Alguns já se encarregaram de salvaguardar o patrimônio material a ele vinculado, cuidando do tombamento do conjunto arquitetônico da primeira escola. E quanto ao seu patrimônio imaterial, representado pela proposta educacional de Anísio Teixeira? Ele corre o risco de ser definitivamente esquecido, sem que tenha sido devidamente conhecido e valorizado pelos próprios estudantes e pela sociedade em geral, ou será devidamente preservado? Tais inquietações nos levaram a buscar meios de contribuir para o debate sobre o assunto e, por meio dele, analisar as possibilidades de atualização da proposta, considerando seu ideário face ao presente contexto sócio-histórico? Com esse objetivo foram propostos estudos sobre o tema na última edição do curso Arteduca: Arte, Educação e Tecnologias
  • 4. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 46 Contemporâneas5, oferecido a distância pelo Grupo Arteduca, da Universidade de Brasília. Foram, também, feitos convites aos professores das Escolas Parque existentes, para que participassem dessa edição do curso, contando com bolsas de estudos. Alguns professores aceitaram o desafio e, como resultado dessa iniciativa, foram desenvolvidos dois projetos de pesquisa considerando-se o contexto de duas Escolas Parque: a da SQN 210/211 e a da SQS 307/308. Como consequência natural desse processo, foi formado um grupo, composto por alguns desses participantes, para dar corpo às intenções do Grupo Arteduca, de empreender ações para alcançar os objetivos propostos, que podem ser resumidos da seguinte forma: pretende-se propor um projeto-piloto, a ser aplicado na Escola Parque 210/211 Norte, visando resgatar a memória dessa utopia educativa, considerando suas características e seu ideário, bem como o contexto cultural, histórico e geográfico que as envolveu, desde sua criação, buscando verificar a viabilidade da atualização da proposta para o momento presente. Objetiva-se, ainda, contribuir para o levantamento e preservação de conteúdos significativos, criando um repositório na Internet, um blog que poderá se desdobrar na criação de um portal direcionado ao acolhimento de informações, contribuindo para o aprofundamento de reflexões a respeito do tema, por meio de recursos de interação em tempo real e por meio de fóruns de debates. As estratégias de desenvolvimento desse projeto-piloto baseiam-se nas propostas desenvolvidas pela equipe desta escola, enriquecida por contribuições relacionadas com o estudo da unidade de vizinhança e a criação do portal, por parte de integrantes da equipe da Escola Parque 308 Sul, que atuam junto ao Grupo Arteduca, na UnB. A proposta despertou o interesse dos organizadores de uma das mesas do 21o Congresso da Federação de Arte- educadores do Brasil (CONFAEB) e recebemos o convite para apresentá-la em uma mesa que discutirá a história do ensino da Arte em nosso país. Como previsto no primeiro projeto mencionado, o da Escola Parque 210/211 Norte, a aplicação da proposta deverá estruturar-se em uma série de ações metodológicas desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar que envolve professores de Artes Visuais, Música, Teatro, lotados naquela escola, buscando uma aproximação futura com os professores 5 O Grupo Arteduca é um grupo de pesquisa sobre arte/educação em rede, vinculado ao Laboratório de Pesquisa em Arte Computacional (MidiaLab), do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. O curso é oferecido a distância pelo Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília, por meio de uma proposta de aprendizagem colaborativa, desenvolvida nem ambiente virtual de aprendizagem. Sobre o assunto, ver www.arteduca.unb.br
  • 5. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 47 de Educação Física e com o corpo docente das escolas tributárias. Sendo assim, tornou-se necessário buscar referenciais significativos sobre os conceitos de inter/transdisciplinaridade e sobre a arte/educação, considerando tais linguagens artísticas. Por se tratar de uma pesquisa que envolve uma proposta educacional planejada para ser implantada em uma cidade considerada como um bem cultural da humanidade, julgou-se pertinente considerar princípios da educação patrimonial, apresentados por Horta, Grunberg e Monteiro (1999): observação, registro, exploração e apropriação, detalhados oportunamente. Foram, ainda, buscados referenciais definidos conforme os seguintes campos e temas da pesquisa: Anísio Teixeira e o projeto das Escolas Parque; as relações entre utopia educativa e o plano urbanístico da Nova Capital; abordagens teóricas relacionadas com arte/educação; interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e, o uso das tecnologias digitais na pesquisa e na criação do portal que abrigará o projeto. Não cabe neste momento detalhar todos esses temas. Apresentaremos, de forma bem resumida, alguns dados referentes aos dois primeiros, deixando os dois últimos para outra oportunidade. O primeiro deles foi apresentado, ainda que superficialmente, na contextualização histórica introdutória. Complementaremos o assunto abordando as relações da utopia educativa de Anísio Teixeira com os planos arquitetônico e urbanístico, propostos por Oscar Niemeyer e Lucio Costa, buscando nas unidades de vizinhança os fundamentos da proposta. Nas ideias do inglês Ebenezer Howard (1850-1928), considerado precursor do urbanismo, encontramos as primeiras descrições de uma cidade utópica, onde as pessoas e a natureza conviviam de forma harmônica. Sua publicação, intitulada Garden Cities of Tomorrow, de 1898, deu início a um movimento chamado cidades-jardins, cujo modelo consistia em uma comunidade autônoma, cercada por um cinturão verde, em que o princípio fundamental estaria muito próximo ao conceito atual de ecocidade, onde as pessoas aproveitariam as vantagens do campo, sem ter que passar pelas desvantagens da cidade grande. Sob a influência desse movimento, Clarence Arthur Perry (1872-1944), arquiteto e urbanista americano, apresentou pela primeira vez o conceito de unidade de vizinhança, em 1923, postulando que os equipamentos urbanos deveriam ser dispostos de tal forma que as projeções habitacionais não fossem interrompidas por autovias, mas, sim, tangenciadas, permitindo a preservação da vida comunitária e a proteção e segurança das crianças. Assim,
  • 6. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 48 as crianças poderiam ir e vir da escola sozinhas, sem se cansar. A escola primária é considerada o equipamento básico principal e orientador para a construção de uma unidade de vizinhança, que traz no foco social a base do seu conceito (FERRARI, 1991, p. 301). Eis aí a origem das unidades de vizinhança presentes na concepção de Brasília. Dissertando a respeito das escalas que fundamentam o projeto urbanístico de Lucio Costa, Francisco Lauande (2007) afirma que é preciso que se compreendam as duas escalas que o compõem: a residencial e a monumental. A escala monumental abriga a dimensão coletiva, com seus marcos institucionais. A residencial representa a escala humana no nível individual. As unidades de vizinhança foram pensadas para atender às necessidades humanas, com boa qualidade. Dessa forma, relata o autor, as superquadras foram implantadas observando-se a curva de nível do terreno, prevendo o gabarito de seis andares, de tal forma que a altura máxima da cobertura dos prédios se igualaria à copa das árvores ao longo da curvatura do terreno, garantindo a qualidade do ambiente habitado pelos indivíduos. O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em entrevista recente, no programa Casa Brasileira, transmitido pelo canal GNT, ao comentar sobre o trabalho de Lúcio Costa, comprova essa preocupação com a escala humana, presente no projeto de Brasília, narrando que, quando perguntado sobre o porquê de ter adotado os seis andares como gabarito para os prédios residenciais do Plano Piloto, respondia que este seria o limite possível para que a mãe pudesse se comunicar com seu filho, pela janela, quando necessário. Tais imagens podem representar perfeitamente os fundamentos do conceito de unidade de vizinhança que se aplica à concepção do projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília. Tal conceito transparece na composição das primeiras superquadras residenciais – SQS 107 e 108 – cuja construção foi iniciada em 1959, sob o comando de Oscar Niemeyer, então diretor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital (NOVACAP). Em composição com as vizinhas 307 e 308, tal conjunto formou a primeira unidade de vizinhança, dotada dos equipamentos previstos no projeto urbanístico de Lucio Costa – escola, igreja, comércio, piscina (clube) e cinema. Estava ali composto o modelo que se pretendia para provocar um estilo próprio de vida na capital federal, estendendo-se para todo o Plano Piloto, onde seus moradores encontrariam, dentro daquele perímetro, tudo o que fosse necessário para o seu dia a dia. Os prédios, construídos sobre pilotis, permitiriam a democratização do espaço, facilitando a circulação das pessoas e a convivência dos moradores nesses espaços comuns, que perdiam seu caráter privado.
  • 7. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 49 O plano arquitetônico de Lucio Costa fazia crer que a cidade reunia condições ideais para a implantação de um sistema integrado de educação. O projeto de educação pública concebido para Brasília foi o primeiro a se ocupar de uma distribuição espacial democrática dos centros escolares. Assim, as escolas primárias seriam edificadas no interior das quadras, de modo que as crianças não precisassem se deslocar por longos trajetos para alcançá-las. Anísio Teixeira convenceu Lucio Costa a destinar o espaço que era previsto para a construção de escolas secundárias, para a criação das escolas parque, que seriam como “universidades infantis”. Figura 1 - Igrejinha e comercial da entrequadra 108/107 – 307/308 Sul. Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>. Figura 2 – Vista da Igrejinha. Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.
  • 8. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 50 Figura 3 - Croquis dos blocos de uma superquadra. Fonte: Nanci Corbioli. Publicada originalmente em PROJETODESIGN, edição 334, dez. 2007. Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008.html>. A estrutura da cidade compreendia uma sequência de grandes quadras, densamente arborizadas, as superquadras, nas quais seriam edificados os blocos residenciais dispostos de maneira variada. O tráfego de veículos e trânsito de pedestres não se entrecruzariam, garantindo especial atenção ao acesso seguro à escola primária. As escolas parque ficariam nas entrequadras, ao centro da unidade de vizinhança. Em consonância com essa concepção urbanística, a proposta de Anísio Teixeira descrevia especificações relativas às construções das escolas, detalhando suas características físicas. A escola não se limitaria ao ensino primário, mas se referiria a diferentes níveis de escolarização, desde o elementar ao superior, seguindo uma continuidade. O ideal para a escola seria manter a educação caminhando junto à sociedade, acompanhando as mudanças que estavam ocorrendo graças ao acelerado desenvolvimento científico e tecnológico, formando um novo homem, de acordo com a vida moderna. Anísio acreditava que as necessidades da civilização implicavam em obrigações à escola, aumentando suas atribuições para atender as necessidades específicas de ensino e de educação e também ao convívio social. Figura 4 - Construção do Cine Brasília Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal.
  • 9. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 51 Figura 5 - Canteiro de obras da Escola Parque 307/308 Sul – 1959 Fonte: Arquivo Brasília. Disponível em: <http://www.facebook.com/photo.php?fbid=242316779218174&set= a.239102686206250.50515.177474179035768&type=1&theaterjn>. O primeiro conjunto de superquadras, projetado e executado, foi o único que seguiu o projeto original da nova capital. Ainda assim, percebe-se que não conseguiu se manter dentro da utopia de seus idealizadores. Isso é claramente perceptível quando nos deparamos com a realidade que hoje se apresenta na vida cotidiana da cidade e, em especial, da população que habita essa unidade de vizinhança modelo. No percurso natural de desenvolvimento da cidade, a utopia foi sendo gradativamente substituída pela realidade cotidiana e é bem provável que grande parte da comunidade que a habita desconheça o ideário em que ela foi concebida. Sobre o assunto, Max Jucá Kokay et al. concluem que as novas condições conjunturais e estruturais de ordem política, administrativa e social, que acompanharam o processo de implantação da cidade levaram à gradual descaracterização do plano de educação elaborado por Anísio Teixeira. Dentre os fatores que desencadearam essas alterações, podemos citar: a situação política entre os anos de 1961 e 1964; a explosão demográfica de Brasília, causando descompasso entre a implementação do plano e as demandas educacionais; a paralisação das obras públicas durante o governo de Jânio Quadros [sob] alegação do alto custo do empreendimento (construção de novas unidades); redução da jornada de trabalho dos docentes para seis horas; a redução do período de permanência diária dos alunos na instituição para duas horas; carência de docentes para o ensino primário, em decorrência da desmotivação de possíveis candidatos à transferência para Brasília; falta de prédios escolares; [...] greve e demissões de docentes; perseguição ideológica; crise política e instauração da ditadura militar (KOKAY et al., 2012, p. 25).
  • 10. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 52 O aumento da densidade demográfica, acarretando aumento da frota de veículos, descaracterizou o cotidiano das unidades de vizinhança e de toda a cidade. A ocupação das superquadras passou a ser feita de forma bem diferente da imaginada por Lucio Costa, que previa a alocação de pessoas de distintas classes sociais em seus blocos, vivendo porta com porta. Para completar o quadro, os condomínios de moradores das superquadras passaram a limitar o acesso aos pilotis dos blocos, criando “jardins” cercados, obstruindo a livre circulação de pedestres. As Escolas Classe e a Escola Parque passaram a ser frequentadas, em sua maioria, por crianças que residiam fora da unidade de vizinhança, visto que seus antigos moradores envelheceram e os novos, com maior poder aquisitivo, preferiram matricular seus filhos em escolas particulares. Tais distorções, segundo Lauande (2007), encontram respaldo nas próprias características do urbanismo que, assim como as leis, é incapaz de eliminar determinados vícios da vida social. Sem embargo, os equívocos estéticos são tradutores fiéis das doenças que afligem a sociedade. O arquiteto é, também, um construtor de símbolos, transmissores de valores convencionados pela sociedade cuja atividade deve ter uma perspectiva direcionada para uma crítica comprometida com a realidade de sua época. A sua relação, conflitante ou não, com o poder, como consequência, torna-se fundamental tanto quanto inevitável. KOKAY et al. (2012) concluem que, apesar de terem sofrido descaracterizações e adaptações, as Escolas Parque de Brasília continuam representando possibilidades de viabilização da educação integral e integradora, por meio da formação artística e de expressão corporal em prol da democratização do ensino na rede pública. Acreditamos que estes são alguns dos ecos dessa utopia pedagógica que pretendemos perseguir. Para tanto deveremos apurar nossos sentidos deixando que esses ecos de um patrimônio, ainda vivo, nos afete. Tais ecos também podem ser percebidos no contexto cultural, na narrativa de representantes das gerações que aqui cresceram. É recorrente, por exemplo, ouvir relatos por parte dos contemporâneos da “geração do rock”, a respeito da condição agregadora proporcionada pelo projeto urbanístico das superquadras, que permitia uma rica convivência entre jovens amigos. Nos pilotis dos blocos do Plano Piloto, crianças brincavam e jovens se reuniam para tocar violão, formar bandas, ou apenas para conversar. Hoje, roqueiros ou não, atribuem isso ao espaço público criado pelos seus projetistas e idealizadores. Isso vem comprovar que a unidade de vizinhança, mesmo não tendo sido repetida da forma original, como nesse conjunto de superquadras aqui citado, possibilita, sim, uma convivência mais humana, com uma melhor qualidade de vida para os seus moradores.
  • 11. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 53 Apresentaremos a seguir algumas informações sobre as abordagens metodológicas previstas no projeto da equipe da Escola Parque 210 Norte, que serão incorporadas ao projeto- piloto. O processo, relatado no referido projeto (KOKAY et al., 2012) será iniciado por meio da realização de pesquisas na Internet, baseadas em palavras-chave, que deverão conduzir os estudantes a novos conceitos, proporcionando condições para que eles se percebam como coautores na construção deste projeto. Durante o exercício investigativo eles serão estimulados ao compartilhamento de descobertas, valorizando a colaboração e o companheirismo entre os alunos. Em um segundo momento, as pesquisas exploratórias iniciais serão complementadas na biblioteca da escola, com o objetivo de aprofundar estudos sobre o tema e de incentivar a realização de investigação em diferentes tipos de mídia, valorizando, também, a leitura de livros. Nesse processo serão consideradas ações previstas na educação patrimonial. Tais ações envolvem pesquisas etnográficas, baseadas em métodos que incluem a observação participante, a realização de entrevistas abertas, o registro e a exploração de dados e a apropriação de resultados obtidos, para fundamentar análises de possibilidades metodológicas. Serão incentivados os estudos interdisciplinares, ou transdisciplinares, envolvendo a arte/educação, por meio da Abordagem Triangular, sistematizada por Ana Mae Barbosa, que propõe estudos baseados em ações de contextualização, leitura imagética e do fazer artístico. Visando fundamentar tais ações, serão buscados subsídios em textos de Terezinha Losada, que apresenta uma interessante síntese de vários métodos relacionados com a compreensão da História da Arte, baseados na interpretação de características e tendências percebidas nas obras. Reproduz-se a seguir um quadro no qual a autora apresenta uma síntese de vários métodos da História da Arte, com suas características e tendências6. Tabela 1 - Síntese de abordagens metodológicas para interpretação imagética. MÉTODO CARACTERÍSTICAS TENDÊNCIAS Biográfico relação: arte e vida do artista  história de vida (Vassari)  influência de fatores psíquicos (Freud / Lacan) Arqueológico pesquisa de campo e análise científica dos  escritiva (Caylus)  desdobramentos interpretativos (Winckelman) 6 O quadro reproduzido integra o conteúdo de um dos módulos de estudos que compõem a Série GTArtes, produzido para a Licenciatura em Artes Visuais do Programa Pró-Licenciatura.
  • 12. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 54 objetos Sociológico relação: arte e sociedade  influência de fatores naturais (Taine)  influência de fatores econômicos (marxismo)  influência de fatores culturais (neomarxismo e pós-modernismo) Formalismo ênfase na forma  relação forma e estilo (Wölfflin)  percepção visual (Gestalt) Iconologia ênfase na imagem  conteúdo simbólico/cultural da imagem (Riegl, Warburg, Cassier, Panofsky) Estruturalismo análise baseada em categorias e estruturas teóricas  teorias da linguagem (Peirce, Saussure, seguidores)  teorias sociais (marxismo, antropologia)  teorias psicológicas (psicanálise, Gestalt) Pós-Estruturalismo ênfase na diferença ou pluralidade – microteorias (gênero, etnia, idade, etc.)  teorias filosóficas (pós-estruturalismo francês)  teorias sociais e artísticas sobre a pós- modernidade (T.J. Clark, Griselda Pollock, Gen Doy) Dos Peritos/Crítica opinativa, interpretativa (em última instância, orienta as atividades do historiador, do crítico, como também do público)  observação de detalhes – método moreliano  1950 – purismo arte abstrata (Greenberg)  1960 – experimentalismo vanguardas (arte e vida)  1980 – pós-modernismo (paródia, pastiche, multiculturalismo) Em conformidade com esse pensamento inter/transdisciplinar, um site criado na escola pode ser explorado conjuntamente por várias disciplinas, para disponibilização de conteúdos e interação entre os participantes, demonstrando que o conhecimento não é fragmentado, mas sim passível de conexão. A metodologia proposta por Denise Soares dos Santos, que integra o grupo da Escola Parque 210 Norte, para ser aplicada aos estudos relacionados com a música fundamentar-se-á no modelo TECLA, proposto pelo músico e educador inglês Keith Swanwick, e envolvem técnica, execução, composição, literatura e apreciação. Serão propostas, também, atividades relativas à sonorização de imagens, baseadas na Paisagem Sonora de Murray Schefer, surgidas para construir o universo resultante de experiências e de conhecimentos adquiridos, “numa integração entre as artes por meio da utilização das tecnologias na produção de sons, na captura de imagens e na fusão de ambas” (KOKAY et al., 2012). Ao final desta etapa inicial da pesquisa, os alunos deverão compreender as origens do projeto das Escolas Parque, percebendo que ele é anterior à existência de Brasília,
  • 13. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 55 descobrindo quem foi o autor da proposta e conhecendo as influências que esse proponente sofreu das teses deweyanas, após realizar estudos no exterior. Três recortes de tempo definirão a continuidade da investigação, nas etapas subsequentes. São eles: recorte 1 – o cenário cultural brasileiro no período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque; recorte 2 – do período em que foi criada a escola em que eles estudam, a Escola Parque 210 Norte; recorte 3 – o momento atual das Escolas Parque de Brasília. No recorte 1, serão propostas atividades relativas ao cenário cultural do Brasil do período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque inaugurada, em 1960, na 308 Sul. Será abordada a história da cidade e da escola, considerando artes plásticas, teatro, cinema, música, moda e comportamento. As imagens coletadas e produzidas ao longo dessa pesquisa serão objeto de análise e comparações, baseadas na Abordagem Triangular, nos passos do Image Watching e em outras abordagens interpretativas da produção artística. Para finalização das atividades referentes ao primeiro recorte será realizado um evento intitulado Festival Bossa Nova, dedicado à audição de músicas e a apresentação dos trabalhos referentes ao recorte temporal, relacionando-o com o contexto histórico analisado. No recorte 2, relativo ao período em que foi criada a Escola Parque 210 Norte, serão realizadas pesquisas a respeito da transição do cenário em que foi implantada a primeira Escola Parque, abordando o período da ditadura militar, citando os “anos de chumbo”, a rebeldia e a repressão dos anos 1970, mencionando até chegar ao período da inauguração da escola, ocorrido na década de 1980. Será analisado esse contexto cultural, mencionando o processo de redemocratização que resultou na redação e a promulgação da nova Constituição Brasileira. Esse enfoque foi considerado necessário para que os estudantes possam compreender os motivos que levaram à interrupção do processo de implantação do programa educacional, abortando um projeto previsto para servir de modelo para todo o Brasil. Está prevista uma visita ao Congresso Nacional, onde manterão contato com a realidade da política brasileira, de ontem e hoje. No campo cultural, pretende-se ressaltar a condição atribuída a Brasília como a Capital do Rock, propondo atividades como: a audição e interpretação de músicas das bandas da cidade; a experimentação de instrumentos eletrônicos, explorando as batidas do rock; a produção de ilustrações, histórias em quadrinhos e cartazes; a experimentação cênica (caracterização, postura, dança), culminando com a realização de um Festival de Rock (KOKAY et al., 2012, p. 47-48).
  • 14. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 56 No recorte 3, referente ao momento atual, está prevista a realização de uma “caminhada patrimonial” pela Escola Parque 210 Norte e arredores, observando, registrando e explorando impressões, por meio da produção de textos, desenhos e fotografias. Dessa forma poderão identificar as diferenças entre esta e a Escola Parque 308 sul, comparando suas características e as de suas respectivas unidades de vizinhança. A equipe propõe o uso do material resultante das pesquisas na elaboração de roteiros e criação de histórias em quadrinhos e animações, que poderão ser produzidas por meio do uso de programas computacionais. Nelas, os estudantes poderiam apresentar a “Escola Parque dos seus sonhos”, planejada com base nos conhecimentos adquiridos no processo. Como encerramento do projeto, propõe-se a realização do Festival Escola Parque: patrimônio vivo, quando serão realizadas exposições, instalações e apresentações artísticas contemplando a produção resultante dos três recortes temporais. Nessa mesma etapa pretendemos lançar o portal do projeto, divulgando-o como um canal aberto para a comunicação com a comunidade (KOKAY et al., 2012, p. 48). É importante frisar que todo esse planejamento será detalhado e ajustado, conforme avaliações processuais realizadas. Como desdobramento, o grupo lembra que será importante contar com novos parceiros, ao final do desenvolvimento do projeto-piloto, abrindo possibilidade de adesão de professores das escolas tributárias em nova experiência a ser desenvolvida nos semestres subsequentes. Tal adesão poderia viabilizar a promoção da interdisciplinaridade pretendida, por meio de contribuições em ações que envolvam suas respectivas áreas de conhecimento. No percurso, ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa, quando nos ocupávamos de buscar informações a respeito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1932), nos deparamos com a homenagem prestada pela Câmara dos Deputados, em sessão solene, no dia 10 de julho de 2012, celebrando os seus 80 anos. Nada mais oportuno do que registrarmos, aqui, essa homenagem, como uma reflexão importante sobre a educação no Brasil. Nesse sentido, gostaríamos de destacar em nossas considerações finais os seguintes trechos publicados em matéria da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília sobre essa homenagem: Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de reconstrução nacional. [...] O alerta, factível para os dias atuais, foi feito em 1932 por um grupo de notáveis no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento que representou um marco ao
  • 15. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 57 apresentar uma proposta inédita: educação laica, pública, universal e de qualidade. “O maior legado do manifesto foi ter retirado a educação do sistema censitário que ainda existia. A educação não poderia mais ser um privilégio de classe, mas um fator para o próprio projeto de desenvolvimento do país”, disse o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa Junior, que participou da mesa da sessão solene. Nessa seção solene reiterou-se a necessidade de ampliação dos recursos públicos destinados à educação que já era reclamada pelos pioneiros do manifesto há 80 anos e que foi aprovada recentemente, correspondendo a 10% do PIB. Esperamos que não só se cumpra essa meta, mas que sua implantação nos proporcione uma real e crescente qualidade no ensino. Neste trabalho, como já foi dito, pretendemos não só fazer um resgate a partir das memórias da comunidade escolar, como também registrar todo o processo de pesquisa em um site que abrigará, inicialmente, o resultado obtido na aplicação do projeto-piloto na Escola Parque 210/211 Sul. A partir desse site, construído de forma coletiva, pretende-se, também, abrigar informações coletadas sobre as demais Escolas Parque do Distrito Federal, em um processo contínuo de análise de possibilidades de formação e construção de novas unidades de vizinhança em rede, no sentido de incentivar o resgate do projeto de educação original da Escola Parque de Anísio Teixeira, em consonância com o plano urbanístico de Brasília, de Lucio Costa. Na relação entre presente e passado, podemos perceber o quanto o resgate da memória se torna importante para a construção de uma educação mais sólida. O reconhecimento dessa relação, necessariamente, tornará a sociedade mais atenta às suas possibilidades de conquista pela sua participação efetiva nesse processo. A utopia deve ser perseguida, sempre... Referências bibliográficas FERRARI, Celson. Planejamento municipal integrado. 7. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999. KOKAY, Max Jucá et al. Escola Parque: patrimônio vivo. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas) – Grupo Arteduca, do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília, Brasília. 2012. LAUANDE, Francisco. “O projeto para o Plano-Piloto e o pensamento de Lúcio Costa”. Revista virtual Vitruvius, n. 087.08, ano 8, ago. 2007. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.087/223>. Acesso em: 19 set. 2012.
  • 16. Revista Eape Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013 58 LEMOS, Ana Maria Pinto de et al. Escola Parque de Brasília: resgate de memórias para a construção de uma nova unidade de vizinhança. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Arte, Educação e Tecnologias Contemporâneas) – Grupo Arteduca, do Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade de Brasília, Brasília. 2012. MOREIRA, Terezinha Maria Losada. “Teoria da Arte”. CAMPELLO, Sheila; GUIMARÃES, Leda (orgs.). Módulo 8 – Série GTArtes – Programa Pró-licenciatura. Rio de Janeiro: Duo Print, 2009. ______. A interpretação da imagem: subsídios para o ensino da arte. Rio de Janeiro: Mauad X: FAPERJ, 2011.