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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
ARTES VISUAIS – BACHARELADO
SUZY LIE KANEZAKI
VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA
FOTOGRAFIA
CAMPO GRANDE – MS
2014
SUZY LIE KANEZAKI
VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA
FOTOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso
desenvolvido para obtenção do grau de
bacharel em Artes Visuais. Sob a
orientação da Prof. Me. Aline Sesti
Cerutti.
SUZY LIE KANEZAKI
VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA
FOTOGRAFIA
COMISSÃO EXAMINADORA
____________________________________
Profª. Me. Aline S. Cerutti
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
______________________________________
Profª. Dra. Eluiza Bortolotto Ghizzi
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
_______________________________________
Prof. Me. Joaquim Sérgio Borgato
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Campo Grande, MS, _____ de ___________________________ de 2014
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos
Aos meus avós por sempre me ajudar e apoiar em qualquer situação.
Aos meus pais por serem tão dedicados e companheiros sempre buscando o
melhor para mim.
Aos meus tios Jânio e Lina que me proporcionaram condições melhores para os
meus estudos resultando nesta conquista.
À minha confidente e amiga irmã.
Aos meus amigos e aos colegas que conheci durante o curso.
À minha professora e orientadora Aline Cerutti pela paciência e atenção com
meu trabalho.
E à todos os professores do curso, pelos ensinamentos e dedicação.
RESUMO
A fotografia documental é trabalhada neste projeto, por se tratar da fotografia
que retrata o ser humano, no caso, os colonos japoneses de Jamic em sua vida
cotidiana, dessa forma imagens destes são obtidas em sua vida rotineira além
de outras atividades, que na maioria das vezes são hábitos trazidos de seu país
de origem. A pesquisa aborda o estilo de fotografia selecionado e a sua ligação
com a arte contemporânea, juntamente com o tema do projeto. As imagens
foram capturadas ao decorrer do ano de 2014 aproveitando o calendário de
eventos da região. A produção resultou numa série de fotografias procurando
usar o mínimo possível em tratamento digital e um trabalho teórico, onde todo o
processo de pesquisa foi registrado.
Palavras - chave: Arte Contemporânea; Fotografia Documental; Colonos
Japoneses.
LISTA DE IMAGENS
Fig. 01: Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do
Sul......................................................................................................................12
Fig. 02: Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do
navio..................................................................................................................14
Fig. 03: Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de
madeira..............................................................................................................15
Fig. 04: Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações................................16
Fig. 05: Primeiras granjas de galinhas construídas.............................................17
Fig. 06: Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado................................18
Fig. 07: Inauguração do Kaikan..........................................................................19
Fig. 08: Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos
eventos..............................................................................................................22
Fig. 09: Brincadeira da pescaria no Undokai de
Jamic..................................................................................................................26
Fig. 10: Ensaio de dança para o Bon Odori.........................................................27
Fig. 11: - Placa exposta em frente à casa de estudante em Campo Grande –
MS......................................................................................................................28
Fig. 12: - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre.........................................29
Fig. 13: Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul
Graham..............................................................................................................35
Fig. 14: - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr……………………………..36
Fig. 15: Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo............................37
Fig. 16: - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo...............................38
Fig. 17: Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban...................40
Fig. 18: Gráficos com valores padrão das configurações básicas da
câmera...............................................................................................................42
Fig. 19: Foto teste 1, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44
Fig. 20: Foto teste 2, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44
Fig. 21: SemTítulo I, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44
Fig. 22: Foto teste 3, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45
Fig. 23: Foto teste 4, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45
Fig. 24: Fujinkai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................45
Fig. 25: Foto teste 5, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47
Fig. 26: Foto teste 6, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47
Fig. 27: Fujinkai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................47
Fig. 28: Foto teste 7, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................49
Fig. 29: Foto teste 8, 2014, Suzy Kanezaki......................................................49
Fig. 30: Sem Título II, 2014, Suzy Kanezaki........................................................49
Fig. 31: Foto teste 9, 2014, Suzy Kanezaki......................................................51
Fig. 32: Foto teste 10, 2014, Suzy Kanezaki....................................................51
Fig. 33: Sem Título III, 2014, Suzy Kanezaki.......................................................51
Fig. 34: Foto teste 11, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52
Fig. 35: Foto teste 12, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52
Fig. 36: Undokai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................52
Fig. 37: Foto teste 13, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54
Fig. 38: Foto teste 14, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54
Fig. 39: Undokai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................54
Fig. 40: Foto teste 15, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56
Fig. 41: Foto teste 16, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56
Fig. 42: Bon Odori I, 2014, Suzy Kanezaki..........................................................56
Fig. 43: Bon Odori II , 2014, Suzy Kanezaki........................................................57
Fig. 44: Foto teste 17, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58
Fig. 45: Foto teste 18, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58
Fig. 46: Bon Odori III, 2014, Suzy Kanezaki........................................................58
Fig. 47: Foto teste 19, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60
Fig. 48: Foto teste 20, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60
Fig. 49: Softbol I, 2014, Suzy Kanezaki...............................................................60
Fig. 50: Softbol II, 2014, Suzy Kanezaki..............................................................61
SUMÁRIO
Introdução........................................................................................................09
1 Vida e Tradição na colônia Jamic.................................................... ............11
1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre....20
1.2 Principais Atividades da AECNBVA...................................................23
1.2.1 Shinnenkai...........................................................................23
1.2.2 Nyuushokusai......................................................................23
1.2.3 Undokai................................................................................24
1.2.4 Bon Odori.............................................................................26
1.2.5 Bonenkai..............................................................................27
1.3 A Casa de Estudante Jamic...............................................................27
1.4 Associação Esportiva.........................................................................28
2 Fotografia Entre Documento e Arte .............................................................31
2.1 Arte e Documentário..........................................................................32
2.1.2 Paul Graham........................................................................34
2.1.3 Martin Parr...........................................................................35
2.1.4 Walter Firmo.........................................................................36
2.1.5 João Urban...........................................................................38
3 Descrição do Processo de Produção e Análise das Obras........................41
3.1 Metodologia.......................................................................................41
3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas...............................................41
3.3 Processo de Produção.......................................................................43
3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos ............................................43
Conclusão........................................................................................................62
Referencias Bibliográficas..............................................................................63
9
INTRODUÇAO
A pesquisa deste trabalho, envolvendo a colônia japonesa Jamic no
município de Terenos em Mato Grosso do Sul, teve o intuito de levantar o
passado vivido e registrar a vida dos habitantes nos dias de hoje, após 55 anos
de existência, enfatizando os imigrantes da primeira geração, analisando a
maneira com que se relacionam e vivem, além de registrar mudanças na tradição
cultural, repassadas para outras gerações.
Para tanto, foi utilizada neste projeto a fotografia documental, em que
foram captadas imagens dos colonos em sua vida rotineira além de outras
atividades que, na maioria das vezes, decorrem de hábitos trazidos de seu país
de origem, como por exemplo: a prática do softbol, a realização de danças, festas
e pratos típicos. As imagens foram capturadas no decorrer do ano de 2014,
aproveitando o calendário de eventos local e o dia-a-dia de algumas famílias. A
produção final resultou numa série de fotografias e, paralelamente, em um
trabalho teórico, abordando o tema e as técnicas escolhidos para o trabalho.
Esta pesquisa tem o objetivo de contribuir com o acervo da cultura
japonesa do Estado de MS, retratando uma colônia cheia de histórias e vidas.
Curiosidades de como se relacionam e vivem nos dias de hoje nos despertam
interesse, ao mesmo tempo em que percebemos mudanças em suas tradições
culturais, sendo assim, a fotografia documental foi escolhida, já que busca uma
empatia com a cena fotografada. A intenção é não só fazer fotos do cotidiano
das pessoas, mas captar a expressão e a sensibilidade que cada um passará
em cada imagem. Focando os aspectos culturais da colônia japonesa JAMIC
associada à valorização dos indivíduos fotografados.
O trabalho está dividido em três capítulos; o primeiro, intitulado “Vida e
tradição da Colônia JAMIC”, que aborda aspectos históricos culturais dessa
colônia, por meio da sistematização de fontes fotográficas e registros escritos
sobre a colônia.
O segundo, intitulado “A fotografia entre documento, arte e expressão”,
aborda aspectos da fotografia documental e sua ligação com a arte
contemporânea, com a finalidade de promover o conhecimento sobre o assunto
e poder aplicar esses conhecimentos na produção das fotografias que foram
realizadas ao longo desta pesquisa. O terceiro capítulo, “Descrição do processo
10
de produção e análise das obras”, resulta do registro fotográfico dos
procedimentos realizados pela autora deste projeto com o intuito de refletir
criticamente sobre aspectos culturais da colônia Jamic, no contexto dos dias
atuais.
11
1 VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAMIC
Na primeira metade do século XX houve a presença intensa de empresas
estrangeiras no Brasil, favorecendo a vinda de muitos migrantes para trabalhar,
como os japoneses, que saíram do Japão em consequência das medidas
reformistas e reabilitação da economia japonesa após a Segunda Guerra
Mundial.
Segundo Vasconcelos (2003), o processo de emigração japonesa para o
Brasil estava centrado no Japão, sob controle da JICA (Japan International
Cooperation Agency), com sede em Tóquio. Essa agência estatal autorizava
empresas que se interessassem pelo ramo da emigração a desenvolver tal
atividade, inclusive concedendo-lhes subsídios. No Brasil, duas empresas
estavam ligadas ao serviço de emigração do Japão: JAMIC (Japan Management
Imigration Company) Imigração e Colonização Ltda. E a JEMIS (Japan
Emigration Service) Assistência Financeira S.A. Eram empresas juridicamente
brasileiras, mas dirigidas por japoneses e com o apoio financeiro do governo
japonês.
Responsáveis pela aquisição de terras e pela introdução de imigrantes
japoneses em Mato Grosso, nas décadas de 1950 e 1960, acrescentaram novos
ingredientes na composição do Estado. O imigrante japonês, desde a segunda
década do século XX, já vinha se estabelecendo em Mato Grosso do Sul. Mas
foi no final da década de 1940 e nas décadas de 1950 e 1960, que a presença
japonesa se tornou marcante no Estado.
A empresa JAMIC não visava lucros; sua característica fundamental era
sua função social, pois aliviava tensões provocadas pelo desemprego,
promovendo a emigração e introduzindo em outros países parte da população
“sem atividade” no Japão. A empresa adquiria, em determinado país, uma área
de terra, ou diversas áreas; fazia a divisão em lotes, conforme as leis locais, e
depois vendia aos imigrantes. A JAMIC desenvolveu em território brasileiro
diversos projetos de colonização, dentre os quais o de Várzea Alegre.
Os imigrantes japoneses que ocuparam a Várzea Alegre compreendem-
se na chamada terceira fase (1953-75) de imigração japonesa para o Brasil. A
20 quilômetros do centro de Terenos (MS), a Colônia foi batizada oficialmente
de comunidade imigrante Várzea Alegre. Está a 50 quilômetros à sudoeste de
12
Campo Grande, no Km 372 da BR – 262 (fig. 01). Suas fronteiras são o rio
Salobra ao norte e o rio Cachoeirinha ao sul; em 1974, em substituição à rodovia
estadual que corria alinhada à Noroeste, que até então era utilizada, foi aberta a
rodovia BR-262, que cortava a comunidade no sentido Leste-Oeste, facilitando
o fluxo de produtos da comunidade e trazendo benefícios para o
desenvolvimento agrícola, os esportes e a cultura (VASCONCELOS, 2003) .
Fig.01 - Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do Sul.
Fonte: (AYUMI, 2008)
Essa Colônia passou a ser conhecida simplesmente como JAMIC pelos
moradores das proximidades e por um grande número de pessoas. Os recém
imigrados, com um péssimo português, não conseguiam pronunciar de maneira
inteligível o nome “Várzea Alegre”, daí acabavam sempre dizendo que estavam
em " JAMIC ", assim, essa acabou tornando-se a denominação habitual, tanto
interna quanto externamente. Era a primeira imigração planejada do pós guerras,
cujos requisitos eram o pagamento à vista do terreno, ou então capacidade
13
financeira para pagar de 10 a 30 % desse valor de sinal, mais a disponibilidade
de 500 mil ienes para garantir a subsistência e despesas. Em agosto de 1961,
porém, se dava o último ingresso de colonos; até então um pouco mais de 40
famílias tinham entrado em Várzea Alegre, quando se esperava 500 a 600
famílias. (AYUMI – A saga da colônia japonesa de Campo Grande, 2008 p.92).
Uma peculiaridade desta Colônia era a grande proporção de colonos
oriundos da província de Yamaguchi1, a colônia chegou a ganhar a alcunha de
"Vila Yamaguchi". As notícias sobre dificuldades, porém, chegaram aos ouvidos
do governo provincial de Yamaguchi provocando enorme repercussão. Quando
aqui chegavam, os imigrantes já encontravam um projeto montado e aprovado
pelos órgãos oficiais brasileiros encarregados da imigração e colonização: o INIC
(Instituto Nacional para Imigração e Colonização) até 1962; o IBRA (Instituto
Brasileiro de Reforma Agraria) até 1970, quando foi criado o INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agraria). (VASCONCELOS, 2003).
Várias razões justificaram o interesse da JAMIC pela área em questão:
em primeiro lugar, sua localização, próxima a cidade de Campo Grande, que já
naquela época passava a ser o centro das decisões na região Sul de Mato
Grosso, sediando, inclusive, o órgão responsável pela colonização local; em
segundo, o preço pago pela área, que foi irrisório, tendo - se em vista o que a
empresa arrecadou com a venda após o loteamento; em terceiro, o fato de tratar-
se de uma aquisição feita de particulares, o que tornava o procedimento
burocrático menos complexo do que se tratasse de uma relação com o Estado;
por último, a circunstância de a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passar
exatamente dentro dos limites da fazenda. Dentro de uma área loteada ficou
reservado um espaço de 948 ha. para a futura vila Pedro Celestino e para
pequenas chácaras.
Na área reservada para urbanização foram construídos um escritório para
a empresa, um alojamento para os colonos, um prédio para o funcionamento da
escola, uma sala para ambulatório, um grupo gerador de força elétrica e um
1
Yamaguchi: província do Japão localizada na região de Chugoku, na ilha de Honshu. Com
área de 6 110,45 km², possui 11 distritos e 56 municípios.
14
prédio para um centro social; as partes de terras consideradas fracas foram
remembradas para formar lotes maiores, com mais ou menos 300 ha.
Segundo a entrevista com a colona Makiko Kanezaki, que chegou aos 11
anos no Brasil, essa relata que seu pai era comerciante no Japão e como estava
em crise, decidiu vir para o Brasil, apostando tudo o que tinha. Assim como
outros pais de família que vieram, entre eles engenheiros, marceneiros
profissionais diversos e de várias classes. Durante o mês de viagem de navio,
lembra que vieram na área das bagagens, já que não estavam em condição de
pagar por mais, mesmo assim, isso não foi motivo de desanimo; relata que os
japoneses do navio se divertiam criando peças de teatro, fazendo gincanas,
cantando e dançando (fig. 02).
Fig.02 - Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do navio.
Fonte: Álbum da família Okishima, 1959.
Mal partiram do Japão e já estavam sentindo falta de sua terra, mesmo
assim, a viagem ao Brasil já era motivo de comemoração; desde então, tinham
espírito de manter suas raízes aonde quer que estivessem.
Makiko relembra que, ao chegarem, se abrigaram num galpão grande de
madeira construída pela JAMIC. Assim que ocorreu a divisão de lotes, os colonos
15
iniciaram o processo de construção de suas próprias casas (fig. 03), em um
processo no qual havia ajuda recíproca, uma casa cada de cada vez. No final do
dia de construção todos voltavam para o galpão provisório; a maioria das casas
eram feitas de madeira.
Após aproximadamente um ano, todas as casas ficaram prontas e, logo
no próximo, ano começou a vinda de outros colonos; ano pós ano chegavam
mais, sempre com o espírito de solidariedade entre todos.
Fig. 03 - Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de madeira.
Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60.
No período em que estavam em plantação, a prefeitura de Terenos
construiu a primeira escola da região, que alguns jovens imigrantes
frequentavam, com o auxílio da professora japonesa vinda de Aquidauana para
ensinar português; alguns estudavam de manhã e outros à noite, diz Makiko.
A escolha da área para onde foram destinados, foi feita pela própria
JAMIC, pois tomaram conhecimento do local quando chegaram a Várzea Alegre.
16
Fig. 04 - Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações.
Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60.
O plantio de arroz foi escolhido (fig. 04), por não precisar de muitos
recursos artificiais e cuidados; além de ser primeiramente produto de
subsistencia, o material e o auxilio de técnicos agrícolas eram fornecidos pela
JAMIC. Assim como nas construções das casas, a ajuda era coletiva, cada
terreno de cada vez, mulheres, homens e até crianças trabalhavam, dispunham
de tres tratores em que os colonos ajudavam com a gasolina e outros reparos.
Foram dois os motivos que contribuíram para a crise na agricultura da
Várzea Alegre nos primeiros anos de cultivo: a má qualidade do solo e a falta de
chuvas. Muitas famílias desistiram da tentativa inicial e foram embora para a
cidade de Campo Grande e para o interior de São Paulo, outros conseguiram
voltar para o Japão com o pouco de dinheiro que ainda restava.
A agricultura não gerava resultados e a saída seria encontrar uma nova
atividade; seguindo exemplo de outras colônias japonesas mais antigas
instaladas no Estado de São Paulo, os colonos de Várzea Alegre, aconselhados
17
pela JAMIC, começaram, a partir de 1963, a montar as primeiras granjas de
galinhas para a produção de ovos (fig. 05).
Fig. 05 - Primeiras granjas de galinhas construídas
Fonte: Album da família Okishima, década de 60.
Inicialmente, as 14 famílias que se instalaram no primeiro ano, 1959,
constituíram informalmente a Cooperativa Autônoma de Várzea Alegre, cujas
prioridades eram o controle e a administração do caminhão presenteado no
momento da instalação da Colônia, e promover a assistência mútua entre os
colonos. O caminhão foi um bem importantíssimo da comunidade, contribuindo
largamente para o transporte de materiais de construção e outros recursos. Uma
vez por semana, a chamada " linha regular" partia com famílias na carroceria
para Campo Grande, a fim de comprar artigos necessários ao dia a dia. Hoje
essa estrada esta asfaltada e o trajeto não leva uma hora, mas na época era um
caminho de terra vermelha que, depois de uma chuva, fazia o percurso durar
quase meio dia.
Decorridos mais dois anos, com o aumento do número de colonos,
manter o formato de cooperativa autônoma resultava em alguns entraves para a
realização de diversas atividades e nos contatos com as autoridades. Em 1º de
dezembro de 1962, na sede situada defronte à estação Pedro Celestino, se deu
a dissolução da cooperativa autônoma para dar lugar à CAMVA (Cooperativa
18
Agrícola Mista de Várzea Alegre), entidade legalmente registrada. A Cooperativa
realizaria vários tipos de atividades, com destaque para a avicultura, as primeiras
bases da criação de aves foram estabelecidas por conta do parecer da missão
de levantamento mencionado acima. Os cooperados construíram granjas em
grupos de mais ou menos cinco famílias cada, a fim de economizar custos. A
produção começou a ser escoada para Campo Grande a partir de 1962, e
continua até os dias de hoje.
Entre aproximadamente 1970 e 1990, a cooperativa fornecia cerca de
90% dos ovos consumidos nos dois Mato Grossos, o do norte e o do Sul. A partir
daí, aumentou significamente a produção de granjas individuais e pequenos
produtores, e hoje a fatia é de cerca de 60%.
Fig.06 - Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado
. Fonte: Album da familia Okishima, década de 70.
19
No início, a coleta dos ovos era feita diretamente das granjas,
manualmente com cestas, como se ve na fig. 06, sendo contadas uma a uma
para se ter o controle da produção; o trabalho era feito pelos próprios colonos
com o auxilio de empregados chamados pelos japoneses de “camaradas”. Os
ovos eram trazidos das granjas até a “casa de ovo”, basicamente um galpão,
que ficava próxima; ali o processo de seleção era feito por tamanhos, em seguida
colocados em bandeijas de 30 unidades, embaladas e transportada pelos
caminhões da Cooperativa para a central, sendo comercializadas. A presença
das crianças na foto se justifica,pois seus pais passavam grande parte do dia na
casa de ovo, permitindo a entrada delas,que às vezes até ajudavam.
Quanto à parte educacional, além da escola já citada nos primeiros dois
anos da Colônia, famílias se revezam para ensinar o idioma japonês, mas, à
medida que a administração agrícola passou a ocupar mais e mais tempo, a
iniciativa foi desaparecendo espontaneamente. Mais tarde, em 1987, alguns
jovens pais tomaram a iniciativa de começar a ensinar o japonês a seus filhos e
para os nisseis (brasileiros filhos de imigrantes japoneses). Trabalho esse que
continua, embora modesto, até os dias de hoje.
Por fim, embora tenha nascido de forma problemática, sob acusações de
escolha errada do local e venda de terras impróprias, essa Colônia se consolidou
e ganhou o reconhecimento das outras, graças ao esforço e à união dos colonos
que, sem condições para se transferir, dedicaram-se à avicultura,
empreendimento que podia ser realizado em família.
20
1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre
Quinze anos depois da instalação da Colônia, no mês de julho de 1974,
quando as condições já eram um pouco mais confortáveis, foi construído o
ansiado Kaikan (recinto comunitário), graças a subsídios da JAMIC e doações
locais. Até maio de 1979, os eventos sociais e comunitários da comunidade eram
realizados na sede da cooperativa; todavia, com o clima de maior estabilidade
na colônia surgiram condições propícias para serem desenvolvidas atividades
mais abrangentes, o que levou à fundação da ACENBVA (Associação Cultural
e Esportiva Nipo Brasileira de Várzea Alegre), que promoveria as atividades
culturais que propiciaram harmonia e união entre os associados,entre outras
funções.
Fig.07 – Inauguração do Kaikan
Fonte: Album da familia Kanezaki, década de 70.
Como em todo local comunitário uma organização foi necessária; assim
como em qualquer outra colônia, nessa surgiu uma divisão de grupos, e uma
delas era o Nihonjinkai (Sociedade da Colônia Japonesa) de Várzea Alegre,
defendendo o bem comum da sociedade japonesa, bem como estimular a
educação, a cultura e o lazer.
21
Outro grupo importantes é o Fujinkai (Associação de senhoras), que
busca a confraternização entre as associadas, defendendo os pontos postivos
da mulher japonesa, como a graciosidade, o recato e a suavidade, adequando-
se também aos bons costumes e moral do Brasil, sempre procurando absorver
novos conhecimentos, cutivando gostos finos, promovendo a educação para a
virtude e o cultivo da sensibilidade de seus filhos e netos, empenhando-se em
prepará - las para serem boas mães e boas esposas.
Sempre organizadas, fazem reuniões, são lideradas por uma delas
durante o ano, se unem para arrecadar dinheiro em eventos beneficentes que
são destinados a investimentos em prol do Fujinkai. São elas as responsáveis
pela culinária típica nas festas que ocorrem nos eventos e outras funções que a
mulher japonesa faz em sua tradição. As comidas preparadas são em geral o
Norimaki (shitake, gengibre, omelete, cenoura cozida e massa de peixe
envolvidos por arroz japones temperado com alga desidratada), o Harussamê
(macarrão japones de aspecto fino e transparente, temperado com vinagre de
arroz e servido gelado com pepino, kani kama e outros), Nishimê (cozido com
ingredientes variados, entre eles: queijo de soja frito, massa de peixe, caldo de
peixe, inhame, alga marinha, shitake, broto de bambu, batata entre outros) e o
Oniguiri (bolinho de arroz japones e alga marinha); esses são os mais comuns
em festas da colônia, além das comidas típicas, tambem tem o preparo do
churrasco, que vem sendo consumido desde a origem da colônia, pela região
estar cercada de áreas de pecuárias e também, o pastel que, mesmo não sendo
típico, integrou seu cardápio pela sua apreciação e praticidade.
22
Fig.08 - Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos eventos.
Fonte: Album da família Kanezaki, década de 70.
Por mais que a cultura brasileira já estivesse muito presente na vida dos
imigrantes, o nihonjinkai (associação dos japoneses) tem em maioria os isseis
(nascidos no Japão) que, com o passar dos anos, vão envelhecendo e, junto
deles, as experiências e os conhecimentos da cultura japonesa, que se não
colocadas em prática, facilmente serão esquecidas ou se tornarão
desconhecidas pelos descendentes nascidos no Brasil. Para que isso não
ocorra, é muito importante que os filhos e netos tenham frequentado a escola
japonesa, por exemplo, mesmo que poucas vezes por semana; assim,
aprendendo o idioma, poderão manter diálogo e troca de informações com os
isseis, já que na colônia é comum o convívio entre três gerações ou mais na
mesma casa. Essa convivência desperta o interesse, por exemplo, pelo modo
de preparo de receitas culinárias e pelas vestimentas em dias de festas
tradicionais. Isso já ajuda a manter viva a cultura que tanto os imigrantes
persistiram para que não fosse esquecida. Mantendo a renovação da cultura
através das novas gerações, hábitos como a disciplina, organização e a
persistência, que fizeram os japoneses superar vários obstáculos até os dias de
hoje, também poderão ser mantidas.
23
Canclini (2008) afirma que, embora exista um processo de
homogeneização globalizante que faz aflorar diferenças e integrações, esse
processo não anula a cultura local, ou regional; em outras palavras, seria como
dizer que “viver em uma cidade não implica dissolver-se na massa e no
anonimato” (CANCLINI, 2008, p. 286). Para esses imigrantes, acima de tudo, era
fundamental, como afirma Stuart Hall (2003), possuir uma identidade cultural,
estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando
ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta.
1.2 Principais atividades da AECNBVA
No recinto comunitário (kaikan) acontecem vários eventos tradicionais do
Japão, que até hoje os colonos mantem, para não se esquecerem da sua terra
de origem; eles estão sempre tentando repassar aos descendentes a cultura
para que seja relembrada nas futuras gerações.
Cada evento envolve todos os associados, desde a preparação dos
alimentos, em que os homens se encarregam do churrasco e as mulheres das
comidas típicas; outros limpam ao redor do local para que tudo fique pronto para
receber os visitantes, até o desfecho, em que todos se juntam na limpeza do
kaikan.
1.2.1 Shinnenkai
De acordo com o calendário da associação da Jamic, o ano começa com
o Shinnenkai, em que shinnen= ano e kai = reunião / festa; geralmente no inicio
de janeiro, é tradição realizar a cerimônia reunindo todos para as boas vindas do
ano novo; cada família leva uma porção de comida. A festa ocorre no kaikan e
se consome, em especial, o ozooni, uma sopa com legumes, algas, shitake e
môti2, trazendo muita sorte àqueles que tomarem, segundo a supertição.
Aproveitam a reunião para planejar o ano em relação à associação.
1.2.2 Nyuushokusai
2
Bolinho de arroz insípido feito com arroz específico após ser batido até obter consistência firme e lisa.
24
O Nyuushokusai é o aniversário da colonia que acontece em maio,
reunindo não só todos os associados mas, também, convidados especiais, como
as autoridades do município e pessoas de outras associações nipo brasileiras.
As atrações são livres, para qualquer um que quiser se apresentar, mas sempre
contando com as apresentações das senhoras do fujinkai, que se apresentam
com músicas típicas e tradicionais da terra de origem e da escola japonesa
(nihongo gakko), em que os alunos apresentam danças, coral ensaiados pelas
professoras (mães de alunos), e teatros representando estórias como por
exemplo do Ojizousan uma das imagens mais populares do budismo que são
esculturas, geralmente um monge sorridente de baixa estatura, vistas por todo o
território japonês, até em ruelas e vilas com pouquíssimo movimento.
No passado, como a viagem era muito perigosa, pois incluía a travessia
de matas muitos se perdiam e morriam diante do clima
severo, os moradores da região colocavam essas estátuas pedindo proteção aos
viajantes e também às crianças. As oferendas (geralmente o môti – bolinho de
arroz), que os moradores até hoje colocam, serviam de alimento emergencial
para os que passavam por lá, o conto folclórico japones fala sobre um casal de
idosos viviam distante da cidade e passariam o final de ano na miséria, sendo
assim a mulher fez potinhos para por carvão mandando o homem ir até a cidade
para vendê-los, não conseguindo dinheiro, decide trocar sua mercadoria por
chapéus de um outro vendedor, voltando para casa, ele encontra seis ojizousan
que estavam cobertos de neve e resolve cobri-los com os chapéus, como só
tinha cinco destes, cobriu o sexto com seu próprio lenço, chegando em casa
conta o ocorrido para a mulher e jantam apenas água fervida e conservas, logo
depois escutam barulhos na porta e ao sair para verificar se deparam com
comidas e fortunas deixadas pelas estátuas que estavam indo embora. As mães
destes alunos são as responsáveis pela coreografia, cenário e roupa, geralmente
com temática da cultura japonesa.
1.2.3 Undokai
O modelo do atual undokai foi criado no século XIX, no início da Era Meiji (1868-
1912), e embora atualmente a gincana poliesportiva seja essencialmente um
evento social e familiar, na sua origem, era uma atividade militar em que as
25
escolas tinham o dever de prepara alunos para o exército com outras atividades
físicas além dos esportes tradicionais praticados. Ocorre no mês de julho na
colônia para coincidir com as férias escolares das crianças, porem da maioria
dos undokais são realizadas no mês de maio no Brasil, por ser o mês dos
meninos no Japão; é uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no
campo de beisebol. O adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris, são carpas
gigantes de tecido colorido que “nadam” no céu hasteadas num grande mastro
de bambu, antes simbolizando o dia dos meninos pela comparação da carpa
pela força, persistência, bravura e sucesso e durante o pós guerra passou a ser
também o dia das crianças.
No início do evento os hinos do Brasil e do Japão são cantados, enquanto
o presidente da associação e o prefeito do municipio hasteiam as respectivas
bandeiras. As brincadeiras são diversas, recebem os melhores prêmios os três
primeiros lugares e o prêmio de consolação vai para o restante. Nos intervalos,
as famílias levam lanches à moda japonesa, tais como bolinhos de arroz, doces,
etc. Tomam-se em conjunto os lanches, elogiando-se reciprocamente as
habilidades no seu preparo, mesmo as comidas cotidianas eram bem recebidas
nessas ocasiões.
Fig.09 - Brincadeira da pescaria no Undokai de Jamic.
Fonte: Album da família Aizawa.
26
No undokai há diversas brincadeiras, entre elas a pescaria, realizada até
hoje, em que dada a largada os participantes correm até as respectivas varas
feitas de bambu, com um gancho pendurado, como mostrado na (Fig.09), e
correm até os peixes feitos de papelão pelos próprios colônos; o primeiro a
conseguir “pescar” pula a divisória e corre até a linha de chegada; a chegada só
é válida se o participante chegar com o peixe devidamente no gancho.
1.2.4 Bon Odori
É a celebração em homenagem aos mortos, na colonia, ocorre no mês de
agosto, num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares, o local do
evento é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin; no inicio
do evento ocorre a missa, com a presença de um missionário budista convidado,
todos ficam de frente a um altar (butsudan) onde é guardada todos os ícones e
acessorios budistas utilizados nas missas junto com oferendas a Buda como
bolinhos de arroz ansiando prosperidade, frutas por serem menos perecíveis,
velas, água além da queima do incenso criando uma atmosfera de pureza. A
maioria dos presentes são os idosos praticantes do budismo; logo depois,
acontece o jantar com comidas típicas, em especial, o ohagi3 que, pela tradição,
é uma oferenda comum levada para ancenstrais.
Mais tarde todos se reunem e dançam ao som de músicas tradicionais
alegres em maioria, manifestam o sentimento de gratidão a Deus pela boa
colheita ou por uma boa produtividade do ano. No centro, alguns com mais
habilidade ritmica tocam o taikô4, de forma aleatória, mas em harmonia com a
música. Em volta num grande circulo dançam pessoas de todas as idades com
movimentos que representam a letra da música.
3
Alimento doce feito de arroz específico coberto por doce de feijão azuki chamado “ankô”.
4
Instrumento de percussão, cuja superfície é confeccionada com pele de animal. É tocada com a mão ou
com o uso de uma baqueta, muito usada em festas xintoístas e budistas.
27
Fig. 10 - Ensaio de dança para o Bon Odori
Fonte: Album da família Aizawa.
1.2.5 Bonenkai
É a tradicional confraternização de encerramento do ano que ocorre em
algum sábado de dezembro à noite, onde todos se reúnem, trazendo familiares
de fora da colonia e amigos. Um bingo é realizado após o jantar, com prêmios
diversos, muitos deles doados por amigos e familiares. Ao pé da letra significa
esquecer o ano que se foi; a festa é para se purificar o espírito.
1.3 A Casa de Estudante JAMIC
Os estudantes que concluiam o ensino fundamental e queriam melhores
condições de estudo e um local adequado para sua instalação, receberam
gratuitamente um terreno de 1.288 m²,a fim de continuarem os estudos na cidade
de Campo Grande. A casa do estudante foi assim construída, com assistência
financeira da JAMIC e doações dos colonos, sendo um conjunto de alojamentos
inaugurado em março de 1982, com 647,26m², e outro em fevereiro de 1989 com
28
234,38m2, tornando se um ponto de apoio na capital Campo Grande para a
educação dos descendentes de imigrantes, para prosseguirem os estudos no
ensino médio e no superior. Funcionando até os dias de hoje, e localizada
próximo à CAMVA de Campo Grande.
Fig. 11 - Placa exposta em frente a casa de estudante em Campo Grande - MS
Fonte:(https://mbasic.facebook.com/pensionato.jamic.5?_rdr.)
1.4 Associação Esportiva
Na área esportiva, o beisebol, inicialmente praticado com os atletas
calçando tabis (sapatilhas japonesas de tecidos), foi passado às gerações
seguintes, mantendo-se como o principal esporte da colonia. Outras
modalidades ativamente praticadas são o softbal, e o gateball. A comunidade
dispõe de uma quadra de beisebol, duas quadras de softbal, duas de tênis e três
de gateball.
O beisebol era muito praticado pelos imigrantes no Japão por ser um
esporte comum nas escolas; com o passar da estadia no Brasil sentiram falta de
lazer e do esporte; no começo, improvisaram materiais, já que não são fáceis de
encontar, e participavam em amistosos com times de cidades e estados vizinhos.
29
Fig. 12 - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre.
Fonte: Álbum da família Okishima
O time era composto, na maioria, de homens jovens que já tinham base
das regras do esporte aprendidas nas escolas no Japão; as mulheres presentes
na fig. 12 são amigas e parentes dos jogadores, dando força nas torcidas, em
jogos dentro e fora de Jamic; os treinos proporcionam a reunião e lazer a eles.
O gateball é um esporte que utiliza o taco e a bola e é praticado em terra
batida na colônia. As regras parecem simples, mas, por ser um jogo de equipe,
são bastante rigorosas. Em princípio, basta acertar a bola com um taco e passá-
la por três traves, cada uma com 22 centímetros de largura. Cada jogador ganha
um ponto pela passagem da bola na trave e dois quando acerta no pino central.
Por ser um jogo leve, com um desgaste físico moderado, gateball é indicado para
pessoas de qualquer idade e sexo, sendo que, na colônia, a maioria dos
jogadores são os idosos, que praticam durante a noite ou tarde.
O softbol é uma variação do beisebol, mas um pouco mais leve, devido à
bola ser menos dura e maior. Fora isso, segue basicamente as mesmas regras
do beisebol. O campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe;
é praticado tanto por homens como por mulheres e crianças. Hoje em dia na
colônia, um grupo misto de mulheres e homens se reúne todo domingo à tarde
30
para treinar amistosamente. Mas já houve tempos em que times de beisebol e
softbol eram formados por jovens e adultos, sempre conseguindo boas
colocações nos campeonatos interestaduais.
Algumas das influências, como os esportes citados acima, foram
consequência do extraordinário crescimento econômico que o Japão passou a
mostrar no pós guerra, em que as empresas japonesas apresentavam um
grande aumento, tanto de produção como de desenvolvimento tecnológico; e
isso era impulsionado por uma sociedade cada vez mais direcionada para o
consumo. A população era cada vez mais exposta, ao ideal de vida da família de
classe média norte-americana da época como modelo. A base material deste
modelo estava na aquisição da casa própria, com um carro na garagem e uma
televisão na sala de estar. (YOSHIMI, 2000).
Como explica Canclini (2003), o processo de globalização afeta
diretamente as culturas locais trazendo a hibridização; em outros termos,
significa que as novas relações sociais e econômicas impostas aos sujeitos na
pós-modernidade trazem, por um lado, como uma de suas consequências, os
processos de homogeneização cultural e, por outro, relações interculturais. O
crítico argumenta ainda que essa hibridização cultural leva a outros dois
processos inerentes ao momento no qual vivemos: a desterritorialização e
reterritorialização. Tais processos correspondem, respectivamente, à “perda da
relação ‘natural’ da cultura com os territórios geográficos e sociais. (CANCLINI,
2008, p. 309).
O fenômeno da globalização contribui para o deslocamento das
identidades culturais desintegrando-as, homogeneizando-as e,
consequentemente, enfraquecendo-as.
O confronto com uma verdadeira gama de identidades culturais é traço
marcante da contemporaneidade. Ela, inegavelmente, tem um efeito pluralizante
sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas
posições de identificação, tornando as identidades menos fixas e unificadas.
31
2 A FOTOGRAFIA ENTRE DOCUMENTO E ARTE
Quase dois séculos depois da invenção da tecnologia fotográfica, na década
de 1830, a fotografia ganha destaque como forma de arte contemporânea. No
século XXI, o mundo da arte acolheu plenamente a fotografia como suporte
legítimo, em pé de igualdade com a pintura e a escultura.
Usamos a comunicação baseada unicamente em imagens em nossas
interações cotidianas, nas redes sociais e nas plataformas de compartilhamento
de fotos. Essas novas facetas da produção de imagens não afetam somente as
linguagens visuais e as formas de disseminação da fotografia como arte
contemporânea, também nos impelem a definir de modo mais especifico, diante
da nova onipresença da fotografia na vida cotidiana, quais práticas fotográficas
devem ser consideradas artísticas. (COTTON, 2013).
Algumas fotos têm um estilo evidentemente informal e amador, os fotógrafos
contemporâneos agregam esse estilo expressivo, como sua construção de
sequências dinâmicas e seu foco em momentos inesperados da vida cotidiana.
As origens dessa abordagem estão na arte conceitual de meados dos anos
60 e 70, quando a fotografia se tornou um veículo central na disseminação e na
comunicação de maior amplitude das apresentações artísticas, assim como de
outros trabalhos de arte temporários. No âmbito da prática da arte conceitual, as
motivações e os estilos dessa fotografia foram nitidamente diferentes de modos
já consagrados pela refinada fotografia de arte daquela época. Em vez de exaltar
a atividade fotográfica virtuosística ou de distinguir alguns profissionais
relevantes com o rótulo de “mestres” da fotografia, a arte conceitual minimizou a
importância da autoria e da competência prática, aproveitando a capacidade
inabalável e cotidiana da fotografia de retratar as coisas: adotou um visual
peculiarmente “não artístico”, “inexperiente” e “anônimo” para enfatizar que a
importância artística residia no ato retratado pela fotografia. (COTTON, 2013).
A ideia é usar todos os recursos de uma forma diferente do habitual; a
fotografia artística é a arte de fotografar de maneira não convencional, em que
não existe uma preocupação única de retratar a realidade. Vai além disso, o
fotógrafo registra o tema de uma forma que transcende o ordinário, coloca a sua
emoção, sua expressão e a sua perspectiva do mundo na imagem que produz.
32
2.1 Arte e Documentário
Podem parecer termos conflitantes, mas o fim da década de 1970 viu
mudanças radicais na percepção e no consumo da fotografia. Combinadas com
a nova forma de pensar a linguagem visual, essas mudanças desafiaram as
distinções entre as modalidades da prática fotográfica. Mudanças em filmes e
câmeras – de 35mm para o formato médio e grande – e o uso de cor introduziram
meios alternativos de ver o mundo. Os fotógrafos documentais adotaram
métodos de trabalho da fotografia artística, e artistas contemporâneos passaram
a explorar modalidades documentais. (HACKING, 2012).
Entende-se a fotografia documental como aquela desenvolvida a partir de
um projeto previamente elaborado por um autor que possui conhecimento e
envolvimento com o tema abordado, cujas fotografias são devidamente
organizadas e apresentadas por meio de uma narrativa que descreve, num
determinado tempo e espaço, as ações e seus personagens.
Além de difusora de informações, é também provedora de prazer estético
e formadora de opinião. A fotografia é composta de estilos e técnicas expressivas
e elaboradas pelo realismo, com a intenção de ter semelhança com o natural e
registrar a percepção do mundo e de acontecimentos diversos pelo fotógrafo em
diferentes momentos. A preocupação em ser fiel ao visível deixou de ser
prioridade, e os fotógrafos começaram a transportar para suas imagens as
elaborações de sua própria personalidade.
No processo de intermediação entre o imaginário e a fotografia os
fotógrafos utilizam a criatividade para colocar em prática novas formas de
representação. O desfoque, o borrado, a sobreposição de imagens, ou seja,
recursos técnicos que não eram muito utilizados passaram a fazer parte da
linguagem da fotografia contemporânea. (ROUILLÉ, 2009).
Também houve a tentativa de explorar o caráter expressivo das
fotografias, aqui consideradas como imagens, buscando uma possível forma de
pensar as fotografias. Está sendo formada uma nova cultura de apreciação
delas, com foco em sua plasticidade, conteúdo estilístico e no caráter expressivo
que lhe pode ser conferido. No entanto, a novidade tecnológica, tão comum entre
os fotógrafos, não é necessariamente sinônimo de inovação estética, pois esta
depende muito mais do imaginário do artista. (ROUILLÉ, 2009).
33
Uma das melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é
através de suas imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas,
praças, monumentos preservados, mas também os seus costumes, festas,
tradições, língua, roupas, gestos e olhares que nos dizem sem palavras como
viveram e o que vivem, suas esperanças e medos, o que eram em seu passado,
o que eles esperavam do futuro.
Segundo a autora Annateresa Fabris (2004), o retrato fotográfico contribui
para a afirmação moderna do indivíduo, na medida em que participa da
configuração de sua identidade como identidade social. Todo retrato é
simultaneamente um ato social e um ato de sociabilidade. Não se pode esquecer
que à imagem fotográfica é conferido um papel moral, que transforma o retrato
no exemplo visível de virtudes e comportamentos a serem partilhados pela
sociedade.
Do ponto de vista ético, as portas encontram-se abertas para a construção e
montagem das cenas que permeiam o imaginário dos fotógrafos ao produzirem
suas imagens. O resultado é uma nova maneira de abordar e apresentar os
temas, uma nova visualidade que, sem perder o espírito crítico, “propõe uma
visão e um julgamento” (COTTON, 2013).
Ao contrário das tradicionais coberturas fotojornalísticas nas quais se
busca o impacto como elemento fundamental, o mundo social será configurado
de modo diferente, tanto na forma quanto no conteúdo, por profissionais que
preferem registrar “a realidade” de modo indireto, inteligente e poético.
(COTTON, 2013).
A fotografia documental pode – e continua – servir de testemunha dos
acontecimentos e das condições de vida do homem no mundo. Os textos de
apoio e as legendas das imagens são muito importantes, pois não apenas
transmitem informações sobre as pessoas e suas histórias pessoais (quem são,
onde e como vivem etc.), como também inserem suas falas, reforçando o papel
do fotógrafo como seu mediador.
(...) a fotografia é um duplo testemunho: por aquilo que ela nos
mostra da cena passada, irreversível, ali congelada
fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca de seu
autor (...) é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo
tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda
fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro
34
lado, ela representará sempre a criação de um testemunho
(KOSSOY, 1999, p. 33)
Diante do exposto, confirmam-se as diversas possibilidades de criação na
fotografia documental contemporânea notam-se assim diversas mudanças,
como a produção de fotografias coloridas e mais descoladas de seus referentes,
o uso de narrativas não lineares, o dialogismo (fotógrafo/fotografado) e a
montagem das cenas, enfim, uma busca maior pelo prazer estético, sem
esquecer a importância do conteúdo informativo daquilo que poderia ser
chamado de “novo documento”. (COTTON, 2013).
2.1.2 Paul Graham (1956)
Na década de 1980, o fotógrafo britânico Paul Graham produziu trabalhos
inventivos que exemplificam a fusão entre arte e documentário que floresceu
nesse período. Seus trabalhos influíram no ressurgimento da fotografia
documental e no interesse pelas culturas da fotografia no Reino Unido e na
Europa. Graham estava trabalhando com fotos coloridas, que grande parte dos
fotógrafos da época rejeitava como agressivas, pouco confiáveis e sem
subjetividade. Mas ele utilizou a cor para produzir fotos poderosas que funcionam
esteticamente e como documentário social. (HACKING, 2012).
35
Fig. 13 - Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul Graham
Fonte: (http://www.theguardian.com/artanddesign/2009/mar/02/paul-graham-shimmer-
possibility)
Graham combina paisagens e retratos para criar uma visão melancólica
de um país à beira da mudança social divisora resultante do período de Margaret
Thatcher como primeira-ministra. Na foto (fig. 13), a paleta é atenuada e
pictórica, uma paisagem desolada se torna sublime pelas gradações sutis de tom
e cor. (HACKING, 2012).
2.1.3 Martin Parr (1952)
O uso das cores foi o verdadeiro divisor de águas na fotografia
documental; em 1982 o fotógrafo inglês Martin Parr começou a fotografar em
cores e com uma câmera de formato médio. Seus trabalhos causaram um abalo
sísmico nas percepções do documentário, seu uso de cores foi controverso por
ser exclusividade dos fotógrafos editoriais e de moda.
36
Fig.14 - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr.
Fonte:(http://marcelocaballerofotografia.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html)
Enquanto a cor de Graham é sutil, a de Parr queima sob o flash forte e
superexposição, recriando o calor e a energia de um dia de passeio inglês ao
sol. Subitamente, apesar de controvérsia por usar assim a fotografia colorida, o
preto e branco pareceu ultrapassado. (HACKING, 2012).
2.1.4 Walter Firmo (Rio de Janeiro, RJ, 1937)
Fotógrafo, jornalista e professor. Autodidata, inicia sua carreira como
repórter fotográfico no jornal Última Hora, no Rio de Janeiro, em 1957.
Conhecido por suas fotos coloridas e por retratar importantes cantores da música
popular brasileira, inicia pesquisas sobre festas populares e folclore nacional.
O tema principal das fotos de Walter Firmo é a figura humana. Revela
particular interesse pelos costumes e festas populares brasileiras, realizando
ampla documentação fotográfica, na qual se destaca aquela sobre o carnaval do
Rio de Janeiro. Produz imagens marcantes como de integrantes de escolas de
samba viajando em um trem de subúrbio, até o local dos desfiles, salientando o
37
contraste entre a alegria da festa e o duro cotidiano da população menos
favorecida.
Fig. 15 - Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo.
Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseactio
n=artistas_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555)
Na série Festa do Maracatu-Rural, 1997 (fig. 15), retrata a população em
trajes típicos, em meio a paisagens de grande luminosidade. É o fotógrafo que
se destaca pela exploração sensível da cor e da luz, mantendo diálogo com a
pintura. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
38
Fig. 16 - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo.
Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artista
s_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555)
Nessas imagens, Walter Firmo nos dá a possibilidade de visualizar as
festas populares a partir de ângulos não convencionais do tema, reinventando a
imagem que todos têm sobre tais festas e culturas, sempre atento a cada
oportunidade de captura da foto.
Firmo é o nosso poeta da câmera. A sua intimidade com o
aparelho é tão intensa e a sua forma de olhar o mundo tão
absolutamente fotográfica, que ele consegue passar com a
maior naturalidade do mais rigoroso abstracionismo construtivo
ao mais doce lirismo impressionista - e sem deixar de ser fiel ao
seu estilo inconfundível. (MACHADO).
Retratou a essência do povo, fotografando a riqueza do folclore e a
mistura de etnias em nosso país sendo marcados pelas cores saturadas e pelo
contaste encontradas em suas obras abordando festas populares, o subúrbio
entre outros.
2.1.5 João Urban (Curitiba PR, 1943)
É um fotógrafo publicitário que se dedica também a projetos documentais.
Nesses trabalhos, ele frequentemente enfoca aspectos sociais e culturais do
Estado onde mora, o Paraná. Seus ensaios mais conhecidos registram
39
camponeses diaristas, os chamados boias-frias; imigrantes poloneses e seus
descendentes que vivem nos municípios de Tomás Coelho Murici e Cruz
Machado; e a estrada que vai de Viamão, Rio Grande do Sul, a Sorocaba, São
Paulo, conhecida como Caminho das Tropas. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
Os conjuntos são formados, sobretudo, de retratos posados - em preto-e-
branco ou coloridos - feitos com luz natural, de maneira direta e frontal. Desde
então, a fotografia documental é considerada como um campo de atuação
privilegiado no contexto do fotojornalismo, em que o operador da câmara alia
seu ponto de vista à denúncia de injustiças sociais e à divulgação de realidades
pouco conhecidas. Nesse tipo de produção, as qualidades estéticas são tão
importantes quanto o conteúdo e, por isso, os resultados muitas vezes são vistos
como artísticos.
No ensaio sobre as colônias polonesas (fig.17), descrever a cultura
material local é tão importante quanto retratar as pessoas. Elas são
apresentadas no interior ou diante de suas casas, em ambientes modestos, mas
cuidados com asseio. Os colonos são mostrados em sua integridade, de corpo
inteiro, em seus afazeres domésticos ou mirando a câmara com segurança. Mas
sua intimidade não se revela pela maneira como eles se colocam à disposição
da câmara, e sim por meio dos objetos pessoais. As fotos descrevem com
detalhes a decoração dos cômodos: paredes de coloração esmaecida, repletas
de imagens religiosas e fotos de família, flores de plástico, almofadas e móveis
com estampas variadas, toalhas e toda espécie de utensílios. Além do cuidado
com a clareza da composição, as qualidades formais das imagens provêm, em
parte, de uma estética vernacular. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
40
Fig. 17 - Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban.
Fonte: (http://www.colecaopirellimasp.art.br/autores/47/obra/149)
Quando uma produção como a de Urban é exibida no circuito das artes
plásticas - em museus, galerias e catálogos de arte, uma das principais
características da arte moderna nacional da primeira metade do século XX é
atualizada: o empenho em chamar a atenção para questões sociais e para a
população do interior do país. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
O uso de referências como Martin Parr e Paul Graham foram escolhidos
com intuito de melhor explicar o início e destaque do uso das cores em
fotografias documentais, enquanto a escolha dos fotógrafos brasileiros João
Urban e Walter Firmo se dá pela minha identificação com seus temas sobre
colônia de estrangeiros e festas típicas e tradicionais respectivamente, além do
uso da fotografia colorida em ambos os trabalhos, chegando mais próximos à
minha proposta dentre outros artistas fotógrafos pesquisados.
Acompanhamos durante o capítulo a fotografia documental o
fotojornalismo tradicional, começando a ser mais artística diversificando pontos
de vista e modalidades, mostradas nas obras dos fotógrafos artistas citados,
cada um apresentado uma forma própria de valorizar a cultura e costumes de
um povo, além do conteúdo e história que cada imagem traz.
41
3 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E ANÁLISE DAS OBRAS
Este capitulo será destinado à descrição prática da proposta desde a
escolha do tema até a finalização da série de fotografias.
3.1 Escolha do tema
Pela minha descendência japonesa e por fazer parte da colônia Jamic,
senti necessidade de dar destaque aos imigrantes que influenciaram de certa
forma com o desenvolvimento do estado de Mato Grosso do Sul; com 55 anos
de existência e muita das primeiras famílias ainda presentes, achei o momento
oportuno para aproveitar o que eles têm a contribuir com a pesquisa deste
trabalho.
Para isso a escolha da fotografia, apresentaria melhor este projeto, pela
possibilidade de captar com mais realidade o tema escolhido, especificamente a
fotografia documental já que, como comentado no capítulo anterior, “uma das
melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é através de suas
imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas, praças, monumentos
preservados, mas também os seus costumes, festas, tradições, língua, roupas,
gestos e olhares que nos dizem sem palavras como viveram e o que vivem, suas
esperanças e medos, o que eram em seu passado, o que eles esperavam do
futuro. “
3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas
O domínio de algumas técnicas é necessário para a possibilidade de
ousar, não existindo uma preocupação única de retratar a realidade.
As fotografias que compõem esta pesquisa teórica e prática, tiradas em
momentos e ambientes diversos, com uma câmera semi profissional, todas
coloridas, à qual se trata de um povo cheio de culturas e tradições, sendo
necessárias as cores para captar detalhes. Dentre as configurações utilizadas
estão basicamente a abertura de diafragma, o tempo de exposição e o ISO, que
vem do inglês: International Organization for Standardization significando em
42
português: Organização Internacional para Padronização; norma que se refere
à sensibilidade fotográfica também conhecida como sensibilidade ISO.
De acordo com cada situação busquei um equilíbrio entre elas, para obter
uma imagem nítida e com enquadramento adequado.
Para que as fotos não tivessem vestígio de movimento dos fotografados,
usei uma exposição rápida, consequentemente, a entrada de luz diminuiu,
escurecendo a foto. Para uma correção compensei no ISO pois quanto maior o
ISO, mais sensível está o sensor; e mais luz é absorvida. Portanto, escolhi um
alto valor de ISO para algumas fotos, tendo cuidado para não granular a imagem,
já que a qualidade e a nitidez tendem a diminuir ao aumentar a sensibilidade
ISO. A abertura do diafragma também foi utilizada, pois controla a quantidade de
luz na câmera, ora usando maiores aberturas para clarear a imagem, ora usando
menores aberturas para escurecer.
Fig.18 - Gráficos com valores padrão das configurações básicas da câmera.
Fonte: (http://marioamaya.com.br/blog/2010/06/01/os-quatro-numeros-magicos/)
As progressões de valores mostradas no gráfico são geométricas, ou seja,
cada etapa é proporcional à anterior. As câmeras também podem trabalhar com
valores intermediários “quebrados”.
43
3.3 Processos de Produção
Por meio do uso de configurações da câmera busquei o resultado mais
próximo do que queria para não necessitar de muitos ajustes nas imagens
originais. Foi utilizada uma câmera do tipo DSLR singla em inglês para digital
single lens reflex, que traduzida seria: "câmera digital de reflexo por uma lente"
o que possibilitou o uso no modo manual podendo configurar de acordo com
cada situação conseguindo deixar da forma desejada e esperada.
Ao passar os registros fotográficos para o computador, foram feitos
pequenos tratamentos em algumas imagens com as ferramentas de saturação
e exposição encontradas no software Adobe Photoshop.
3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos
Após estudos feitos para compreender melhor o estilo fotográfico
escolhido e a história da colônia a ser documentada apresento uma série de 12
imagens como resultado do trabalho, além do processo de produção que
sintetiza o modo como foram ajustadas as fotografias e a seleção delas dentre
as várias capturadas em cada situação e momentos, sendo expostas neste
capítulo duas fotos testes com dimensão menor e a selecionada em tamanho
maior, sendo a foto escolhida aquela melhor resolvida e mais representativa de
acordo com cada tema, seguidas de legendas e análises.
44
Fig. 19 Fig. 20
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig.21 – Sem Título I
Foto: Suzy Kanezaki
O nítido equilíbrio da luz comparada ao teste (fig.19) e a abrangência de todos
os elementos principais como a mulher issei (nascida no Japão) e a televisão
transmitindo o canal fechado japonês diferente do teste (fig.20), foram os fatores
principais na escolha da imagem (fig.21). Com acesso a canais fechados, eles
têm a possibilidade de assistir a programas em canais japoneses, pois os idosos,
por exemplo, os que mais assistem, têm dificuldade na língua portuguesa, sendo
45
atualizados e informados em tempo real sobre seu país. A foto (fig.21) mostra a
colona assistindo a um programa de variedades no intervalo de suas atividades
cotidianas. Percebe-se que, apesar do quarto estar organizado, não se vê
preocupação com a decoração, se olharmos para os simples móveis, janela e
roupa, o que caracteriza a vida pacata na área rural em que vive.
Fig. 22 Fig. 23
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 24 – Fujinkai I
Foto: Suzy Kanezaki
46
Durante os preparativos para o 55º aniversário da colônia, me deparei com
mulheres do fujinkai (associação de senhoras da associação) descascando raiz
de lótus, usada como ingrediente nos pratos típicos que estavam sendo
preparados para a festa.
Uma delas, vinda na primeira leva da imigração para a colônia, e a outra, tendo
vindo mais tarde, observa-se o respeito, a afinidade recíproca e a união nos
trabalhos para a colônia, independentemente de sua geração.
A imagem retrata de forma natural e poética, o que não ocorre nas figuras 22 e
23 pelos gestos e expressões que não se encontram em sintonia, um momento
“isolado” dos preparos de um evento na colônia, em que se nota as expressões
dos rostos das mulheres transmitindo a informalidade mostrando que esses
eventos proporcionam união e reencontro, onde se divertem em meio ao
cansaço e trabalho que têm a fazer.
47
Fig. 25 Fig.26
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 27 – Fujinkai II
Foto: Suzy Kanezaki
A fotografia escolhida (fig.27) mostra a cooperação e a organização do trabalho
em equipe da associação que não é exibida na fig. 26, de senhoras da colônia
com o preparo das comidas típicas mostrada em minoria na fig.25 pelo fato de
exibir mais o pastel, que não é típica porém mostra a diversidade com pratos
tambem brasileiros para um evento que são conhecidas pela fartura e qualidade
dos alimentos, valorizando a dedicação dessas mulheres no processo que
antecipa um grande evento.
48
Diferente da imagem anterior (fig.24), a foto (fig.27) mostra a produção dos
alimentos típicos, quase num processo industrial. Refletindo os pontos positivos
da mulher japonesa empenhando-se no melhor para sua família e convidados,
além da preocupação da pontualidade e da organização. A luminosidade da foto
influencia na sensação de energia e força das mulheres trabalhando.
49
Fig. 28 Fig. 29
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 30 – Sem Título II
Foto: Suzy Kanezaki
De alguns anos pra cá, as mães voluntárias da escola japonesa começaram a
participar nas apresentações dos aniversários da colônia, sempre escolhendo
músicas bem humoradas e divertidas como na foto acima (fig.30).
A imagem (fig.30) mostra o momento que mais expressa a música dançada, com
a exposição de todos as participantes na apresentação, além do uso de
acessórios e roupas usados no típico festival tradicional japonês denominado
Matsuri que fazem referência à vários temas como alguma divindade, colheita
50
ou estações do ano. No Japão são inúmeras, realizadas nas ruas, variando datas
de região para região. Os acessórios como o leque e o mastro, que repelem
possiblidade de incêndio e desastres, apenas ilustram a letra da música (O -
Matsuri Mambo), que fala exatamente sobre isso, o termo “mambo”, do título da
música, faz referência ao ritmo latino por ser animado E o uso do Happi,
vestimenta típica usada informalmente nos festivais, pois é usada por
pescadores e lavradores por exemplo, muito representados nas músicas de
matsuri, com algum distintivo impresso nas costas, antes identificando de qual
família ou grupo pertencia. No caso da fig. 28 não trasmite a idéia que a dança
passa pela postura estática das mulheres e a fig. 29 não mostra os acessórios
utilizados importantes na composição da apresentação.
Mesmo se submetendo a situações em que não estão acostumadas, e nas quais
ficam, às vezes, desconfortáveis, a preocupação das mães em participar e servir
de exemplo para que seus filhos aprendam a cultura e a língua japonesa é mais
forte, pois sabem da importância de manter a cultura entre os descendentes,
cada uma usando o talento que pode oferecer. A cor vermelha ajuda a enfatizar
o calor do momento, a união e parceria estampada nos rostos das mães após o
fim de uma apresentação tão ensaiada nos finais de semana, ocasiões que
também geravam momentos de esforço e diversão.
51
Fig. 31 Fig. 32
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 33 – Sem Título III
Foto: Suzy Kanezaki
A fotografia (fig.33) mostra uma das cenas principais do teatro do conto folclórico
japonês Ojizousan que tem como personagens principais estátuas de pedra
muito conhecidas e tradicionais, com inúmeros significados, mas em geral
significando proteção contra males realizada no aniversário da colônia,
interpretado pelos alunos da escola de língua japonesa, mostrando todo o
cenário no palco produzida pelas mães (professoras voluntárias).
A imagem (fig.33) é uma apresentação dos alunos da escola de língua japonesa
no aniversário da colônia (nyushokusai). Os alunos são ensaiados pelas
professoras que dão atenção ao cenário e figurino, tentando deixar tudo mais
próximos do conto original, repassado por várias gerações. Nas figuras 31 e 32
52
apresenta cenas aleatórias do teatro não focando nos elementos principais do
conto como os personagens, cenário e acessórios.
Esse tipo de atividade proporciona aos alunos experiências para o futuro, apesar
da participação ser compulsória, aprendem de maneira divertida por estarem
entre colegas, além do fator social que a escola acaba oferecendo entre os filhos
e netos dos colonos.
Fig. 34 Fig. 35
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 36 – Undokai I
Foto: Suzy Kanezaki
53
A imagem (fig.36) com um ângulo inferior, teve o intuito de melhor exibir a
decoração e o espaço do local, em que o momento mais importante do evento
como o tradicional aquecimento ao som do radio taissô, é retratado de forma
mais dinâmica em relação às outras fotos mais estáticas, já que se trata de uma
gincana esportiva. A fig. 35 não passa a idéia de alongamento e na fig. 34 não
apresenta de forma equilibrada e clara os elementos princiais como os adornos
tradicionais e os participantes.
Antes das atividades do Undokai, após o canto do hino japonês e brasileiro, se
faz o alongamento ao som do Radio Taissô, que ao pé da letra significa ginástica
transmitida pelo rádio, costume japonês desde a década de 20. Com uma série
de movimentos simples, é praticada em quase todos os lugares no Japão, como
em escolas e serviços, até os dias de hoje. Todos se reúnem em filas e os
voluntários ficam na frente para auxiliar na sequência dos movimentos.
O centro de interesse foi enquadrado harmoniosamente com os objetos que se
encontram em primeiro plano, dando à fotografia uma sensação de
profundidade, não deixando que a foto seja considerada apenas um instantâneo.
O clima visto na imagem como o céu limpo e azul e o contraste com a terra batida
fazem parecer terem sido feitos especialmente para o evento, com o azul
transmitindo harmonia e saúde; e o contrastante com o marrom enfatiza o
contato com a natureza.
54
Fig. 37 Fig. 38
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 39 – Undokai II
Foto: Suzy Kanezaki
As crianças, público alvo do Undokai, ganham destaque nesta foto (fig.39), na
corrida de 50 metros. Inclui também quase todos os elementos que caracterizam
este evento, como as demarcações da pista de corrida utilizada na maioria das
brincadeiras, os adornos como o koinobori e bandeirolas e a arquibancada
improvisada, onde familiares e amigos torcem e descansam. Ambas as figuras
55
37 e 38 mostra o centro de interesse, na ocasião, as crianças de forma distante
não dando destaque à elas.
Na corrida de 50 metros os participantes são divididos por faixa etária; as
crianças entre 4 e 6 anos disputam a chegada com o incentivo do locutor do
evento. Ocorre no mês de julho, para coincidir com as férias escolares delas ; é
uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no campo de beisebol. O
adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris que são as carpas gigantes de
tecido colorido encontrados no plano de fundo da imagem (fig.57), que
simbolizava o dia dos meninos e durante o pós guerra, passou a simbolizar
também o dia das crianças.
56
Fig. 40 Fig. 41
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 42 – Bon Odori I
Foto: Suzy Kanezaki
A orientação horizontal na fig.42 da imagem teve influencia na escolha por
expressar paz, tranquilidade e harmonia presentes no instante da foto onde
durante a missa budista, diferente da fig.40, antes da janta e celebração com as
danças típicas do Bon Odori da colônia. Além da serenidade da baixa iluminação,
o modo em como os participantes se organizam, mostra respeito e disciplina. A
fig.41 mostra apenas o missinário budista não dando destaque para o momento
da missa com participaçaõ dos colonos.
57
Fig. 43 – Bon Odori II
Foto: Suzy Kanezaki
A fig.43 dá melhor destaque às praticantes mais assíduas do budismo e ao
missionário, permitindo perceber os elementos e acessórios importantes
utilizados no ritual espiritual realizado.
A celebração do Bon Odori se inicia com uma missa em memória dos mortos,
conduzida por um missionário budista convidado. Os mais adeptos do budismo
ficam na primeira fileira, sendo a maioria idosos, e é um costume cultural os
homens ficarem de um lado e as mulheres no outro. Ocorre no mês de agosto,
num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares. O local do evento
é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin. No altar onde
o missionário realiza a missa se encontram as oferendas a Buda, velas, incensos
e o sino budista que serve como louvor e alegria aos espíritos. Praticantes do
budismo acompanham a missa com uma espécie de rosário Odyuzu, tem o
intuito de trasnformar os problemas e sofrimentos em combustivel para nos
impulsionar para a felicidade. O ato de junar as mãos representa a fusão da
realidade e sabedoria – a fusão da nossa vida com a lei mística, entre outros
significados, já que se trata de uma religião cheia de símbolos e ícones.
58
Fig. 44 Fig.45
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig. 46 – Bon Odori III
Foto: Suzy Kanezaki
As tradicionais musicas do Bon Odori são tocadas e dançadas pelos colonos em
círculo com movimentos simbólicos e simples, usando roupas típicas e
manifestando o sentimento de gratidão a Deus pela boa colheita ou por uma boa
produtividade do ano., ao centro, se toca o instrumento taikô, acompanhando o
ritmo, sendo esta imagem (fig.46) a que melhor representa o momento principal
e mais esperado da festa. A fig.44 apresenta o mesmo objetivo da fig. 46, porem
de forma mais vaga e desiquilibrada enquanto a fig.45 não traz a imagem da
59
celebração em si apenas mostrando a participação da nova geração com trajes
típicos como o yukata que é um kimono informal de algodão estampado, sem
forro, sendo mais simples, fresco e leve que o kimono tradicional.
O momento da celebração, após a missa em respeito aos mortos, tambem
éconsiderada um Matsuri, já que e celebrado em homenagem aos
antepassados, com músicas tradicionais. O happi, a roupa que a maioria das
pessoas usa na imagem, é um quimono curto com mangas estreitas, usado
como jaqueta ou avental desde a Era Edo (1600-1867), tradicional em festivais
como este, no qual se imprimiam símbolos que indicavam a profissão de quem
o vestia entre outros distintivos.
60
Fig. 47 Fig. 48
Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki
Fig.49 – Softbol I
Foto: Suzy Kanezaki
O movimento dos atletas na imagem (fig.49) humaniza a foto, sendo este
escolhido, mostrando os jogadores do softbol em ação e em suas devidas
posições. Hoje o esporte se mantem como um dos principais praticado na
colônia. Nas figuras 47 e 48 mostram apenas fragmentos de imagens do esporte
podendo ser interpretadas de forma incompleta sobre o tema retratado.
O esporte é praticado tanto por homens como por mulheres. A foto mostra um
rebatedor em ação e o time adversário se movimentando para defender; não há
uniforme nos treinos, cada um veste o que for mais adequado para si, sendo que
os materiais, tanto pessoais quanto coletivos, como a luvas, tacos e bolas foram
61
adquiridos ao longo do tempo com recursos da associação e de doações. O
campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe e se reúnem
uma vez por semana para treinar amistosamente.
Fig. 50 – Softbol II
Foto: Suzy Kanezaki
Sendo frequentado hoje como hobby por maioria adultos aos domingos, a fig. 50
mostra o cuidado e prática do conhecimento básico importantes sobre o jogo
como suas demarcações e regras.
A demarcação do campo, a partir da área do rebatedor, mede aproximadamente
60 metros, formando um quadrado, com 2 bases em cada ponta deste. Alguns
têm o hábito de chegar mais cedo, adiantando o processo do treino e se
voluntariando a fazer as devidas marcações no campo de softbol, como o colono
da foto (fig.50). Os usos de linhas, como as mostradas nas diagonais da imagem,
funcionam como linhas de condução a fim de proporcionar um direcionamento
para o nosso olhar, que facilmente segue em direção ao assunto principal.
62
CONCLUSÃO
Mesmo já tendo conhecido e vivenciado eventos e alguns momentos
fotografados, o que possibilita a realização de rascunhos e breves
planejamentos das imagens, muitos imprevistos apareceram no período da
realização do trabalho, pelo fato de não serem fotos ensaiadas e em estúdio. E
foram encaradas como um desafio, muitas vezes saindo da minha zona de
conforto, superando expectativas em alguns resultados, sendo todas
satisfatórias.
O objetivo foi não deixar passar desapercebida a importância de uma
colônia não muito comentada em relação ao seu povo e a sua cultura, já que
cada vez mais se torna difícil a conscientização de seus descendentes para
mantê-los. O trabalho foi realizado em respeito e homenagem aos primeiros
imigrantes japoneses da região de Várzea Alegre que persistem em seus
costumes tradicionais.
Busquei nas fotografias minha maneira de ver a colônia Jamic, resultando
em imagens carregadas de significados transparentes de emoção, afetividade e
religiosidade, numa tentativa de diálogo entre a realidade e a imagem capturada,
através de conhecimentos e práticas obtidas a partir de aula e oficinas de
fotografia em semestres anteriores.
Por fim pude aprofundar os conhecimentos sobre a minha própria cultura
e sobre a história através de entrevistas e pesquisas impulsionadas por este
trabalho, além de me interessar ainda mais por este gênero e de me sentir
“afortunada”, de certa forma, por pertencer a uma colônia que ainda mantém
suas tradições, conseguindo compreender melhor essa importância.
63
Referências Bibliográficas:
ANDRADE, Rosana de. Fotografia e Antropologia: Olhares fora-dentro. São
Paulo: Estação Liberdade; EDUC, 2002.
Associação Esportiva da Colônia Japonesa em Campo Grande. AYUMI – A saga
da colônia japonesa de Campo Grande. Campo Grande - MS: Gibim, 2008.
COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil.
São Paulo: Cosac Naify, 2004.
COTTON, Charlotte: A Fotografia Como Arte Contemporânea. 2.ed. – São
Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.
Enciclopédia Itaú Cultural, João Urban. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17673/joao-urban Acesso em 1 de
dezembro de 2014.
Enciclopédia Itaú Cultural, Walter Firmo. Disponível em:
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21812/walter-firmo . Acesso em 1
de dezembro de 2014.
FABRIS, Annateresa. Identidades virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo
Horizonte: UFMG, 2004.
FABRIS, Annateresa. Fotografia: Usos e Funções no Século XIX. São Paulo:
Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012
64
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 2. ed. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.
MACHADO, Arlindo. O olhar essencial de um poeta da câmera. Folha de S.
Paulo).Disponivel
em:http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21812/Walter-Firmo Acesso 15
de junho de 2014.
MAGALHÃES, Angela; PEREGRINO, Nadja. Fotografia no Brasil: um olhar das
origens ao contemporâneo. Rio de Janeiro: Funarte, 2004.
MARIN, Jérri Roberto; VANSCONCELOS, Cláudio Alves. História Região e
Identidades. Campo Grande - MS: UFMS, 2003.
ROUILLÉ, André. A fotografia entre documento e arte contemporânea.
Tradução: Constancia Egrejas – São Paulo: Senac, 2009.
SMITH, Edward Lucie. Os movimentos artísticos a partir de 1945; tradução
Cássia Maria Nasser. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
TAVARES, Antonio Luis Marques. A fotografia artística e o seu lugar na arte
contemporânea. Revista Sapiens, 2009. Disponível em:
<http://www.academia.edu/1155767/A_fotografia_artistica_e_o_seu_lugar_na_
arte_contemporanea>. Acesso em: 10 dez. 2013.
YOSHIMI, Shunya. Interpretações da "cultura japonesa" e seus reflexos no
Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2010. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010269092011000100006&script=sci_ar
ttext>. Acesso em: 30 de julho de 2014.

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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL ARTES VISUAIS – BACHARELADO SUZY LIE KANEZAKI VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA CAMPO GRANDE – MS 2014
  • 2. SUZY LIE KANEZAKI VIDA E TRADIÇÃO NA COLONIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido para obtenção do grau de bacharel em Artes Visuais. Sob a orientação da Prof. Me. Aline Sesti Cerutti.
  • 3. SUZY LIE KANEZAKI VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAPONESA “JAMIC” ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA COMISSÃO EXAMINADORA ____________________________________ Profª. Me. Aline S. Cerutti Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. ______________________________________ Profª. Dra. Eluiza Bortolotto Ghizzi Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. _______________________________________ Prof. Me. Joaquim Sérgio Borgato Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande, MS, _____ de ___________________________ de 2014
  • 4. AGRADECIMENTOS Meus sinceros agradecimentos Aos meus avós por sempre me ajudar e apoiar em qualquer situação. Aos meus pais por serem tão dedicados e companheiros sempre buscando o melhor para mim. Aos meus tios Jânio e Lina que me proporcionaram condições melhores para os meus estudos resultando nesta conquista. À minha confidente e amiga irmã. Aos meus amigos e aos colegas que conheci durante o curso. À minha professora e orientadora Aline Cerutti pela paciência e atenção com meu trabalho. E à todos os professores do curso, pelos ensinamentos e dedicação.
  • 5. RESUMO A fotografia documental é trabalhada neste projeto, por se tratar da fotografia que retrata o ser humano, no caso, os colonos japoneses de Jamic em sua vida cotidiana, dessa forma imagens destes são obtidas em sua vida rotineira além de outras atividades, que na maioria das vezes são hábitos trazidos de seu país de origem. A pesquisa aborda o estilo de fotografia selecionado e a sua ligação com a arte contemporânea, juntamente com o tema do projeto. As imagens foram capturadas ao decorrer do ano de 2014 aproveitando o calendário de eventos da região. A produção resultou numa série de fotografias procurando usar o mínimo possível em tratamento digital e um trabalho teórico, onde todo o processo de pesquisa foi registrado. Palavras - chave: Arte Contemporânea; Fotografia Documental; Colonos Japoneses.
  • 6. LISTA DE IMAGENS Fig. 01: Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do Sul......................................................................................................................12 Fig. 02: Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do navio..................................................................................................................14 Fig. 03: Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de madeira..............................................................................................................15 Fig. 04: Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações................................16 Fig. 05: Primeiras granjas de galinhas construídas.............................................17 Fig. 06: Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado................................18 Fig. 07: Inauguração do Kaikan..........................................................................19 Fig. 08: Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos eventos..............................................................................................................22 Fig. 09: Brincadeira da pescaria no Undokai de Jamic..................................................................................................................26 Fig. 10: Ensaio de dança para o Bon Odori.........................................................27 Fig. 11: - Placa exposta em frente à casa de estudante em Campo Grande – MS......................................................................................................................28 Fig. 12: - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre.........................................29 Fig. 13: Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul Graham..............................................................................................................35 Fig. 14: - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr……………………………..36 Fig. 15: Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo............................37 Fig. 16: - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo...............................38 Fig. 17: Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban...................40 Fig. 18: Gráficos com valores padrão das configurações básicas da câmera...............................................................................................................42 Fig. 19: Foto teste 1, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44 Fig. 20: Foto teste 2, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44 Fig. 21: SemTítulo I, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................44 Fig. 22: Foto teste 3, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45 Fig. 23: Foto teste 4, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................45
  • 7. Fig. 24: Fujinkai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................45 Fig. 25: Foto teste 5, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47 Fig. 26: Foto teste 6, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................47 Fig. 27: Fujinkai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................47 Fig. 28: Foto teste 7, 2014, Suzy Kanezaki.........................................................49 Fig. 29: Foto teste 8, 2014, Suzy Kanezaki......................................................49 Fig. 30: Sem Título II, 2014, Suzy Kanezaki........................................................49 Fig. 31: Foto teste 9, 2014, Suzy Kanezaki......................................................51 Fig. 32: Foto teste 10, 2014, Suzy Kanezaki....................................................51 Fig. 33: Sem Título III, 2014, Suzy Kanezaki.......................................................51 Fig. 34: Foto teste 11, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52 Fig. 35: Foto teste 12, 2014, Suzy Kanezaki....................................................52 Fig. 36: Undokai I, 2014, Suzy Kanezaki.............................................................52 Fig. 37: Foto teste 13, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54 Fig. 38: Foto teste 14, 2014, Suzy Kanezaki....................................................54 Fig. 39: Undokai II, 2014, Suzy Kanezaki............................................................54 Fig. 40: Foto teste 15, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56 Fig. 41: Foto teste 16, 2014, Suzy Kanezaki....................................................56 Fig. 42: Bon Odori I, 2014, Suzy Kanezaki..........................................................56 Fig. 43: Bon Odori II , 2014, Suzy Kanezaki........................................................57 Fig. 44: Foto teste 17, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58 Fig. 45: Foto teste 18, 2014, Suzy Kanezaki....................................................58 Fig. 46: Bon Odori III, 2014, Suzy Kanezaki........................................................58 Fig. 47: Foto teste 19, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60 Fig. 48: Foto teste 20, 2014, Suzy Kanezaki....................................................60 Fig. 49: Softbol I, 2014, Suzy Kanezaki...............................................................60 Fig. 50: Softbol II, 2014, Suzy Kanezaki..............................................................61
  • 8. SUMÁRIO Introdução........................................................................................................09 1 Vida e Tradição na colônia Jamic.................................................... ............11 1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre....20 1.2 Principais Atividades da AECNBVA...................................................23 1.2.1 Shinnenkai...........................................................................23 1.2.2 Nyuushokusai......................................................................23 1.2.3 Undokai................................................................................24 1.2.4 Bon Odori.............................................................................26 1.2.5 Bonenkai..............................................................................27 1.3 A Casa de Estudante Jamic...............................................................27 1.4 Associação Esportiva.........................................................................28 2 Fotografia Entre Documento e Arte .............................................................31 2.1 Arte e Documentário..........................................................................32 2.1.2 Paul Graham........................................................................34 2.1.3 Martin Parr...........................................................................35 2.1.4 Walter Firmo.........................................................................36 2.1.5 João Urban...........................................................................38 3 Descrição do Processo de Produção e Análise das Obras........................41 3.1 Metodologia.......................................................................................41 3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas...............................................41 3.3 Processo de Produção.......................................................................43 3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos ............................................43 Conclusão........................................................................................................62 Referencias Bibliográficas..............................................................................63
  • 9. 9 INTRODUÇAO A pesquisa deste trabalho, envolvendo a colônia japonesa Jamic no município de Terenos em Mato Grosso do Sul, teve o intuito de levantar o passado vivido e registrar a vida dos habitantes nos dias de hoje, após 55 anos de existência, enfatizando os imigrantes da primeira geração, analisando a maneira com que se relacionam e vivem, além de registrar mudanças na tradição cultural, repassadas para outras gerações. Para tanto, foi utilizada neste projeto a fotografia documental, em que foram captadas imagens dos colonos em sua vida rotineira além de outras atividades que, na maioria das vezes, decorrem de hábitos trazidos de seu país de origem, como por exemplo: a prática do softbol, a realização de danças, festas e pratos típicos. As imagens foram capturadas no decorrer do ano de 2014, aproveitando o calendário de eventos local e o dia-a-dia de algumas famílias. A produção final resultou numa série de fotografias e, paralelamente, em um trabalho teórico, abordando o tema e as técnicas escolhidos para o trabalho. Esta pesquisa tem o objetivo de contribuir com o acervo da cultura japonesa do Estado de MS, retratando uma colônia cheia de histórias e vidas. Curiosidades de como se relacionam e vivem nos dias de hoje nos despertam interesse, ao mesmo tempo em que percebemos mudanças em suas tradições culturais, sendo assim, a fotografia documental foi escolhida, já que busca uma empatia com a cena fotografada. A intenção é não só fazer fotos do cotidiano das pessoas, mas captar a expressão e a sensibilidade que cada um passará em cada imagem. Focando os aspectos culturais da colônia japonesa JAMIC associada à valorização dos indivíduos fotografados. O trabalho está dividido em três capítulos; o primeiro, intitulado “Vida e tradição da Colônia JAMIC”, que aborda aspectos históricos culturais dessa colônia, por meio da sistematização de fontes fotográficas e registros escritos sobre a colônia. O segundo, intitulado “A fotografia entre documento, arte e expressão”, aborda aspectos da fotografia documental e sua ligação com a arte contemporânea, com a finalidade de promover o conhecimento sobre o assunto e poder aplicar esses conhecimentos na produção das fotografias que foram realizadas ao longo desta pesquisa. O terceiro capítulo, “Descrição do processo
  • 10. 10 de produção e análise das obras”, resulta do registro fotográfico dos procedimentos realizados pela autora deste projeto com o intuito de refletir criticamente sobre aspectos culturais da colônia Jamic, no contexto dos dias atuais.
  • 11. 11 1 VIDA E TRADIÇÃO NA COLÔNIA JAMIC Na primeira metade do século XX houve a presença intensa de empresas estrangeiras no Brasil, favorecendo a vinda de muitos migrantes para trabalhar, como os japoneses, que saíram do Japão em consequência das medidas reformistas e reabilitação da economia japonesa após a Segunda Guerra Mundial. Segundo Vasconcelos (2003), o processo de emigração japonesa para o Brasil estava centrado no Japão, sob controle da JICA (Japan International Cooperation Agency), com sede em Tóquio. Essa agência estatal autorizava empresas que se interessassem pelo ramo da emigração a desenvolver tal atividade, inclusive concedendo-lhes subsídios. No Brasil, duas empresas estavam ligadas ao serviço de emigração do Japão: JAMIC (Japan Management Imigration Company) Imigração e Colonização Ltda. E a JEMIS (Japan Emigration Service) Assistência Financeira S.A. Eram empresas juridicamente brasileiras, mas dirigidas por japoneses e com o apoio financeiro do governo japonês. Responsáveis pela aquisição de terras e pela introdução de imigrantes japoneses em Mato Grosso, nas décadas de 1950 e 1960, acrescentaram novos ingredientes na composição do Estado. O imigrante japonês, desde a segunda década do século XX, já vinha se estabelecendo em Mato Grosso do Sul. Mas foi no final da década de 1940 e nas décadas de 1950 e 1960, que a presença japonesa se tornou marcante no Estado. A empresa JAMIC não visava lucros; sua característica fundamental era sua função social, pois aliviava tensões provocadas pelo desemprego, promovendo a emigração e introduzindo em outros países parte da população “sem atividade” no Japão. A empresa adquiria, em determinado país, uma área de terra, ou diversas áreas; fazia a divisão em lotes, conforme as leis locais, e depois vendia aos imigrantes. A JAMIC desenvolveu em território brasileiro diversos projetos de colonização, dentre os quais o de Várzea Alegre. Os imigrantes japoneses que ocuparam a Várzea Alegre compreendem- se na chamada terceira fase (1953-75) de imigração japonesa para o Brasil. A 20 quilômetros do centro de Terenos (MS), a Colônia foi batizada oficialmente de comunidade imigrante Várzea Alegre. Está a 50 quilômetros à sudoeste de
  • 12. 12 Campo Grande, no Km 372 da BR – 262 (fig. 01). Suas fronteiras são o rio Salobra ao norte e o rio Cachoeirinha ao sul; em 1974, em substituição à rodovia estadual que corria alinhada à Noroeste, que até então era utilizada, foi aberta a rodovia BR-262, que cortava a comunidade no sentido Leste-Oeste, facilitando o fluxo de produtos da comunidade e trazendo benefícios para o desenvolvimento agrícola, os esportes e a cultura (VASCONCELOS, 2003) . Fig.01 - Mapa de localização das colônias japonesas em Mato Grosso do Sul. Fonte: (AYUMI, 2008) Essa Colônia passou a ser conhecida simplesmente como JAMIC pelos moradores das proximidades e por um grande número de pessoas. Os recém imigrados, com um péssimo português, não conseguiam pronunciar de maneira inteligível o nome “Várzea Alegre”, daí acabavam sempre dizendo que estavam em " JAMIC ", assim, essa acabou tornando-se a denominação habitual, tanto interna quanto externamente. Era a primeira imigração planejada do pós guerras, cujos requisitos eram o pagamento à vista do terreno, ou então capacidade
  • 13. 13 financeira para pagar de 10 a 30 % desse valor de sinal, mais a disponibilidade de 500 mil ienes para garantir a subsistência e despesas. Em agosto de 1961, porém, se dava o último ingresso de colonos; até então um pouco mais de 40 famílias tinham entrado em Várzea Alegre, quando se esperava 500 a 600 famílias. (AYUMI – A saga da colônia japonesa de Campo Grande, 2008 p.92). Uma peculiaridade desta Colônia era a grande proporção de colonos oriundos da província de Yamaguchi1, a colônia chegou a ganhar a alcunha de "Vila Yamaguchi". As notícias sobre dificuldades, porém, chegaram aos ouvidos do governo provincial de Yamaguchi provocando enorme repercussão. Quando aqui chegavam, os imigrantes já encontravam um projeto montado e aprovado pelos órgãos oficiais brasileiros encarregados da imigração e colonização: o INIC (Instituto Nacional para Imigração e Colonização) até 1962; o IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agraria) até 1970, quando foi criado o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agraria). (VASCONCELOS, 2003). Várias razões justificaram o interesse da JAMIC pela área em questão: em primeiro lugar, sua localização, próxima a cidade de Campo Grande, que já naquela época passava a ser o centro das decisões na região Sul de Mato Grosso, sediando, inclusive, o órgão responsável pela colonização local; em segundo, o preço pago pela área, que foi irrisório, tendo - se em vista o que a empresa arrecadou com a venda após o loteamento; em terceiro, o fato de tratar- se de uma aquisição feita de particulares, o que tornava o procedimento burocrático menos complexo do que se tratasse de uma relação com o Estado; por último, a circunstância de a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil passar exatamente dentro dos limites da fazenda. Dentro de uma área loteada ficou reservado um espaço de 948 ha. para a futura vila Pedro Celestino e para pequenas chácaras. Na área reservada para urbanização foram construídos um escritório para a empresa, um alojamento para os colonos, um prédio para o funcionamento da escola, uma sala para ambulatório, um grupo gerador de força elétrica e um 1 Yamaguchi: província do Japão localizada na região de Chugoku, na ilha de Honshu. Com área de 6 110,45 km², possui 11 distritos e 56 municípios.
  • 14. 14 prédio para um centro social; as partes de terras consideradas fracas foram remembradas para formar lotes maiores, com mais ou menos 300 ha. Segundo a entrevista com a colona Makiko Kanezaki, que chegou aos 11 anos no Brasil, essa relata que seu pai era comerciante no Japão e como estava em crise, decidiu vir para o Brasil, apostando tudo o que tinha. Assim como outros pais de família que vieram, entre eles engenheiros, marceneiros profissionais diversos e de várias classes. Durante o mês de viagem de navio, lembra que vieram na área das bagagens, já que não estavam em condição de pagar por mais, mesmo assim, isso não foi motivo de desanimo; relata que os japoneses do navio se divertiam criando peças de teatro, fazendo gincanas, cantando e dançando (fig. 02). Fig.02 - Imigrantes japoneses em entretimento durante a viagem dentro do navio. Fonte: Álbum da família Okishima, 1959. Mal partiram do Japão e já estavam sentindo falta de sua terra, mesmo assim, a viagem ao Brasil já era motivo de comemoração; desde então, tinham espírito de manter suas raízes aonde quer que estivessem. Makiko relembra que, ao chegarem, se abrigaram num galpão grande de madeira construída pela JAMIC. Assim que ocorreu a divisão de lotes, os colonos
  • 15. 15 iniciaram o processo de construção de suas próprias casas (fig. 03), em um processo no qual havia ajuda recíproca, uma casa cada de cada vez. No final do dia de construção todos voltavam para o galpão provisório; a maioria das casas eram feitas de madeira. Após aproximadamente um ano, todas as casas ficaram prontas e, logo no próximo, ano começou a vinda de outros colonos; ano pós ano chegavam mais, sempre com o espírito de solidariedade entre todos. Fig. 03 - Primeiros colonos da Jamic em frente às casas construídas de madeira. Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60. No período em que estavam em plantação, a prefeitura de Terenos construiu a primeira escola da região, que alguns jovens imigrantes frequentavam, com o auxílio da professora japonesa vinda de Aquidauana para ensinar português; alguns estudavam de manhã e outros à noite, diz Makiko. A escolha da área para onde foram destinados, foi feita pela própria JAMIC, pois tomaram conhecimento do local quando chegaram a Várzea Alegre.
  • 16. 16 Fig. 04 - Imigrantes japoneses trabalhando nas plantações. Fonte: Álbum da família Okishima, década de 60. O plantio de arroz foi escolhido (fig. 04), por não precisar de muitos recursos artificiais e cuidados; além de ser primeiramente produto de subsistencia, o material e o auxilio de técnicos agrícolas eram fornecidos pela JAMIC. Assim como nas construções das casas, a ajuda era coletiva, cada terreno de cada vez, mulheres, homens e até crianças trabalhavam, dispunham de tres tratores em que os colonos ajudavam com a gasolina e outros reparos. Foram dois os motivos que contribuíram para a crise na agricultura da Várzea Alegre nos primeiros anos de cultivo: a má qualidade do solo e a falta de chuvas. Muitas famílias desistiram da tentativa inicial e foram embora para a cidade de Campo Grande e para o interior de São Paulo, outros conseguiram voltar para o Japão com o pouco de dinheiro que ainda restava. A agricultura não gerava resultados e a saída seria encontrar uma nova atividade; seguindo exemplo de outras colônias japonesas mais antigas instaladas no Estado de São Paulo, os colonos de Várzea Alegre, aconselhados
  • 17. 17 pela JAMIC, começaram, a partir de 1963, a montar as primeiras granjas de galinhas para a produção de ovos (fig. 05). Fig. 05 - Primeiras granjas de galinhas construídas Fonte: Album da família Okishima, década de 60. Inicialmente, as 14 famílias que se instalaram no primeiro ano, 1959, constituíram informalmente a Cooperativa Autônoma de Várzea Alegre, cujas prioridades eram o controle e a administração do caminhão presenteado no momento da instalação da Colônia, e promover a assistência mútua entre os colonos. O caminhão foi um bem importantíssimo da comunidade, contribuindo largamente para o transporte de materiais de construção e outros recursos. Uma vez por semana, a chamada " linha regular" partia com famílias na carroceria para Campo Grande, a fim de comprar artigos necessários ao dia a dia. Hoje essa estrada esta asfaltada e o trajeto não leva uma hora, mas na época era um caminho de terra vermelha que, depois de uma chuva, fazia o percurso durar quase meio dia. Decorridos mais dois anos, com o aumento do número de colonos, manter o formato de cooperativa autônoma resultava em alguns entraves para a realização de diversas atividades e nos contatos com as autoridades. Em 1º de dezembro de 1962, na sede situada defronte à estação Pedro Celestino, se deu a dissolução da cooperativa autônoma para dar lugar à CAMVA (Cooperativa
  • 18. 18 Agrícola Mista de Várzea Alegre), entidade legalmente registrada. A Cooperativa realizaria vários tipos de atividades, com destaque para a avicultura, as primeiras bases da criação de aves foram estabelecidas por conta do parecer da missão de levantamento mencionado acima. Os cooperados construíram granjas em grupos de mais ou menos cinco famílias cada, a fim de economizar custos. A produção começou a ser escoada para Campo Grande a partir de 1962, e continua até os dias de hoje. Entre aproximadamente 1970 e 1990, a cooperativa fornecia cerca de 90% dos ovos consumidos nos dois Mato Grossos, o do norte e o do Sul. A partir daí, aumentou significamente a produção de granjas individuais e pequenos produtores, e hoje a fatia é de cerca de 60%. Fig.06 - Seleção de ovos na casa de ovo de um cooperado . Fonte: Album da familia Okishima, década de 70.
  • 19. 19 No início, a coleta dos ovos era feita diretamente das granjas, manualmente com cestas, como se ve na fig. 06, sendo contadas uma a uma para se ter o controle da produção; o trabalho era feito pelos próprios colonos com o auxilio de empregados chamados pelos japoneses de “camaradas”. Os ovos eram trazidos das granjas até a “casa de ovo”, basicamente um galpão, que ficava próxima; ali o processo de seleção era feito por tamanhos, em seguida colocados em bandeijas de 30 unidades, embaladas e transportada pelos caminhões da Cooperativa para a central, sendo comercializadas. A presença das crianças na foto se justifica,pois seus pais passavam grande parte do dia na casa de ovo, permitindo a entrada delas,que às vezes até ajudavam. Quanto à parte educacional, além da escola já citada nos primeiros dois anos da Colônia, famílias se revezam para ensinar o idioma japonês, mas, à medida que a administração agrícola passou a ocupar mais e mais tempo, a iniciativa foi desaparecendo espontaneamente. Mais tarde, em 1987, alguns jovens pais tomaram a iniciativa de começar a ensinar o japonês a seus filhos e para os nisseis (brasileiros filhos de imigrantes japoneses). Trabalho esse que continua, embora modesto, até os dias de hoje. Por fim, embora tenha nascido de forma problemática, sob acusações de escolha errada do local e venda de terras impróprias, essa Colônia se consolidou e ganhou o reconhecimento das outras, graças ao esforço e à união dos colonos que, sem condições para se transferir, dedicaram-se à avicultura, empreendimento que podia ser realizado em família.
  • 20. 20 1.1 A Associação Esportiva Cultural Nipo Brasileira de Várzea Alegre Quinze anos depois da instalação da Colônia, no mês de julho de 1974, quando as condições já eram um pouco mais confortáveis, foi construído o ansiado Kaikan (recinto comunitário), graças a subsídios da JAMIC e doações locais. Até maio de 1979, os eventos sociais e comunitários da comunidade eram realizados na sede da cooperativa; todavia, com o clima de maior estabilidade na colônia surgiram condições propícias para serem desenvolvidas atividades mais abrangentes, o que levou à fundação da ACENBVA (Associação Cultural e Esportiva Nipo Brasileira de Várzea Alegre), que promoveria as atividades culturais que propiciaram harmonia e união entre os associados,entre outras funções. Fig.07 – Inauguração do Kaikan Fonte: Album da familia Kanezaki, década de 70. Como em todo local comunitário uma organização foi necessária; assim como em qualquer outra colônia, nessa surgiu uma divisão de grupos, e uma delas era o Nihonjinkai (Sociedade da Colônia Japonesa) de Várzea Alegre, defendendo o bem comum da sociedade japonesa, bem como estimular a educação, a cultura e o lazer.
  • 21. 21 Outro grupo importantes é o Fujinkai (Associação de senhoras), que busca a confraternização entre as associadas, defendendo os pontos postivos da mulher japonesa, como a graciosidade, o recato e a suavidade, adequando- se também aos bons costumes e moral do Brasil, sempre procurando absorver novos conhecimentos, cutivando gostos finos, promovendo a educação para a virtude e o cultivo da sensibilidade de seus filhos e netos, empenhando-se em prepará - las para serem boas mães e boas esposas. Sempre organizadas, fazem reuniões, são lideradas por uma delas durante o ano, se unem para arrecadar dinheiro em eventos beneficentes que são destinados a investimentos em prol do Fujinkai. São elas as responsáveis pela culinária típica nas festas que ocorrem nos eventos e outras funções que a mulher japonesa faz em sua tradição. As comidas preparadas são em geral o Norimaki (shitake, gengibre, omelete, cenoura cozida e massa de peixe envolvidos por arroz japones temperado com alga desidratada), o Harussamê (macarrão japones de aspecto fino e transparente, temperado com vinagre de arroz e servido gelado com pepino, kani kama e outros), Nishimê (cozido com ingredientes variados, entre eles: queijo de soja frito, massa de peixe, caldo de peixe, inhame, alga marinha, shitake, broto de bambu, batata entre outros) e o Oniguiri (bolinho de arroz japones e alga marinha); esses são os mais comuns em festas da colônia, além das comidas típicas, tambem tem o preparo do churrasco, que vem sendo consumido desde a origem da colônia, pela região estar cercada de áreas de pecuárias e também, o pastel que, mesmo não sendo típico, integrou seu cardápio pela sua apreciação e praticidade.
  • 22. 22 Fig.08 - Cozinha do kaikan onde o fujinkai prepara os pratos típicos nos eventos. Fonte: Album da família Kanezaki, década de 70. Por mais que a cultura brasileira já estivesse muito presente na vida dos imigrantes, o nihonjinkai (associação dos japoneses) tem em maioria os isseis (nascidos no Japão) que, com o passar dos anos, vão envelhecendo e, junto deles, as experiências e os conhecimentos da cultura japonesa, que se não colocadas em prática, facilmente serão esquecidas ou se tornarão desconhecidas pelos descendentes nascidos no Brasil. Para que isso não ocorra, é muito importante que os filhos e netos tenham frequentado a escola japonesa, por exemplo, mesmo que poucas vezes por semana; assim, aprendendo o idioma, poderão manter diálogo e troca de informações com os isseis, já que na colônia é comum o convívio entre três gerações ou mais na mesma casa. Essa convivência desperta o interesse, por exemplo, pelo modo de preparo de receitas culinárias e pelas vestimentas em dias de festas tradicionais. Isso já ajuda a manter viva a cultura que tanto os imigrantes persistiram para que não fosse esquecida. Mantendo a renovação da cultura através das novas gerações, hábitos como a disciplina, organização e a persistência, que fizeram os japoneses superar vários obstáculos até os dias de hoje, também poderão ser mantidas.
  • 23. 23 Canclini (2008) afirma que, embora exista um processo de homogeneização globalizante que faz aflorar diferenças e integrações, esse processo não anula a cultura local, ou regional; em outras palavras, seria como dizer que “viver em uma cidade não implica dissolver-se na massa e no anonimato” (CANCLINI, 2008, p. 286). Para esses imigrantes, acima de tudo, era fundamental, como afirma Stuart Hall (2003), possuir uma identidade cultural, estar primordialmente em contato com um núcleo imutável e atemporal, ligando ao passado o futuro e o presente numa linha ininterrupta. 1.2 Principais atividades da AECNBVA No recinto comunitário (kaikan) acontecem vários eventos tradicionais do Japão, que até hoje os colonos mantem, para não se esquecerem da sua terra de origem; eles estão sempre tentando repassar aos descendentes a cultura para que seja relembrada nas futuras gerações. Cada evento envolve todos os associados, desde a preparação dos alimentos, em que os homens se encarregam do churrasco e as mulheres das comidas típicas; outros limpam ao redor do local para que tudo fique pronto para receber os visitantes, até o desfecho, em que todos se juntam na limpeza do kaikan. 1.2.1 Shinnenkai De acordo com o calendário da associação da Jamic, o ano começa com o Shinnenkai, em que shinnen= ano e kai = reunião / festa; geralmente no inicio de janeiro, é tradição realizar a cerimônia reunindo todos para as boas vindas do ano novo; cada família leva uma porção de comida. A festa ocorre no kaikan e se consome, em especial, o ozooni, uma sopa com legumes, algas, shitake e môti2, trazendo muita sorte àqueles que tomarem, segundo a supertição. Aproveitam a reunião para planejar o ano em relação à associação. 1.2.2 Nyuushokusai 2 Bolinho de arroz insípido feito com arroz específico após ser batido até obter consistência firme e lisa.
  • 24. 24 O Nyuushokusai é o aniversário da colonia que acontece em maio, reunindo não só todos os associados mas, também, convidados especiais, como as autoridades do município e pessoas de outras associações nipo brasileiras. As atrações são livres, para qualquer um que quiser se apresentar, mas sempre contando com as apresentações das senhoras do fujinkai, que se apresentam com músicas típicas e tradicionais da terra de origem e da escola japonesa (nihongo gakko), em que os alunos apresentam danças, coral ensaiados pelas professoras (mães de alunos), e teatros representando estórias como por exemplo do Ojizousan uma das imagens mais populares do budismo que são esculturas, geralmente um monge sorridente de baixa estatura, vistas por todo o território japonês, até em ruelas e vilas com pouquíssimo movimento. No passado, como a viagem era muito perigosa, pois incluía a travessia de matas muitos se perdiam e morriam diante do clima severo, os moradores da região colocavam essas estátuas pedindo proteção aos viajantes e também às crianças. As oferendas (geralmente o môti – bolinho de arroz), que os moradores até hoje colocam, serviam de alimento emergencial para os que passavam por lá, o conto folclórico japones fala sobre um casal de idosos viviam distante da cidade e passariam o final de ano na miséria, sendo assim a mulher fez potinhos para por carvão mandando o homem ir até a cidade para vendê-los, não conseguindo dinheiro, decide trocar sua mercadoria por chapéus de um outro vendedor, voltando para casa, ele encontra seis ojizousan que estavam cobertos de neve e resolve cobri-los com os chapéus, como só tinha cinco destes, cobriu o sexto com seu próprio lenço, chegando em casa conta o ocorrido para a mulher e jantam apenas água fervida e conservas, logo depois escutam barulhos na porta e ao sair para verificar se deparam com comidas e fortunas deixadas pelas estátuas que estavam indo embora. As mães destes alunos são as responsáveis pela coreografia, cenário e roupa, geralmente com temática da cultura japonesa. 1.2.3 Undokai O modelo do atual undokai foi criado no século XIX, no início da Era Meiji (1868- 1912), e embora atualmente a gincana poliesportiva seja essencialmente um evento social e familiar, na sua origem, era uma atividade militar em que as
  • 25. 25 escolas tinham o dever de prepara alunos para o exército com outras atividades físicas além dos esportes tradicionais praticados. Ocorre no mês de julho na colônia para coincidir com as férias escolares das crianças, porem da maioria dos undokais são realizadas no mês de maio no Brasil, por ser o mês dos meninos no Japão; é uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no campo de beisebol. O adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris, são carpas gigantes de tecido colorido que “nadam” no céu hasteadas num grande mastro de bambu, antes simbolizando o dia dos meninos pela comparação da carpa pela força, persistência, bravura e sucesso e durante o pós guerra passou a ser também o dia das crianças. No início do evento os hinos do Brasil e do Japão são cantados, enquanto o presidente da associação e o prefeito do municipio hasteiam as respectivas bandeiras. As brincadeiras são diversas, recebem os melhores prêmios os três primeiros lugares e o prêmio de consolação vai para o restante. Nos intervalos, as famílias levam lanches à moda japonesa, tais como bolinhos de arroz, doces, etc. Tomam-se em conjunto os lanches, elogiando-se reciprocamente as habilidades no seu preparo, mesmo as comidas cotidianas eram bem recebidas nessas ocasiões. Fig.09 - Brincadeira da pescaria no Undokai de Jamic. Fonte: Album da família Aizawa.
  • 26. 26 No undokai há diversas brincadeiras, entre elas a pescaria, realizada até hoje, em que dada a largada os participantes correm até as respectivas varas feitas de bambu, com um gancho pendurado, como mostrado na (Fig.09), e correm até os peixes feitos de papelão pelos próprios colônos; o primeiro a conseguir “pescar” pula a divisória e corre até a linha de chegada; a chegada só é válida se o participante chegar com o peixe devidamente no gancho. 1.2.4 Bon Odori É a celebração em homenagem aos mortos, na colonia, ocorre no mês de agosto, num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares, o local do evento é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin; no inicio do evento ocorre a missa, com a presença de um missionário budista convidado, todos ficam de frente a um altar (butsudan) onde é guardada todos os ícones e acessorios budistas utilizados nas missas junto com oferendas a Buda como bolinhos de arroz ansiando prosperidade, frutas por serem menos perecíveis, velas, água além da queima do incenso criando uma atmosfera de pureza. A maioria dos presentes são os idosos praticantes do budismo; logo depois, acontece o jantar com comidas típicas, em especial, o ohagi3 que, pela tradição, é uma oferenda comum levada para ancenstrais. Mais tarde todos se reunem e dançam ao som de músicas tradicionais alegres em maioria, manifestam o sentimento de gratidão a Deus pela boa colheita ou por uma boa produtividade do ano. No centro, alguns com mais habilidade ritmica tocam o taikô4, de forma aleatória, mas em harmonia com a música. Em volta num grande circulo dançam pessoas de todas as idades com movimentos que representam a letra da música. 3 Alimento doce feito de arroz específico coberto por doce de feijão azuki chamado “ankô”. 4 Instrumento de percussão, cuja superfície é confeccionada com pele de animal. É tocada com a mão ou com o uso de uma baqueta, muito usada em festas xintoístas e budistas.
  • 27. 27 Fig. 10 - Ensaio de dança para o Bon Odori Fonte: Album da família Aizawa. 1.2.5 Bonenkai É a tradicional confraternização de encerramento do ano que ocorre em algum sábado de dezembro à noite, onde todos se reúnem, trazendo familiares de fora da colonia e amigos. Um bingo é realizado após o jantar, com prêmios diversos, muitos deles doados por amigos e familiares. Ao pé da letra significa esquecer o ano que se foi; a festa é para se purificar o espírito. 1.3 A Casa de Estudante JAMIC Os estudantes que concluiam o ensino fundamental e queriam melhores condições de estudo e um local adequado para sua instalação, receberam gratuitamente um terreno de 1.288 m²,a fim de continuarem os estudos na cidade de Campo Grande. A casa do estudante foi assim construída, com assistência financeira da JAMIC e doações dos colonos, sendo um conjunto de alojamentos inaugurado em março de 1982, com 647,26m², e outro em fevereiro de 1989 com
  • 28. 28 234,38m2, tornando se um ponto de apoio na capital Campo Grande para a educação dos descendentes de imigrantes, para prosseguirem os estudos no ensino médio e no superior. Funcionando até os dias de hoje, e localizada próximo à CAMVA de Campo Grande. Fig. 11 - Placa exposta em frente a casa de estudante em Campo Grande - MS Fonte:(https://mbasic.facebook.com/pensionato.jamic.5?_rdr.) 1.4 Associação Esportiva Na área esportiva, o beisebol, inicialmente praticado com os atletas calçando tabis (sapatilhas japonesas de tecidos), foi passado às gerações seguintes, mantendo-se como o principal esporte da colonia. Outras modalidades ativamente praticadas são o softbal, e o gateball. A comunidade dispõe de uma quadra de beisebol, duas quadras de softbal, duas de tênis e três de gateball. O beisebol era muito praticado pelos imigrantes no Japão por ser um esporte comum nas escolas; com o passar da estadia no Brasil sentiram falta de lazer e do esporte; no começo, improvisaram materiais, já que não são fáceis de encontar, e participavam em amistosos com times de cidades e estados vizinhos.
  • 29. 29 Fig. 12 - Primeiro time de beisebol de Várzea Alegre. Fonte: Álbum da família Okishima O time era composto, na maioria, de homens jovens que já tinham base das regras do esporte aprendidas nas escolas no Japão; as mulheres presentes na fig. 12 são amigas e parentes dos jogadores, dando força nas torcidas, em jogos dentro e fora de Jamic; os treinos proporcionam a reunião e lazer a eles. O gateball é um esporte que utiliza o taco e a bola e é praticado em terra batida na colônia. As regras parecem simples, mas, por ser um jogo de equipe, são bastante rigorosas. Em princípio, basta acertar a bola com um taco e passá- la por três traves, cada uma com 22 centímetros de largura. Cada jogador ganha um ponto pela passagem da bola na trave e dois quando acerta no pino central. Por ser um jogo leve, com um desgaste físico moderado, gateball é indicado para pessoas de qualquer idade e sexo, sendo que, na colônia, a maioria dos jogadores são os idosos, que praticam durante a noite ou tarde. O softbol é uma variação do beisebol, mas um pouco mais leve, devido à bola ser menos dura e maior. Fora isso, segue basicamente as mesmas regras do beisebol. O campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe; é praticado tanto por homens como por mulheres e crianças. Hoje em dia na colônia, um grupo misto de mulheres e homens se reúne todo domingo à tarde
  • 30. 30 para treinar amistosamente. Mas já houve tempos em que times de beisebol e softbol eram formados por jovens e adultos, sempre conseguindo boas colocações nos campeonatos interestaduais. Algumas das influências, como os esportes citados acima, foram consequência do extraordinário crescimento econômico que o Japão passou a mostrar no pós guerra, em que as empresas japonesas apresentavam um grande aumento, tanto de produção como de desenvolvimento tecnológico; e isso era impulsionado por uma sociedade cada vez mais direcionada para o consumo. A população era cada vez mais exposta, ao ideal de vida da família de classe média norte-americana da época como modelo. A base material deste modelo estava na aquisição da casa própria, com um carro na garagem e uma televisão na sala de estar. (YOSHIMI, 2000). Como explica Canclini (2003), o processo de globalização afeta diretamente as culturas locais trazendo a hibridização; em outros termos, significa que as novas relações sociais e econômicas impostas aos sujeitos na pós-modernidade trazem, por um lado, como uma de suas consequências, os processos de homogeneização cultural e, por outro, relações interculturais. O crítico argumenta ainda que essa hibridização cultural leva a outros dois processos inerentes ao momento no qual vivemos: a desterritorialização e reterritorialização. Tais processos correspondem, respectivamente, à “perda da relação ‘natural’ da cultura com os territórios geográficos e sociais. (CANCLINI, 2008, p. 309). O fenômeno da globalização contribui para o deslocamento das identidades culturais desintegrando-as, homogeneizando-as e, consequentemente, enfraquecendo-as. O confronto com uma verdadeira gama de identidades culturais é traço marcante da contemporaneidade. Ela, inegavelmente, tem um efeito pluralizante sobre as identidades, produzindo uma variedade de possibilidades e novas posições de identificação, tornando as identidades menos fixas e unificadas.
  • 31. 31 2 A FOTOGRAFIA ENTRE DOCUMENTO E ARTE Quase dois séculos depois da invenção da tecnologia fotográfica, na década de 1830, a fotografia ganha destaque como forma de arte contemporânea. No século XXI, o mundo da arte acolheu plenamente a fotografia como suporte legítimo, em pé de igualdade com a pintura e a escultura. Usamos a comunicação baseada unicamente em imagens em nossas interações cotidianas, nas redes sociais e nas plataformas de compartilhamento de fotos. Essas novas facetas da produção de imagens não afetam somente as linguagens visuais e as formas de disseminação da fotografia como arte contemporânea, também nos impelem a definir de modo mais especifico, diante da nova onipresença da fotografia na vida cotidiana, quais práticas fotográficas devem ser consideradas artísticas. (COTTON, 2013). Algumas fotos têm um estilo evidentemente informal e amador, os fotógrafos contemporâneos agregam esse estilo expressivo, como sua construção de sequências dinâmicas e seu foco em momentos inesperados da vida cotidiana. As origens dessa abordagem estão na arte conceitual de meados dos anos 60 e 70, quando a fotografia se tornou um veículo central na disseminação e na comunicação de maior amplitude das apresentações artísticas, assim como de outros trabalhos de arte temporários. No âmbito da prática da arte conceitual, as motivações e os estilos dessa fotografia foram nitidamente diferentes de modos já consagrados pela refinada fotografia de arte daquela época. Em vez de exaltar a atividade fotográfica virtuosística ou de distinguir alguns profissionais relevantes com o rótulo de “mestres” da fotografia, a arte conceitual minimizou a importância da autoria e da competência prática, aproveitando a capacidade inabalável e cotidiana da fotografia de retratar as coisas: adotou um visual peculiarmente “não artístico”, “inexperiente” e “anônimo” para enfatizar que a importância artística residia no ato retratado pela fotografia. (COTTON, 2013). A ideia é usar todos os recursos de uma forma diferente do habitual; a fotografia artística é a arte de fotografar de maneira não convencional, em que não existe uma preocupação única de retratar a realidade. Vai além disso, o fotógrafo registra o tema de uma forma que transcende o ordinário, coloca a sua emoção, sua expressão e a sua perspectiva do mundo na imagem que produz.
  • 32. 32 2.1 Arte e Documentário Podem parecer termos conflitantes, mas o fim da década de 1970 viu mudanças radicais na percepção e no consumo da fotografia. Combinadas com a nova forma de pensar a linguagem visual, essas mudanças desafiaram as distinções entre as modalidades da prática fotográfica. Mudanças em filmes e câmeras – de 35mm para o formato médio e grande – e o uso de cor introduziram meios alternativos de ver o mundo. Os fotógrafos documentais adotaram métodos de trabalho da fotografia artística, e artistas contemporâneos passaram a explorar modalidades documentais. (HACKING, 2012). Entende-se a fotografia documental como aquela desenvolvida a partir de um projeto previamente elaborado por um autor que possui conhecimento e envolvimento com o tema abordado, cujas fotografias são devidamente organizadas e apresentadas por meio de uma narrativa que descreve, num determinado tempo e espaço, as ações e seus personagens. Além de difusora de informações, é também provedora de prazer estético e formadora de opinião. A fotografia é composta de estilos e técnicas expressivas e elaboradas pelo realismo, com a intenção de ter semelhança com o natural e registrar a percepção do mundo e de acontecimentos diversos pelo fotógrafo em diferentes momentos. A preocupação em ser fiel ao visível deixou de ser prioridade, e os fotógrafos começaram a transportar para suas imagens as elaborações de sua própria personalidade. No processo de intermediação entre o imaginário e a fotografia os fotógrafos utilizam a criatividade para colocar em prática novas formas de representação. O desfoque, o borrado, a sobreposição de imagens, ou seja, recursos técnicos que não eram muito utilizados passaram a fazer parte da linguagem da fotografia contemporânea. (ROUILLÉ, 2009). Também houve a tentativa de explorar o caráter expressivo das fotografias, aqui consideradas como imagens, buscando uma possível forma de pensar as fotografias. Está sendo formada uma nova cultura de apreciação delas, com foco em sua plasticidade, conteúdo estilístico e no caráter expressivo que lhe pode ser conferido. No entanto, a novidade tecnológica, tão comum entre os fotógrafos, não é necessariamente sinônimo de inovação estética, pois esta depende muito mais do imaginário do artista. (ROUILLÉ, 2009).
  • 33. 33 Uma das melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é através de suas imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas, praças, monumentos preservados, mas também os seus costumes, festas, tradições, língua, roupas, gestos e olhares que nos dizem sem palavras como viveram e o que vivem, suas esperanças e medos, o que eram em seu passado, o que eles esperavam do futuro. Segundo a autora Annateresa Fabris (2004), o retrato fotográfico contribui para a afirmação moderna do indivíduo, na medida em que participa da configuração de sua identidade como identidade social. Todo retrato é simultaneamente um ato social e um ato de sociabilidade. Não se pode esquecer que à imagem fotográfica é conferido um papel moral, que transforma o retrato no exemplo visível de virtudes e comportamentos a serem partilhados pela sociedade. Do ponto de vista ético, as portas encontram-se abertas para a construção e montagem das cenas que permeiam o imaginário dos fotógrafos ao produzirem suas imagens. O resultado é uma nova maneira de abordar e apresentar os temas, uma nova visualidade que, sem perder o espírito crítico, “propõe uma visão e um julgamento” (COTTON, 2013). Ao contrário das tradicionais coberturas fotojornalísticas nas quais se busca o impacto como elemento fundamental, o mundo social será configurado de modo diferente, tanto na forma quanto no conteúdo, por profissionais que preferem registrar “a realidade” de modo indireto, inteligente e poético. (COTTON, 2013). A fotografia documental pode – e continua – servir de testemunha dos acontecimentos e das condições de vida do homem no mundo. Os textos de apoio e as legendas das imagens são muito importantes, pois não apenas transmitem informações sobre as pessoas e suas histórias pessoais (quem são, onde e como vivem etc.), como também inserem suas falas, reforçando o papel do fotógrafo como seu mediador. (...) a fotografia é um duplo testemunho: por aquilo que ela nos mostra da cena passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos informa acerca de seu autor (...) é um testemunho segundo um filtro cultural, ao mesmo tempo que é uma criação a partir de um visível fotográfico. Toda fotografia representa o testemunho de uma criação. Por outro
  • 34. 34 lado, ela representará sempre a criação de um testemunho (KOSSOY, 1999, p. 33) Diante do exposto, confirmam-se as diversas possibilidades de criação na fotografia documental contemporânea notam-se assim diversas mudanças, como a produção de fotografias coloridas e mais descoladas de seus referentes, o uso de narrativas não lineares, o dialogismo (fotógrafo/fotografado) e a montagem das cenas, enfim, uma busca maior pelo prazer estético, sem esquecer a importância do conteúdo informativo daquilo que poderia ser chamado de “novo documento”. (COTTON, 2013). 2.1.2 Paul Graham (1956) Na década de 1980, o fotógrafo britânico Paul Graham produziu trabalhos inventivos que exemplificam a fusão entre arte e documentário que floresceu nesse período. Seus trabalhos influíram no ressurgimento da fotografia documental e no interesse pelas culturas da fotografia no Reino Unido e na Europa. Graham estava trabalhando com fotos coloridas, que grande parte dos fotógrafos da época rejeitava como agressivas, pouco confiáveis e sem subjetividade. Mas ele utilizou a cor para produzir fotos poderosas que funcionam esteticamente e como documentário social. (HACKING, 2012).
  • 35. 35 Fig. 13 - Campos em chamas, Melmerby, North Yorkshire, 1981, Paul Graham Fonte: (http://www.theguardian.com/artanddesign/2009/mar/02/paul-graham-shimmer- possibility) Graham combina paisagens e retratos para criar uma visão melancólica de um país à beira da mudança social divisora resultante do período de Margaret Thatcher como primeira-ministra. Na foto (fig. 13), a paleta é atenuada e pictórica, uma paisagem desolada se torna sublime pelas gradações sutis de tom e cor. (HACKING, 2012). 2.1.3 Martin Parr (1952) O uso das cores foi o verdadeiro divisor de águas na fotografia documental; em 1982 o fotógrafo inglês Martin Parr começou a fotografar em cores e com uma câmera de formato médio. Seus trabalhos causaram um abalo sísmico nas percepções do documentário, seu uso de cores foi controverso por ser exclusividade dos fotógrafos editoriais e de moda.
  • 36. 36 Fig.14 - New Brighton, Inglaterra, 1985, Martin Parr. Fonte:(http://marcelocaballerofotografia.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html) Enquanto a cor de Graham é sutil, a de Parr queima sob o flash forte e superexposição, recriando o calor e a energia de um dia de passeio inglês ao sol. Subitamente, apesar de controvérsia por usar assim a fotografia colorida, o preto e branco pareceu ultrapassado. (HACKING, 2012). 2.1.4 Walter Firmo (Rio de Janeiro, RJ, 1937) Fotógrafo, jornalista e professor. Autodidata, inicia sua carreira como repórter fotográfico no jornal Última Hora, no Rio de Janeiro, em 1957. Conhecido por suas fotos coloridas e por retratar importantes cantores da música popular brasileira, inicia pesquisas sobre festas populares e folclore nacional. O tema principal das fotos de Walter Firmo é a figura humana. Revela particular interesse pelos costumes e festas populares brasileiras, realizando ampla documentação fotográfica, na qual se destaca aquela sobre o carnaval do Rio de Janeiro. Produz imagens marcantes como de integrantes de escolas de samba viajando em um trem de subúrbio, até o local dos desfiles, salientando o
  • 37. 37 contraste entre a alegria da festa e o duro cotidiano da população menos favorecida. Fig. 15 - Série Festa do Maracatu – Rural, 1997, Walter Firmo. Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseactio n=artistas_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555) Na série Festa do Maracatu-Rural, 1997 (fig. 15), retrata a população em trajes típicos, em meio a paisagens de grande luminosidade. É o fotógrafo que se destaca pela exploração sensível da cor e da luz, mantendo diálogo com a pintura. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
  • 38. 38 Fig. 16 - Procissão do Círio de Nazaré, 1992, Walter Firmo. Fonte:(http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artista s_obras&cd_verbete=3539&cd_idioma=28555) Nessas imagens, Walter Firmo nos dá a possibilidade de visualizar as festas populares a partir de ângulos não convencionais do tema, reinventando a imagem que todos têm sobre tais festas e culturas, sempre atento a cada oportunidade de captura da foto. Firmo é o nosso poeta da câmera. A sua intimidade com o aparelho é tão intensa e a sua forma de olhar o mundo tão absolutamente fotográfica, que ele consegue passar com a maior naturalidade do mais rigoroso abstracionismo construtivo ao mais doce lirismo impressionista - e sem deixar de ser fiel ao seu estilo inconfundível. (MACHADO). Retratou a essência do povo, fotografando a riqueza do folclore e a mistura de etnias em nosso país sendo marcados pelas cores saturadas e pelo contaste encontradas em suas obras abordando festas populares, o subúrbio entre outros. 2.1.5 João Urban (Curitiba PR, 1943) É um fotógrafo publicitário que se dedica também a projetos documentais. Nesses trabalhos, ele frequentemente enfoca aspectos sociais e culturais do Estado onde mora, o Paraná. Seus ensaios mais conhecidos registram
  • 39. 39 camponeses diaristas, os chamados boias-frias; imigrantes poloneses e seus descendentes que vivem nos municípios de Tomás Coelho Murici e Cruz Machado; e a estrada que vai de Viamão, Rio Grande do Sul, a Sorocaba, São Paulo, conhecida como Caminho das Tropas. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014). Os conjuntos são formados, sobretudo, de retratos posados - em preto-e- branco ou coloridos - feitos com luz natural, de maneira direta e frontal. Desde então, a fotografia documental é considerada como um campo de atuação privilegiado no contexto do fotojornalismo, em que o operador da câmara alia seu ponto de vista à denúncia de injustiças sociais e à divulgação de realidades pouco conhecidas. Nesse tipo de produção, as qualidades estéticas são tão importantes quanto o conteúdo e, por isso, os resultados muitas vezes são vistos como artísticos. No ensaio sobre as colônias polonesas (fig.17), descrever a cultura material local é tão importante quanto retratar as pessoas. Elas são apresentadas no interior ou diante de suas casas, em ambientes modestos, mas cuidados com asseio. Os colonos são mostrados em sua integridade, de corpo inteiro, em seus afazeres domésticos ou mirando a câmara com segurança. Mas sua intimidade não se revela pela maneira como eles se colocam à disposição da câmara, e sim por meio dos objetos pessoais. As fotos descrevem com detalhes a decoração dos cômodos: paredes de coloração esmaecida, repletas de imagens religiosas e fotos de família, flores de plástico, almofadas e móveis com estampas variadas, toalhas e toda espécie de utensílios. Além do cuidado com a clareza da composição, as qualidades formais das imagens provêm, em parte, de uma estética vernacular. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014).
  • 40. 40 Fig. 17 - Poloneses no Paraná, Colônia Santana, 1987, João Urban. Fonte: (http://www.colecaopirellimasp.art.br/autores/47/obra/149) Quando uma produção como a de Urban é exibida no circuito das artes plásticas - em museus, galerias e catálogos de arte, uma das principais características da arte moderna nacional da primeira metade do século XX é atualizada: o empenho em chamar a atenção para questões sociais e para a população do interior do país. (Enciclopédia Itaú Cultural, 2014). O uso de referências como Martin Parr e Paul Graham foram escolhidos com intuito de melhor explicar o início e destaque do uso das cores em fotografias documentais, enquanto a escolha dos fotógrafos brasileiros João Urban e Walter Firmo se dá pela minha identificação com seus temas sobre colônia de estrangeiros e festas típicas e tradicionais respectivamente, além do uso da fotografia colorida em ambos os trabalhos, chegando mais próximos à minha proposta dentre outros artistas fotógrafos pesquisados. Acompanhamos durante o capítulo a fotografia documental o fotojornalismo tradicional, começando a ser mais artística diversificando pontos de vista e modalidades, mostradas nas obras dos fotógrafos artistas citados, cada um apresentado uma forma própria de valorizar a cultura e costumes de um povo, além do conteúdo e história que cada imagem traz.
  • 41. 41 3 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO E ANÁLISE DAS OBRAS Este capitulo será destinado à descrição prática da proposta desde a escolha do tema até a finalização da série de fotografias. 3.1 Escolha do tema Pela minha descendência japonesa e por fazer parte da colônia Jamic, senti necessidade de dar destaque aos imigrantes que influenciaram de certa forma com o desenvolvimento do estado de Mato Grosso do Sul; com 55 anos de existência e muita das primeiras famílias ainda presentes, achei o momento oportuno para aproveitar o que eles têm a contribuir com a pesquisa deste trabalho. Para isso a escolha da fotografia, apresentaria melhor este projeto, pela possibilidade de captar com mais realidade o tema escolhido, especificamente a fotografia documental já que, como comentado no capítulo anterior, “uma das melhores maneiras de aprender sobre a história de um povo é através de suas imagens sobre eles, não só da sua realidade tangível, ruas, praças, monumentos preservados, mas também os seus costumes, festas, tradições, língua, roupas, gestos e olhares que nos dizem sem palavras como viveram e o que vivem, suas esperanças e medos, o que eram em seu passado, o que eles esperavam do futuro. “ 3.2 Configurações Fotográficas Utilizadas O domínio de algumas técnicas é necessário para a possibilidade de ousar, não existindo uma preocupação única de retratar a realidade. As fotografias que compõem esta pesquisa teórica e prática, tiradas em momentos e ambientes diversos, com uma câmera semi profissional, todas coloridas, à qual se trata de um povo cheio de culturas e tradições, sendo necessárias as cores para captar detalhes. Dentre as configurações utilizadas estão basicamente a abertura de diafragma, o tempo de exposição e o ISO, que vem do inglês: International Organization for Standardization significando em
  • 42. 42 português: Organização Internacional para Padronização; norma que se refere à sensibilidade fotográfica também conhecida como sensibilidade ISO. De acordo com cada situação busquei um equilíbrio entre elas, para obter uma imagem nítida e com enquadramento adequado. Para que as fotos não tivessem vestígio de movimento dos fotografados, usei uma exposição rápida, consequentemente, a entrada de luz diminuiu, escurecendo a foto. Para uma correção compensei no ISO pois quanto maior o ISO, mais sensível está o sensor; e mais luz é absorvida. Portanto, escolhi um alto valor de ISO para algumas fotos, tendo cuidado para não granular a imagem, já que a qualidade e a nitidez tendem a diminuir ao aumentar a sensibilidade ISO. A abertura do diafragma também foi utilizada, pois controla a quantidade de luz na câmera, ora usando maiores aberturas para clarear a imagem, ora usando menores aberturas para escurecer. Fig.18 - Gráficos com valores padrão das configurações básicas da câmera. Fonte: (http://marioamaya.com.br/blog/2010/06/01/os-quatro-numeros-magicos/) As progressões de valores mostradas no gráfico são geométricas, ou seja, cada etapa é proporcional à anterior. As câmeras também podem trabalhar com valores intermediários “quebrados”.
  • 43. 43 3.3 Processos de Produção Por meio do uso de configurações da câmera busquei o resultado mais próximo do que queria para não necessitar de muitos ajustes nas imagens originais. Foi utilizada uma câmera do tipo DSLR singla em inglês para digital single lens reflex, que traduzida seria: "câmera digital de reflexo por uma lente" o que possibilitou o uso no modo manual podendo configurar de acordo com cada situação conseguindo deixar da forma desejada e esperada. Ao passar os registros fotográficos para o computador, foram feitos pequenos tratamentos em algumas imagens com as ferramentas de saturação e exposição encontradas no software Adobe Photoshop. 3.4 Seleção de Fotos e Resultados Obtidos Após estudos feitos para compreender melhor o estilo fotográfico escolhido e a história da colônia a ser documentada apresento uma série de 12 imagens como resultado do trabalho, além do processo de produção que sintetiza o modo como foram ajustadas as fotografias e a seleção delas dentre as várias capturadas em cada situação e momentos, sendo expostas neste capítulo duas fotos testes com dimensão menor e a selecionada em tamanho maior, sendo a foto escolhida aquela melhor resolvida e mais representativa de acordo com cada tema, seguidas de legendas e análises.
  • 44. 44 Fig. 19 Fig. 20 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig.21 – Sem Título I Foto: Suzy Kanezaki O nítido equilíbrio da luz comparada ao teste (fig.19) e a abrangência de todos os elementos principais como a mulher issei (nascida no Japão) e a televisão transmitindo o canal fechado japonês diferente do teste (fig.20), foram os fatores principais na escolha da imagem (fig.21). Com acesso a canais fechados, eles têm a possibilidade de assistir a programas em canais japoneses, pois os idosos, por exemplo, os que mais assistem, têm dificuldade na língua portuguesa, sendo
  • 45. 45 atualizados e informados em tempo real sobre seu país. A foto (fig.21) mostra a colona assistindo a um programa de variedades no intervalo de suas atividades cotidianas. Percebe-se que, apesar do quarto estar organizado, não se vê preocupação com a decoração, se olharmos para os simples móveis, janela e roupa, o que caracteriza a vida pacata na área rural em que vive. Fig. 22 Fig. 23 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 24 – Fujinkai I Foto: Suzy Kanezaki
  • 46. 46 Durante os preparativos para o 55º aniversário da colônia, me deparei com mulheres do fujinkai (associação de senhoras da associação) descascando raiz de lótus, usada como ingrediente nos pratos típicos que estavam sendo preparados para a festa. Uma delas, vinda na primeira leva da imigração para a colônia, e a outra, tendo vindo mais tarde, observa-se o respeito, a afinidade recíproca e a união nos trabalhos para a colônia, independentemente de sua geração. A imagem retrata de forma natural e poética, o que não ocorre nas figuras 22 e 23 pelos gestos e expressões que não se encontram em sintonia, um momento “isolado” dos preparos de um evento na colônia, em que se nota as expressões dos rostos das mulheres transmitindo a informalidade mostrando que esses eventos proporcionam união e reencontro, onde se divertem em meio ao cansaço e trabalho que têm a fazer.
  • 47. 47 Fig. 25 Fig.26 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 27 – Fujinkai II Foto: Suzy Kanezaki A fotografia escolhida (fig.27) mostra a cooperação e a organização do trabalho em equipe da associação que não é exibida na fig. 26, de senhoras da colônia com o preparo das comidas típicas mostrada em minoria na fig.25 pelo fato de exibir mais o pastel, que não é típica porém mostra a diversidade com pratos tambem brasileiros para um evento que são conhecidas pela fartura e qualidade dos alimentos, valorizando a dedicação dessas mulheres no processo que antecipa um grande evento.
  • 48. 48 Diferente da imagem anterior (fig.24), a foto (fig.27) mostra a produção dos alimentos típicos, quase num processo industrial. Refletindo os pontos positivos da mulher japonesa empenhando-se no melhor para sua família e convidados, além da preocupação da pontualidade e da organização. A luminosidade da foto influencia na sensação de energia e força das mulheres trabalhando.
  • 49. 49 Fig. 28 Fig. 29 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 30 – Sem Título II Foto: Suzy Kanezaki De alguns anos pra cá, as mães voluntárias da escola japonesa começaram a participar nas apresentações dos aniversários da colônia, sempre escolhendo músicas bem humoradas e divertidas como na foto acima (fig.30). A imagem (fig.30) mostra o momento que mais expressa a música dançada, com a exposição de todos as participantes na apresentação, além do uso de acessórios e roupas usados no típico festival tradicional japonês denominado Matsuri que fazem referência à vários temas como alguma divindade, colheita
  • 50. 50 ou estações do ano. No Japão são inúmeras, realizadas nas ruas, variando datas de região para região. Os acessórios como o leque e o mastro, que repelem possiblidade de incêndio e desastres, apenas ilustram a letra da música (O - Matsuri Mambo), que fala exatamente sobre isso, o termo “mambo”, do título da música, faz referência ao ritmo latino por ser animado E o uso do Happi, vestimenta típica usada informalmente nos festivais, pois é usada por pescadores e lavradores por exemplo, muito representados nas músicas de matsuri, com algum distintivo impresso nas costas, antes identificando de qual família ou grupo pertencia. No caso da fig. 28 não trasmite a idéia que a dança passa pela postura estática das mulheres e a fig. 29 não mostra os acessórios utilizados importantes na composição da apresentação. Mesmo se submetendo a situações em que não estão acostumadas, e nas quais ficam, às vezes, desconfortáveis, a preocupação das mães em participar e servir de exemplo para que seus filhos aprendam a cultura e a língua japonesa é mais forte, pois sabem da importância de manter a cultura entre os descendentes, cada uma usando o talento que pode oferecer. A cor vermelha ajuda a enfatizar o calor do momento, a união e parceria estampada nos rostos das mães após o fim de uma apresentação tão ensaiada nos finais de semana, ocasiões que também geravam momentos de esforço e diversão.
  • 51. 51 Fig. 31 Fig. 32 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 33 – Sem Título III Foto: Suzy Kanezaki A fotografia (fig.33) mostra uma das cenas principais do teatro do conto folclórico japonês Ojizousan que tem como personagens principais estátuas de pedra muito conhecidas e tradicionais, com inúmeros significados, mas em geral significando proteção contra males realizada no aniversário da colônia, interpretado pelos alunos da escola de língua japonesa, mostrando todo o cenário no palco produzida pelas mães (professoras voluntárias). A imagem (fig.33) é uma apresentação dos alunos da escola de língua japonesa no aniversário da colônia (nyushokusai). Os alunos são ensaiados pelas professoras que dão atenção ao cenário e figurino, tentando deixar tudo mais próximos do conto original, repassado por várias gerações. Nas figuras 31 e 32
  • 52. 52 apresenta cenas aleatórias do teatro não focando nos elementos principais do conto como os personagens, cenário e acessórios. Esse tipo de atividade proporciona aos alunos experiências para o futuro, apesar da participação ser compulsória, aprendem de maneira divertida por estarem entre colegas, além do fator social que a escola acaba oferecendo entre os filhos e netos dos colonos. Fig. 34 Fig. 35 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 36 – Undokai I Foto: Suzy Kanezaki
  • 53. 53 A imagem (fig.36) com um ângulo inferior, teve o intuito de melhor exibir a decoração e o espaço do local, em que o momento mais importante do evento como o tradicional aquecimento ao som do radio taissô, é retratado de forma mais dinâmica em relação às outras fotos mais estáticas, já que se trata de uma gincana esportiva. A fig. 35 não passa a idéia de alongamento e na fig. 34 não apresenta de forma equilibrada e clara os elementos princiais como os adornos tradicionais e os participantes. Antes das atividades do Undokai, após o canto do hino japonês e brasileiro, se faz o alongamento ao som do Radio Taissô, que ao pé da letra significa ginástica transmitida pelo rádio, costume japonês desde a década de 20. Com uma série de movimentos simples, é praticada em quase todos os lugares no Japão, como em escolas e serviços, até os dias de hoje. Todos se reúnem em filas e os voluntários ficam na frente para auxiliar na sequência dos movimentos. O centro de interesse foi enquadrado harmoniosamente com os objetos que se encontram em primeiro plano, dando à fotografia uma sensação de profundidade, não deixando que a foto seja considerada apenas um instantâneo. O clima visto na imagem como o céu limpo e azul e o contraste com a terra batida fazem parecer terem sido feitos especialmente para o evento, com o azul transmitindo harmonia e saúde; e o contrastante com o marrom enfatiza o contato com a natureza.
  • 54. 54 Fig. 37 Fig. 38 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 39 – Undokai II Foto: Suzy Kanezaki As crianças, público alvo do Undokai, ganham destaque nesta foto (fig.39), na corrida de 50 metros. Inclui também quase todos os elementos que caracterizam este evento, como as demarcações da pista de corrida utilizada na maioria das brincadeiras, os adornos como o koinobori e bandeirolas e a arquibancada improvisada, onde familiares e amigos torcem e descansam. Ambas as figuras
  • 55. 55 37 e 38 mostra o centro de interesse, na ocasião, as crianças de forma distante não dando destaque à elas. Na corrida de 50 metros os participantes são divididos por faixa etária; as crianças entre 4 e 6 anos disputam a chegada com o incentivo do locutor do evento. Ocorre no mês de julho, para coincidir com as férias escolares delas ; é uma gincana de cunho familiar e o preparativo é feito no campo de beisebol. O adorno símbolo do Undokai são os Koinoboris que são as carpas gigantes de tecido colorido encontrados no plano de fundo da imagem (fig.57), que simbolizava o dia dos meninos e durante o pós guerra, passou a simbolizar também o dia das crianças.
  • 56. 56 Fig. 40 Fig. 41 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 42 – Bon Odori I Foto: Suzy Kanezaki A orientação horizontal na fig.42 da imagem teve influencia na escolha por expressar paz, tranquilidade e harmonia presentes no instante da foto onde durante a missa budista, diferente da fig.40, antes da janta e celebração com as danças típicas do Bon Odori da colônia. Além da serenidade da baixa iluminação, o modo em como os participantes se organizam, mostra respeito e disciplina. A fig.41 mostra apenas o missinário budista não dando destaque para o momento da missa com participaçaõ dos colonos.
  • 57. 57 Fig. 43 – Bon Odori II Foto: Suzy Kanezaki A fig.43 dá melhor destaque às praticantes mais assíduas do budismo e ao missionário, permitindo perceber os elementos e acessórios importantes utilizados no ritual espiritual realizado. A celebração do Bon Odori se inicia com uma missa em memória dos mortos, conduzida por um missionário budista convidado. Os mais adeptos do budismo ficam na primeira fileira, sendo a maioria idosos, e é um costume cultural os homens ficarem de um lado e as mulheres no outro. Ocorre no mês de agosto, num sábado à noite, podendo variar a data em outros lugares. O local do evento é adornado com diversas luminárias no teto, denominadas tyotin. No altar onde o missionário realiza a missa se encontram as oferendas a Buda, velas, incensos e o sino budista que serve como louvor e alegria aos espíritos. Praticantes do budismo acompanham a missa com uma espécie de rosário Odyuzu, tem o intuito de trasnformar os problemas e sofrimentos em combustivel para nos impulsionar para a felicidade. O ato de junar as mãos representa a fusão da realidade e sabedoria – a fusão da nossa vida com a lei mística, entre outros significados, já que se trata de uma religião cheia de símbolos e ícones.
  • 58. 58 Fig. 44 Fig.45 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig. 46 – Bon Odori III Foto: Suzy Kanezaki As tradicionais musicas do Bon Odori são tocadas e dançadas pelos colonos em círculo com movimentos simbólicos e simples, usando roupas típicas e manifestando o sentimento de gratidão a Deus pela boa colheita ou por uma boa produtividade do ano., ao centro, se toca o instrumento taikô, acompanhando o ritmo, sendo esta imagem (fig.46) a que melhor representa o momento principal e mais esperado da festa. A fig.44 apresenta o mesmo objetivo da fig. 46, porem de forma mais vaga e desiquilibrada enquanto a fig.45 não traz a imagem da
  • 59. 59 celebração em si apenas mostrando a participação da nova geração com trajes típicos como o yukata que é um kimono informal de algodão estampado, sem forro, sendo mais simples, fresco e leve que o kimono tradicional. O momento da celebração, após a missa em respeito aos mortos, tambem éconsiderada um Matsuri, já que e celebrado em homenagem aos antepassados, com músicas tradicionais. O happi, a roupa que a maioria das pessoas usa na imagem, é um quimono curto com mangas estreitas, usado como jaqueta ou avental desde a Era Edo (1600-1867), tradicional em festivais como este, no qual se imprimiam símbolos que indicavam a profissão de quem o vestia entre outros distintivos.
  • 60. 60 Fig. 47 Fig. 48 Foto: Suzy Kanezaki Foto: Suzy Kanezaki Fig.49 – Softbol I Foto: Suzy Kanezaki O movimento dos atletas na imagem (fig.49) humaniza a foto, sendo este escolhido, mostrando os jogadores do softbol em ação e em suas devidas posições. Hoje o esporte se mantem como um dos principais praticado na colônia. Nas figuras 47 e 48 mostram apenas fragmentos de imagens do esporte podendo ser interpretadas de forma incompleta sobre o tema retratado. O esporte é praticado tanto por homens como por mulheres. A foto mostra um rebatedor em ação e o time adversário se movimentando para defender; não há uniforme nos treinos, cada um veste o que for mais adequado para si, sendo que os materiais, tanto pessoais quanto coletivos, como a luvas, tacos e bolas foram
  • 61. 61 adquiridos ao longo do tempo com recursos da associação e de doações. O campo tem uma dimensão reduzida, pois a bola não vai tão longe e se reúnem uma vez por semana para treinar amistosamente. Fig. 50 – Softbol II Foto: Suzy Kanezaki Sendo frequentado hoje como hobby por maioria adultos aos domingos, a fig. 50 mostra o cuidado e prática do conhecimento básico importantes sobre o jogo como suas demarcações e regras. A demarcação do campo, a partir da área do rebatedor, mede aproximadamente 60 metros, formando um quadrado, com 2 bases em cada ponta deste. Alguns têm o hábito de chegar mais cedo, adiantando o processo do treino e se voluntariando a fazer as devidas marcações no campo de softbol, como o colono da foto (fig.50). Os usos de linhas, como as mostradas nas diagonais da imagem, funcionam como linhas de condução a fim de proporcionar um direcionamento para o nosso olhar, que facilmente segue em direção ao assunto principal.
  • 62. 62 CONCLUSÃO Mesmo já tendo conhecido e vivenciado eventos e alguns momentos fotografados, o que possibilita a realização de rascunhos e breves planejamentos das imagens, muitos imprevistos apareceram no período da realização do trabalho, pelo fato de não serem fotos ensaiadas e em estúdio. E foram encaradas como um desafio, muitas vezes saindo da minha zona de conforto, superando expectativas em alguns resultados, sendo todas satisfatórias. O objetivo foi não deixar passar desapercebida a importância de uma colônia não muito comentada em relação ao seu povo e a sua cultura, já que cada vez mais se torna difícil a conscientização de seus descendentes para mantê-los. O trabalho foi realizado em respeito e homenagem aos primeiros imigrantes japoneses da região de Várzea Alegre que persistem em seus costumes tradicionais. Busquei nas fotografias minha maneira de ver a colônia Jamic, resultando em imagens carregadas de significados transparentes de emoção, afetividade e religiosidade, numa tentativa de diálogo entre a realidade e a imagem capturada, através de conhecimentos e práticas obtidas a partir de aula e oficinas de fotografia em semestres anteriores. Por fim pude aprofundar os conhecimentos sobre a minha própria cultura e sobre a história através de entrevistas e pesquisas impulsionadas por este trabalho, além de me interessar ainda mais por este gênero e de me sentir “afortunada”, de certa forma, por pertencer a uma colônia que ainda mantém suas tradições, conseguindo compreender melhor essa importância.
  • 63. 63 Referências Bibliográficas: ANDRADE, Rosana de. Fotografia e Antropologia: Olhares fora-dentro. São Paulo: Estação Liberdade; EDUC, 2002. Associação Esportiva da Colônia Japonesa em Campo Grande. AYUMI – A saga da colônia japonesa de Campo Grande. Campo Grande - MS: Gibim, 2008. COSTA, Helouise; SILVA, Renato Rodrigues da. A fotografia moderna no Brasil. São Paulo: Cosac Naify, 2004. COTTON, Charlotte: A Fotografia Como Arte Contemporânea. 2.ed. – São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013. Enciclopédia Itaú Cultural, João Urban. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa17673/joao-urban Acesso em 1 de dezembro de 2014. Enciclopédia Itaú Cultural, Walter Firmo. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21812/walter-firmo . Acesso em 1 de dezembro de 2014. FABRIS, Annateresa. Identidades virtuais: uma leitura do retrato fotográfico. Belo Horizonte: UFMG, 2004. FABRIS, Annateresa. Fotografia: Usos e Funções no Século XIX. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia. Rio de Janeiro: Sextante, 2012
  • 64. 64 KOSSOY, Boris. Fotografia e História. 2. ed. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. MACHADO, Arlindo. O olhar essencial de um poeta da câmera. Folha de S. Paulo).Disponivel em:http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa21812/Walter-Firmo Acesso 15 de junho de 2014. MAGALHÃES, Angela; PEREGRINO, Nadja. Fotografia no Brasil: um olhar das origens ao contemporâneo. Rio de Janeiro: Funarte, 2004. MARIN, Jérri Roberto; VANSCONCELOS, Cláudio Alves. História Região e Identidades. Campo Grande - MS: UFMS, 2003. ROUILLÉ, André. A fotografia entre documento e arte contemporânea. Tradução: Constancia Egrejas – São Paulo: Senac, 2009. SMITH, Edward Lucie. Os movimentos artísticos a partir de 1945; tradução Cássia Maria Nasser. São Paulo: Martins Fontes, 2006. TAVARES, Antonio Luis Marques. A fotografia artística e o seu lugar na arte contemporânea. Revista Sapiens, 2009. Disponível em: <http://www.academia.edu/1155767/A_fotografia_artistica_e_o_seu_lugar_na_ arte_contemporanea>. Acesso em: 10 dez. 2013. YOSHIMI, Shunya. Interpretações da "cultura japonesa" e seus reflexos no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010269092011000100006&script=sci_ar ttext>. Acesso em: 30 de julho de 2014.