Este documento fornece informações sobre uma exposição de litografias realizada no Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco entre 1 e 30 de junho de 2011. A exposição apresentou obras de cinco artistas - Ana Lisboa, Gil Vicente, Luciano Pinheiro, Rodrigo Braga e Sebastião Pedrosa - produzidas durante uma residência artística no Laboratório Oficina Guaianases de Gravura.
2. UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
Reitor | Amaro Lins
Vice-Reitor | Gilson Edmar
Pró-Reitora de Extensão | Solange Coutinho
Diretora de Extensão Cultural | Bartira Ferraz
Instituto de Arte Contemporânea | Bete Gouveia
Diretora do Centro de Artes e Comunicação | Virgínia Leal
Vice-Diretora | Kátia Araújo
Chefe do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística | Roberta Marques
Coordenadora do Curso de Licenciatura em Artes Visuais | Marilene Almeida
Coordenador Espaços Expositivos - CAC | Jeims Duarte
Apoio Logístico - Galeria Capibaribe | Ana Cristina Garcia
EXPOSIÇÃO GUAIANASES - RESIDÊNCIA ARTÍSTICA
Ana Lisboa | Gil Vicente | Luciano Pinheiro | Rodrigo Braga | Sebastião Pedrosa
Coordenação Executiva | Luciene Pontes
Coordenação Financeira | Taciana da Fonte
Coordenador e Editor de Impressão | Renato Valle
Litógrafo Impressor | Hélio Soares
Assistente de Atelier | Anne Souza
Textos | Virginia Leal e artistas residentes
Fotografias | Yêda B. Mello
Mediação | Erilson Justino, Érica Maria, Teodoro Neto
Projeto Gráfico | Flávio Lima - Bureau de Design / PROEXT
Impressão e acabamento | Editora Universitária UFPE
Recife 2011
3. “É a mão que importa!”
Quando se tenta ressignificar, na cultura “pós-moderna”, a palavra memória para
deixá-la próxima à cara ideia de que, em ações e em discurso (uma das formas de
ação no mundo) a mnemosyne se transmuda, o fio da história logo se impõe para nos
inscrever a todos no campo do humano. É esse fio que vai dar à memória ressignifi-
cada leveza, graça, ginga, só possíveis quando pensada no interior dos movimentos.
Portanto, pensar a memória, hoje, é tirá-la de uma visão estática de “recuperação”
do vivido, do passado, para torná-la dinâmica, uma verdadeira força que instaura o
presente e o futuro.
Com estas reflexões iniciais, gostaria de dizer que duas expressões marcam a quem
visita o Centro de Artes e Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco
e tem acesso tanto aos materiais que compõem o Acervo Guaianases, quanto aos
trabalhos desenvolvidos pelo Laboratório Oficina Guaianases de Gravura. São elas:
tradição e modernidade.
No âmbito da tradição, ressalto a arte em pedra, a qual na dança entre água e óleo
resgata o desejo sisifiano do artista de ultrapassar os limites do aqui e do agora, im-
primindo ao fazer artístico o diálogo constante consigo mesmo, com o semelhante
e com o mundo. No campo da modernidade, e relendo um excerto do crítico inglês
I. A. Richards que diz: “Não se pode esperar cartas novas quando se joga um jogo tão
antigo. É a mão que importa”, resgato o triângulo pedra-homem-linguagem reunidos
4. em jogos muito antigos, mas costurados pelo fio da história a que me referi acima. A beleza desta exposição não reside apenas no âmbito da memória que se reconstrói
Essa espécie de “jogo” nascido lá na arte rupestre fica enriquecido com as pesquisas e se reinventa a todo instante. Não. A beleza também e, principalmente, reside nas
que deram origem à litografia. 50 gravuras as quais traduzem, expressam, propõem novas poéticas, novas temáti-
cas, novas experimentações, explicando porque trouxe do crítico literário inglês a
E eis que olhando o Movimento Guaianases, iniciado pelos artistas João Câmara ideia de que se a arte em pedra é tão antiga, “é a mão que importa”!
e Delano, e os impressores Alberto e Hélio, em 1974, vamos ter, como disse Paulo
Chaves em apresentação à Guaianases I, “o desafio da pedra”, atualizando este jogo
com “novas mãos”. Ao encerrar uma das etapas mais produtivas dos chamados gru- Virgínia Leal
pos artísticos, ou dos movimentos coletivos em arte, nos anos 1970 e 1980, ao qual Diretora do Centro de Artes e Comunicação - CAC/UFPE
se agregaram a João Câmara e Delano artistas como José Carlos Viana, Flávio Gade-
lha, Maria Tomazelli, José de Barros, Inalda Xavier, Gil Vicente e Luciano Pinheiro,
entre muitos outros artistas que deram corpo e vida ao Movimento, o acervo de
prensas, pedras e exemplares de mais de duas mil litografias foi doado ao Departa-
mento de Teoria da Arte Expressão Artística, do Centro de Artes e Comunicação
da UFPE. Um acervo inestimável do ponto de vista histórico e, principalmente, do
ponto de vista da memória como movimento, razão pela qual a presente exposição
traz uma “Guaianases” viva, através de Gil Vicente, Rodrigo Braga, Luciano Pinhei-
ro, Ana Lisboa e Sebastião Pedrosa. São diálogos importantes que se estabelecem
no Projeto Reestruturação, Ampliação e Consolidação do Atelier Coletivo, proposto e
coordenado por Luciene Pontes e Renato Valle, entre o que se faz hoje em litografia
em Pernambuco e o que o Movimento produziu nos anos 1970 e 1980.
5. Escada para o céu
Notícias de uma residência artística no LOGG
Por que escadas? Escada que toca o céu? Escada para Escada para o céu reflete o imaginário que decorre deste mundo imerso numa crise
subir e/ou descer? Escada para levar a lugar nenhum? moral e de valores. Uma tentativa de expurgar/exorcizar momentos
“Dezescada”? Alguns poderiam servir de título para de significação vivenciados sob aquele céu. Sentimentos profundos sobre valores
esta série que se inicia, ou que se finda? Que é pro- humanos: a indignidade e, surpreendentemente, a generosidade, o gesto de amiza-
cessual e recorrente na minha narrativa de expressão de, a ternura... É preciso esquecer para aprender e acreditar numa transformação,
artística. numa musicalidade que provém do cosmo. “Compreendendo a potência criadora
como uma possibilidade de enriquecimento espiritual” (Fayga Ostrower,
O que apresento nesta coletânea é uma seqüência A grandeza humana – cinco séculos, cinco gênios da arte, 2003).
de escadas para o céu, um álbum de litogravura com
dez imagens construídas a partir de uma estética que A vontade de retomar alguns trabalhos iniciados em um curso de gravura em placa
poderíamos chamar de relacional. O atelier, sendo de poliéster no ano de 2008, quando passei para as matrizes umas fotos do céu
coletivo, já traz por si uma possibilidade de troca entre que havia tirado em Nova York, me levou a rascunhar escadas, a partir de desenhos
as pessoas que passam por aquele lugar. realizados livremente, de observações de escadas da arquitetura do entorno,
como também desenhos recorrentes do tema em trabalhos anteriores.
Ah! Essa inconstância... Trabalhei escadas a partir do tempo e do espaço. Esca- Escadas em forma de espiral, degraus expostos, que sobem e descem, passando
num dia vejo o céu, das como ponto de início e fim, lugar em que se está pelos mesmos lugares. Escadas que possibilitam rever o que não ficou
no outro, a distância. ou aonde se quer chegar, ou onde nunca se irá chegar... compreendido, na medida em que o tempo avança.
Imagens sem intenção de verticalidade, esconsas, inter- Tentativa de refletir o que já foi sentido, mas de outra forma.
(Patrícia Burrowes. ligadas, rizomáticas... quem sabe um apelo urgente por
Em Espiral, 1992). uma corresponsabilidade do humano...
Série Escada para o Céu | Ana Lisboa | 2011 | álbum 56 x 42 cm c/ 10 litogravuras
AnA LisboA
6. Escada para o céu
Escada para o céu
2011
2011
42 x 30 cm
35 x 30 cm
7. Escada para o céu Escada para o céu
2011 2011
42 x 20 cm 43 x 33 cm
8. Escada para o céu Escada para o céu
2011 2011
32 x 29 cm 41 x 30 cm
9. Escada para o céu Escada para o céu
2011 2011
44 x 31 cm 37 x 28 cm
10. Escada para o céu Escada para o céu
2011 2011
39 x 29 cm 41 x 32 cm
11. Teorias da Música
Mesmo tendo participado da Oficina Guaianases de Assim como eu pude compreender por imagens a origem, o funcionamento
Gravura por vários dos seus primeiros anos, editei até e o significado do universo, ofereço aqui, em projeto menos abrangente,
hoje tão poucas imagens que não posso me considerar dez litografias que explicam apenas as Teorias da Música. Com isso, devo confessar,
um gravador. Também nunca reuni algumas delas com nas pesquisas e em algumas pranchas tentei me aproximar da violenta
um sentido ou objetivo específico, fosse temático ou e fatal plasticidade do trabalho de Alexandre.
plástico, que justificasse a edição de um álbum, como
fizeram com sucesso vários amigos.
Quando fui convidado para este projeto litográfico,
lembrei instantaneamente das dez gravuras em metal
que formam o incrível álbum As teorias que explicam
Agradecimentos:
o universo, do amigo Alexandre Nóbrega, expostas no
Alexandre Nóbrega MAMAM, Recife, em 2001. O poder de cada imagem
Renato Valle impressa e sua relação com as demais nos oferece uma
Anne Souza, que fortuna de significados visuais que realmente dão con-
desenhou a teoria nº 8 ta, com clareza, da promessa anunciada no título.
Série Teorias da Música | Gil Vicente | 2011 | álbum 56 x 42 cm c/ 10 litogravuras
GiL Vicente
12. Teorias da Música 1 Teorias da Música 2
2011 2011
54 x 39,5 cm 39 x 23,6 cm
13. Teorias da Música 3 Teorias da Música 4
2011 2011
38,2 x 20,7cm 54 x 37,5 cm
14. Teorias da Música 5 Teorias da Música 6
2011 2011
26,2 x 29,5 cm 47,1 x 16,1cm
15. Teorias da Música 7 Teorias da Música 8
2011 2011
54 x 28,4 cm 32,5 x 31,5 cm
16. Teorias da Música 9 Teorias da Música 10
2011 2011
18 x 18 cm 21,5 x 29,5 cm
17. Nus e Inquisições
As dez litogravuras do álbum Nus e Inquisições, inti-
tuladas: Ponto G, Relax, Preliminares, Amantes, Passio-
nal, Reflexões amorosas, Cordão Umbilical, Flores para
Sakineh, Outras Inquisições 1 e Outras Inquisições 2,
foram realizadas no Laboratório Oficina Guaianases
de Gravura, na UFPE, entre os meses de setembro e
dezembro de 2010.
São litogravuras nas quais utilizei técnicas tradicionais,
o “crayon” e “tousche” para bico de pena e pincel. Ge-
nerosas aguadas e um aspecto rústico, preto no branco,
figurativo explícito na abordagem de temas sexuais e
culturais envolvendo questões femininas.
Sexo e punição, conceitos e pré-conceitos são os temas.
Uma ode ao prazer sem culpa e um grito contra o obs-
curantismo contemporâneo, oriundos de um crescente
fundamentalismo religioso. Em lugar das pedras, flores,
muitas flores, para as Sakinehs da vida.
Série Nus e Inquisições | Luciano Pinheiro | 2010 | álbum 56 x 42 cm c/ 10 litogravuras
LuciAno PinheiRo
23. Biólitos
Nesta coleção o tempo geológico eterniza o tempo
biológico. Partes de vidas outrora, organismos vulne-
ráveis por natureza, agora fixados por meio da imagem.
Pedras calcárias amalgamam e protegem os elementos
nelas contidos, numa construção poética de corpos que
se entrelaçam e adormecem.
Fragmentados e ainda assim singulares em si, os seres
agora inanimados não estão apenas mortos, ganham
uma permanência e alongam suas existências na pedra,
no papel, na memória. Construir simulacros é “brin-
car de Deus”, de fazer do tempo de agora um passado
remoto, trazer o ancestral para que se confunda com
nós mesmos, tão partes de um todo quanto as pedras
estilhaçadas.
Série Biólitos | Rodrigo Braga | 2011 | álbum 56 x 42 cm c/ 10 litogravuras
RodRiGo bRAGA
24. Biólitos 1 Biólitos 2
2011 2011
17 x 27 cm 21 x 36 cm
25. Biólitos 3 Biólitos 4
2011 2011
19 x 18,5 cm 13 x 16 cm
26. Biólitos 5 Biólitos 6
2011 2011
18 x 25 cm 12,5 x 14 cm
27. Biólitos 7 Biólitos 8
2011 2011
20 x 25,5cm 14 x 20 cm
28. Biólitos 9 Biólitos 10
2011 2011
23 x 25,5 cm 21 x 35,5 cm
29. Escrita Secreta
As dez litrogravuras que apresento nesse álbum decor- fazer artístico de Klee. O título da série Escrita Secreta que venho desenvolvendo
rem de minha atividade em ateliê desenvolvida há mais desde o final dos anos 90 foi tomado emprestado do título que Paul Klee atribuiu
de doze anos. As gravuras que tenho produzido desde a uma de suas obras, Secret Writing de 1934.
1999 dizem respeito à própria ação do ato de gravar:
um processo nunca totalmente direto que permite Quando o artista busca referências em outras culturas, em outros conhecimentos,
acrescentar sempre um elemento de surpresa ao traço no fazer de outros artistas, ou noutros contextos sociais, ele está construindo um
inicial, semelhante a um trabalho de alquimia. Os rabis- diálogo e se deixando contaminar por outros olhares e outras maneiras de enxergar
cos e marcas repetidas que povoam o espaço bidimen- o mundo e, de uma forma ou de outra, isto repercute positivamente no seu
sional de uma folha de papel, inicialmente aleatórios, ´modus vivendi` e conseqüentemente na sua obra. Esta contaminação ou influência,
pouco a pouco se organizam como uma página escrita. no entanto, não se dá de forma direta, mas recriada ou problematizada, tornando
cada obra singular. Isto acontece porque a arte supõe um processo no qual o artista
Tenho observado, muitas vezes, que ao ler um texto ao criar sua obra inventa o seu próprio modo de fazê-la.
antigo construído de caracteres inacessíveis não me
prendo no significado semântico do texto, mas na sua As dez litogravuras contidas nesse álbum reúnem marcas que certamente
plasticidade, na materialidade das letras ou dos signos, têm o desejo da escrita, no dizer de Roland Barthes, mas não me atenho ao método
na forma como as marcas são fixadas na superfície dos expressionistas abstratos nem permaneço simplesmente no desenho guiado
do suporte, esquecendo de certo modo, o significado pelo automatismo psíquico adotado pelos surrealistas. A partir do ato de fazer
abstrato das palavras. garatujas consigo me liberar das marcas preconcebidas, criando imagens que partem
de uma escrita indecifrável, para a construção de uma escrita que revela imagens.
Tenho consciência de compartilhar com outros artistas
o interesse por uma arte que conjuga texto visual ao
texto verbal. Há muitos anos atrás me deparei com o
Série Escrita Secreta | Sebastião Pedrosa | 2011 | álbum 56 x 42 cm c/ 10 litogravuras
sebAstião PedRosA
30. S/ título S/ título
2011 2011
38 x 27 cm 38 x 28 cm
31. S/ título S/ título
2011 2011
38 x 28 cm 38,5 x 27,5 cm
32. S/ título S/ título
2011 2011
38,5 x 28 cm 38,5 x 28 cm
33. S/ título S/ título
2011 2011
38,5 x 27 cm 38,5 x 26,5 cm
34. S/ título S/ título
2011 2011
37 x 28 cm 39 x 28 cm