O documento discute os fundamentos da psicologia cultural e sua abordagem para o estudo da relação entre cultura e mente. A psicologia cultural propõe que a cultura e o psiquismo se influenciam mutuamente e devem ser estudados como fenômenos inter-relacionados. Ela toma como unidade de análise os "complexos personalizados", que associam mentalidades a práticas culturais específicas de uma comunidade.
Sweder: Psicologia Cultural vs Psicologia Transcultural (resumo)
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3. 2. Wilhelm Dilthey: Levanta questões sobre as diferenças entre as ciências naturais e as ciências do espírito (ou moral) para o entendimento do homem e explicação do comportamento. 3. W.Wundt: Discorrer aprofundadamente sobre os limites da psicologia como uma disciplina experimental e sobre a possibilidade como uma disciplina que estuda a psicologia popular. Ponto de partida do texto: “ ser membro de um grupo é agir e pensar de certo modo, à luz de determinados objetivos, valores e visões de mundo; pensar e agir assim é pertencer a um grupo” (p. 717)
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8. Fundamentos psicológicos das comunidades culturais. Fundamentos culturais da mente Sistemas psicológicos humanos intrapessoais. Sistemas psicológicos humanos interpessoais.
9. Para Valsiner: A Psicologia Cultural procura enfatizar “a natureza dinâmica e processual do funcionamento da cultura dentro dos sistemas psicológicos humanos – tanto intrapessoais (sentir, pensar, agir) quanto interpessoais (conduta em relação a outros seres humanos)” (p.4)
10. O QUE É CULTURA? . Herança Simbólica : idéias e entendimentos explícitos e implícitos sobre pessoas, sociedade, natureza e esfera mística das divindades. Herança Comportamental : vida familiar institucionalizada, práticas sociais, políticas e econômicas Provê uma estrutura para aprendizagem e deliberações coletivas sobre o que é verdade, beleza, bom e normal.
11. Ênfase simbólica : crenças e doutrinas que possibilitam as pessoas racionalizarem e darem sentido às suas vidas. Ênfase no comportamento : cultura como padrão de comportamento que é aprendido e transmitido através das gerações. A Psicologia Cultural propõe uma unidade de análise que é simultaneamente “simbólica e comportamental”.
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15. p.9 Psicologia Cultural Psicologia Transcultural O “long- and short-term fieldwork”, aprendizagem da linguagem, observação naturalística, detalhamento etnográfico, e análise semântica e pragmática do discurso e comunicação cotidianas são centrais na Psicologia Cultural Utiliza instrumentos que resultam de observações experimentais. O ideal metodológico do paradigma da Psicologia Cultural é derivar procedimentos para cada cultura a partir dos modos de vida e de comunicação de cada cultura. O ideal metodológico do paradigma da Psicologia Transcultural é poder transpor um procedimento estabelecido numa cultura, como as características psicométricas conhecidas, para uma ou mais culturas – comparação transcultural .
16. Psicologia Cultural Psicologia Transcultural A particularidade da Psicologia Cultural é ver a cultura e o psicológico como fenômenos mutuamente constituídos os quais não podem ser reduzidos um ao outro. A Psicologia Transcultural é uma ramificação da psicologia social experimental, cognitiva e psicologia da personalidade. (Munch, 1995) A intenção da Psicologia Cultural é estudar simultaneamente a origem cultural da mente e o aspecto mental da cultura. (Markus et al, 1996) Problemas da Psicologia Transcultural: Utilizam categorias e modelos universais porque pressupõe que o fato todo ser humano é igual e que a diversidade cultural do contexto não afeta as estruturas da mente. As estruturas mentais que operam independente do contexto são insatisfatoriamente identificadas. Biologismo que pressupõe que as funções mentais são invariáveis tanto do ponto de vista individual como populacional; e que a cultura não afeta o desenvolvimento das estruturas e funções psicológicas. (Munch, 1995)
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19. O O mote “uma mente, muitas mentalidades: universalismo sem uniformidade” adverte que a Psicologia Cultural está fundada no seguinte princípio: as potencialidades de abstração e as inclinações heterogêneas da mente humana são universais, mas só ganham caráter, substância, definição e força motivacional quando elas são traduzidas e transformadas na e através de atualizações concretas em algumas práticas particulares, “activity setting” ou modo de vida. As produções culturais/ formações simbólicas e os comportamentos/ formações comportamentais são resultados de uma “mentalidade ” que suporta o estilo de vida. p.12 Pensamento, sentimento, atribuição de valor, etc
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21. Propõe como unidade de análise: complexos personalizados (custom complex) Conceito introduzido por J.W.M. Whiting e Child e retomado pela Psicologia Cultural nas décadas de 80/90, quando se propõe estudar o modo como cultura e psiquismo se moldam mutuamente e com a retomada do interesse em “contextos de atividade”(activity settings). Def.: “consiste das práticas habituais e de crenças, valores, sanções, papéis, motivações e satisfações associadas a estas práticas”.
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23. A partir dessa unidade de análise, é possível conceitualizar a Psicologia Cultural como o estudo do modo como cultura e psiquismo são socialmente produzidos e reproduzidos, resultando numa associação íntima entre mentalidade e prática e um função parcial entre pessoa/contexto , interno/externo , p erspectiva subjetiva/realidade externa . O conceito de complexos personalizados (custom complex) pressupõe uma íntima associação entre mentalidade e prática que é apoiada, reforçada, defendida e racionalizada pelos membros de alguma comunidade cultura. Tomar o complexos personalizados (custom complex) como uma unidade de análise é investigar os dois lados: a íntima conexão entre a mentalidade e uma ou mais práticas específicas (a herança comportamental de uma comunidade cultural). É olhar a relação entre as coisas que pensam, sentem, querem e os valores e o comportamento. É dar inteligibilidade a partir dessa mentalidade ao que elas fazem. Os complexos personalizados (custom complex) são sancionados, glorificados, racionalizados e reforçados de diversas formas. Tudo que se distancia deles é tomado como errado e bizarro. O interesse em entender o modo como a mentalidade está associada com as práticas de uma comunidade cultural particulariza a abordagem da psicologia cultural.
24. Ex.: mentalidade associadas à amamentação em livre-demanda, sono compartilhado na cama familiar, a refeição familiar, aplicação estrita da disciplina cristão, executando o ritual “o que você fez hoje na escola?” ou praticando formas de reforçar a auto-estima. Ele cita pesquisas que constatam que existe em escala mundial muitos complexos personalizados (custom complex) Ele cita a existência de uma rede mundial de complexos personalizados (custom complex) divergentes daqueles que são dominantes/normativos. Existe uma rede de pessoas que se apóiam mutuamente para dar suporte às práticas não-normativas que estão baseadas em um conjunto de crenças e valores que diferem do contexto dominante.
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29. A prática de “quem dorme com quem” é paradigmática. O modo de dormir em família é uma prática costumeira investida de significados socialmente adquiridos e com implicações para o posicionamento pessoal (como moral, racional ou competente ) em relação ao normativo e senso-comum de uma comunidade cultural. (p.725) Quando os pais optam por dormir separados dos seus filhos, esse comportamento pode ser entendido como uma atitude proposicional, que reflete pensamento, sentimento, vontade e valores, tais como:
30. Eu valorizo a autonomia e a independência; eu penso que promovo autonomia e independência colocando as crianças para dormirem em seus aposentos; eu valorizo a intimidade sexual com minha esposa; eu penso que não posso ter uma vida sexual com minha esposo se a cama conjugal é violada pela presença dos meus filhos; eu acredito que as crianças tem impulsos eróticos e fantasias sexuais que não podem ser despertadas ou estimuladas pelos adultos correndo o risco de afetar a saúde mental das crianças; eu me angustio com o toque e o prolongamento do pele-a-pele com uma criança pequena; bebês e crianças devem ser treinados, encorajados e, se necessário, forçados a dormirem sozinhos.