O documento discute o mercado de feno no Brasil. Ele descreve as características desejadas do feno de boa qualidade, como umidade adequada, cor esverdeada e alta proporção de folhas. Também discute os desafios do setor, como a variabilidade na qualidade do feno comercializado e as barreiras à entrada de novos produtores devido aos altos custos de equipamentos.

1. AGRONEGÓCIO
Algumas considerações econômicas sobre o feno.
Considera-se como feno, todo alimento e) Temperatura do fardo sempre fria (ambi- Tanto o volume comercializado quanto
volumoso obtido pela desidratação parcial ente); o preço médio do fardo tem se elevado nos
de uma planta forrageira. Esta pode ser gra- f) Presença de odor característico de feno últimos anos. A Figura 1 apresenta a evo-
mínea ou leguminosa. Entre as gramíneas, (capim cortado); lução do preço médio.
destacam-se o capim-elefante (Pennisetum g) Presença de apenas uma espécie vegetal; Os fardos não são padronizados. Podem
purpureum Schum) e a espécie Cynodon. h) Ausência de odores estranhos, fungos e variar quanto ao formato (retangular ou
Praticamente todas as forragens da espécie bolores; rolo) e tamanho (pequenos, de 10 a 15 kg, e
Cynodon1 são adequadas para o processo i) Ausência de plantas daninhas, sementes grandes, de 20 a 30 kg). Os fardos peque-
de fenação, sendo que Coastcross, Floraki- ou pendões florais; nos são comercializadas, em maior freqüên-
rk e Tifton 78 são as melhores, pois apre- j) Ausência de terra, gravetos ou materiais cia, com 12 kg e os grandes, com 20 kg. Os
sentam talos finos, reduzindo o diferencial estranhos; preços, por quilo, variam desde R$ 0,20 até
de desidratação entre caules e folhas, o que Poderão, ainda, ser avaliadas: uniformi- R$ 0,50. O preço médio é de R$ 0,35/kg
proporciona um feno de qualidade em tem- dade no tamanho dos fardos; uniformidade (dados referentes ao primeiro semestre de
po curto de secagem. Entre as leguminosas, no peso dos fardos; perda excessiva de fo- 2006).
destaca-se a alfafa, feno que possui a maior lhas ao manuseio; e, amarração firme dos O custo do frete limita a área de atuação
quantidade de proteína. fardos. dos produtores de feno. O custo por quilo-
Em princípio, qualquer planta poderia ser Como discutido mais adiante, a desaten- metro do frete gira em torno do preço do
fenada, entretanto, em função de qualidade ção dos compradores em relação às obser- litro de óleo diesel. Levantamento realiza-
e custo, algumas características2 devem ser vações acima, tem dificultado o desenvolvi- do registrou valores entre R$ 1,00 e 1,80
consideradas e algumas condições dever ser mento do mercado brasileiro de feno. Mui- por quilometro. Na média, o custo do frete
obrigatoriamente satisfeitas, entre elas: se a tos compradores, por desconhecimento, é de R$ 1,40/km. A Tabela 1 apresenta o
planta é adequada ao processo; a idade óti- acreditam que feno é apenas volumoso e impacto do custo do frete.
ma de corte; o momento ótimo de corte; o adquirem produto de baixa qualidade. Uma Desta forma, os produtores de feno pos-
processamento adequado; e, o armazena- das implicações da diversidade de qualida- suem área de atuação limitada pelo custo
mento adequado. de de feno no mercado é a elevada variabili- do frete. Distâncias superiores a 200 km,
O feno deve apresentar características dade nos preços. Dados coletados no pri- em geral, inviabilizam economicamente o
nutricionais diferenciadas (avaliada por aná- meiro semestre de 2006, por exemplo, indi- transporte. Assim, as empresas atuam local-
lises bromatológicas). Os parâmetros avali- cam que o fardo de feno produzido com cui- mente e, em alguns casos, regionalmente,
ados para um bom feno estão representa- dados adequados é comercializado por R$ mas nunca nacionalmente.
dos em % no Quadro 1. 4,50, enquanto produtos obtidos de gramíne- A produção comercial do feno no Brasil
Diante de eventual dificuldade em reali- as sem adubação, misturadas com ervas dani- é realizada em diversos tipos de proprieda-
zar a análise bromatológica, as característi- nhas, são vendidos por R$ 2,00/fardo. des. Pequenos proprietários, em geral anti-
cas físicas – visuais, tácteis e olfativas – tor- No mercado brasileiro, a produção de gos criadores de cavalos, que possuem má-
nam-se um poderoso instrumento de avali- feno foi impulsionada nas décadas de 70 e quinas para fenação realizam produção em
ação da qualidade nutricional. Deve-se bus- 80 do século passado, com a introdução de pequena escala, muitas vezes com baixo pre-
car feno com todas as seguintes caracterís- gramíneas de melhor qualidade. Inicialmen- ço e baixa qualidade. No outro extremo, há
ticas, em conjunto: te, foi utilizado o capim Rhodes e, posteri- grandes produtores, com áreas plantadas su-
a) Umidade adequada (seco) e homogênea; ormente, Coastcross e Tifton. Na última
b) Coloração esverdeada; década, o mercado foi favorecido pelo cres- 1
Por exemplo: Coastcross, Florakirk, Tifton 78 (ber-
cimento da criação de cavalos em áreas pe- muda grasses), Tifton 85, Florona, Florico, Porto
c) Maciez ao tato; rico e Tifton 68, entre outros.
d) Alta proporção de folhas em relação às quenas, como condomínios residenciais e 2
Esta parte introdutória está baseada em Domin-
hastes; manéges. gues & Haddad (2004).
Quadro 1: Características nutricionais desejadas no feno, em percentuais. Figura 1: Brasil - evolução do preço médio anual do fardo de feno, período
de 1996 a 2006, em reais (valores nominais).
Matéria Proteína FIBRA
NDT MM N-ADF
Seca Bruta BRUTA FDA FDN
MÉDIO 13-15 7-11 32-35 38-44 77-81 50-54 6-10 8-25
ÓTIMO 11-13 11-13 30-32 35-40 75-78 54-58 6-8 6-10
FDA = Fibra em detergente neutro = significa a fração digerível de fibras
FDN = Fibra em detergente ácido = significa a fração fibrosa não digerível
MM = mililitros de água
N-ADF = nitrogênio ligado à fração fibrosa não digerível * Primeiro quadrimestre

2. Tabela 1: Impacto do frete no preço do fardo de acordo com Figura 2: Desvio em relação à média de precipitação pluviométrica, em milíme-
a distância percorrida, em reais (R$), primeiro semestre de 2006. tros (acumulado) por mês, Estados selecionados, período de 1961 a 1990.
Caminhão Distância (em km)
Fonte: Elaborado pelos autores a partir de dados
coletados em http://www.lce.esalq.usp.br.
Tipo Capacidade 50 100 150 200 250 300 350 400
Toco 200 fardos 0,35 0,70 1,05 1,40 1,75 2,10 2,45 2,80
Truck 350 fardos 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 1,40 1,60
Truck 600 fardos 0,12 0,23 0,35 0,47 0,58 0,70 0,82 0,93
Fonte: Dados da pesquisa
periores a 700 ha. Entre estes extremos, há dos investimentos em máquinas (enfardadei- de do feno. Em geral a tomada de decisão é
inúmeros produtores de feno dos mais di- ra, carretas, tratores e segadeira, entre ou- feita com base no preço, sem ponderar a
versos tamanhos. O preço do feno apresen- tros). Enfardadeiras mecânicas, com vida útil qualidade do produto. A adoção de uma
ta grande variação estacional, atraindo pro- de 10 anos, são comercializadas por preços padronização mais precisa do feno comer-
dutores nos períodos de alta. Quando os que variam de R$ 30.000,00 – para produ- cializado, em que as características citadas
preços baixam, ocorre redução do seu nú- ção de fardos pequenos, de cerca de 10 qui- anteriormente fossem transparentes, pode-
mero. O Estado de São Paulo é o principal los, até valores próximos a R$ 50.000 - para ria permitir a precificação mais justa dos di-
produtor, seguido de Minas Gerais (Rio produção de fardos grandes, de cerca de 20 ferentes fenos ofertados no mercado e, por-
Grande do Sul e Paraná apresentam produ- quilos. Há alternativas de enfardadeiras tanto, maior dinamismo no segmento.
ções próximas às de Minas Gerais). A sazo- manuais, com preços entre R$ 1.000,00 e
Roberto A. de Souza Lima
nalidade nos preços está associada às varia- 2.000,00, mas com baixa produtividade (en-
Professor doutor da Escola
ções climáticas, mais especificamente, à pre- tre 80 e 100 fardos de 10 quilos por dia, Superior de Agricultura “Luiz
cipitação pluviométrica (Figura 2). com vida útil de 15 anos). de Queiroz” da Universidade
Uma importante barreira à entrada de Uma outra dificuldade para o desenvol- de São Paulo (ESALQ/USP)
produtores mais eficientes (em termos tan- vimento do mercado é a incapacidade – de raslima@esalq.usp.br
to de produtividade física quanto qualidade muitos criadores e proprietários de eqüinos Rudy Tarasantchi
e custo unitário) é a necessidade de eleva- – de, adequadamente, diferenciar a qualida- Graduando da ESALQ/USP