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        2008




           HISTÓRIA DA ARTE
           AVALIAÇÃO FINAL DA DISCIPLINA JUNTO
           AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM
           METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
           Texto retratando vida e obra de um dos maiores
           pintores primitivistas do Brasil: Chico da Silva.




                                                 Henrique
                                             Gomes de Lima
                                               28/05/2008
HENRIQUE GOMES DE LIMA
               UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
                     CENTRO DE EDUCAÇÃO
  CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE
            DISCIPLINA: HISTÓRIA DO ENSINO DE ARTE
         PROFESSOR: Dr. JOSÉ ALBIO MOREIRA DE SALES
                ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA


1. JUSTIFICATIVA
                                    “A história da arte se baseia em noções de estilo próprio e talento individual.
                                              De uma perspectiva comercial, uma obra da ‘escola de Rembrandt’
                     não poderia nunca atingir os preços estratosféricos de uma obra autêntica do próprio mestre,
                            independente do quão artisticamente satisfatória ela seja em todos os outros níveis.”
                                            (Eleanor Heartney, jornalista e comentadora de arte contemporânea)




        Valorizar a história de vida dos indivíduos é um dos primeiros passos para
ressignificar conceitos, derrubar preconceitos, contar o que não foi contado,
produzir conhecimentos, e o que é mais importante, valorizar a subjetividade e as
emoções humanas.
        Um trabalho que se propõe a discutir História da Arte deve buscar tal
intento. O presente texto então, vem mostrar e contextualizar a vida e a obra de um
dos maiores pintores primitivistas do Brasil e do mundo, Chico da Silva. Sabe-se
que as manifestações artísticas são endêmicas em toda e qualquer sociedade e
que na maioria das vezes sua importância e seu valor são proporcionais ao poder
político e econômico dessa sociedade. Nesse contexto, o que se torna mais
conhecido, mais importante é apenas uma consequencia da força geopolítica.
        Meio mundo é influenciado pela cultura grego-romana. As idéias e
concepções ainda hoje são refletidas em várias de nossos construções sociais.
Não queremos aqui desvalorizar a grande produção artística da Europa, até
mesmo porque ela é legítima e de qualidade. No entanto, ela não existe sozinha.
Várias outras culturas e sociedades possuem manifestações com valor estético e
histórico de igualdade magnitude. Portanto, as manifestações da Arte incorporam
em sí um significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro
em outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter
de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se que
sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas e tão
profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva existe no
plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda um modelo
específico de pensar o mundo e com este relacionar-se.




                                                  2
HENRIQUE GOMES DE LIMA
       Estudar Chico da Silva, portanto, vêm ao encontro desse objetivo. Mostrar
como um homem simples, pobre, analfabeto pode construir um legado artístico
único e original. O poder criativo dos indivíduos, conforme já afirmamos, é nato,
mas também pode ser influenciado pelo meio, (...) Assim como a cultura nos
modelou como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim
também ela nos modela como indíviduos separados. É isso o que temos realmente
em comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento
cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64)
       A Arte é a expressão do belo. Esta definição, comum até há algumas
décadas, conduz a outra questão: O que é belo? Aí, a resposta se torna bem mais
complicada. O que é motivo de escárnio para uns, transforma-se em emoção para
outros. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo em que vive e não pode
estar alheio às mudanças da própria sociedade. Caminha com elas e até adiante
delas, provocando escândalo e reações iradas dos mais conservadores. O artista
não busca a unanimidade; não é um copista, é um desbravador: busca o diferente
onde todo mundo só vê o igual.
       Acretidamos que é dentro desse raciocínio que estudar o pintor cearense
Chico da Silva se justifica. Possuidor de um estilo ímpar o artísta retratou suas
vivências suas raízes com traços e cores carregados de simbolismo,de cultura.




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HENRIQUE GOMES DE LIMA
2. BIOGRAFIA

                Marcadas pelo talento, o acaso e a decadência, a
     vida e a obra de Chico da Silva são das mais intrigantes da
     História da Arte brasileira e também um retrato da falta de
     suporte por parte do governo e dos próprios artistas em
     oferecer a oportunidade de um grande artista, ainda que
     simples, como Chico da Silva - analfabeto toda a vida - de
     se profissionalizar. Tejo, AC, 1910 ou
                       (Alto
1922,Fortaleza, CE, 1985)

           Francisco Domingos da Silva nasceu no Acre, e aos 10 anos veio para
Pirambu, bairro pobre de Fortaleza. Perdeu o pai logo depois passando a fazer
todos os tipos de serviços - consertando sapato, fogão, cobrindo guarda chuva, etc.
Em suas muitas andanças pela cidade, Chico às vezes parava em frente a um
muro branco e fazia desenhos com carvão ou tijolo, colorindo-os com folhas. Foram
estes desenhos, na Praia Formosa, que chamaram a atenção do crítico de arte e
pintor Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo e foi seu primeiro incentivador.
Chabloz ensinou Chico da Silva a pintar com guache e passou a dar o material
para que ele pintasse, além de comprar todas as suas telas - comprou mais de 40.
Foi por intermédio dele que Chico da Silva expôs, pela primeira vez, no III Salão
Cearense de pintura e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 45, junto com
outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50,
suas obras vão ser vistas em várias galerias da Europa, conseqüência de um artigo
a seu respeito no Cahiers d’Art, conceituada publicação francesa, que o considerou
um pintor genuinamente primitivo.
           Deslumbrado com o dinheiro e a fama, Chico da Silva passa a gastar com
álcool e mulheres; atento à supervalorização dos seus quadros, quer produzir cada
vez mais, e passa a recorrer a ajudantes, na verdade meninos e meninas que
pintavam os quadros que ele só assinava - cerca de 90% dos quadros com data
posterior a 72 eram falsos. A esta altura o artista estava cercado de aproveitadores
que o exploravam, exigindo cada vez uma produção maior, vendendo quadros de
Chico em mercados, feiras e até na porta de hotéis, por valores ínfimos.
           Em meio a denúncias de falsificação, Chico da Silva é indicado para expor
na XXXIII Bienal de Veneza, em 66, onde recebe Menção Honrosa. Chabloz,
decepcionado com os rumos que artista e obra tomaram, rompe com ele em 69,




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HENRIQUE GOMES DE LIMA
afirmando em um artigo do Jornal do Brasil, intitulado Chico da Silva ou a
ingenuidade perdida, que sua arte estava morta.
        A processo de decadência do artista se agrava com a morte da mulher,
Dalva, em 75, e tem seu ápice em 1976, quando foi internado com cirrose hepática
e tuberculose crônica, permanecendo um ano no hospital. Mesmo se recuperando
fisicamente, Chico continuou bebendo e jamais conseguiu recuperar sua arte. O
maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da
região amazônica realizava através de uma expressão quase surrealista, e que
está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da
Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos
isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do
qual, sem orientação, acabou por perder-se.


3. A     DESCOBERTA,         O     ENCONTRO,         OS     DEPOIMENTOS,          AS
   INTERPRETAÇÕES


        Jean-Pierre Chabloz, nascido em 1910 em Lausanne, Suíça, e falecido em
1984 em Fortaleza, recordou:
“... eu passeava ao longo da praia Formosa quando, de repente, minha atenção foi
atraída por estranhos desenhos que enfeitavam algumas casinhas de pescadores.
Intrigado, aproximei-me para ver aquilo mais de perto.” Era o ano de 1943 e
Chabloz e Chico da Silva tinham, ambos, 33 anos.
Continuou Chabloz: “Amplamente esboçados a carvão ou giz, havia grandes
pássaros de linhas elegantes, peixes um tanto monstruosos, estranhas aparições
de navios-fantasmas. O que me chamou a atenção e me seduziu logo nesses
desenhos elementares foi sua originalidade, seu estilo nitidamente arcaico e seu
admirável poder de evocação poética. Entusiasmado, procurei saber quem era o
autor dessas composições murais. ‘É um cara meio louco’, responderam. É um
caboclo que veio não se sabe de onde, se diverte rabiscando os muros e
desaparece, sem deixar endereço’.“
        Chabloz descobriu e projetou Chico da Silva no cenário artístico nacional e
internacional. Sob a orientação de Chabloz, Chico progrediu. “Permanecendo fiel a
seu universo interior e não alterando em nada sua preciosa visão de poeta,
Francisco corria de descoberta em descoberta e conquistava galhardamente um
real domínio artístico e técnico”, registrou Chabloz. Lucien Finkelstein, fundador e



                                         2
HENRIQUE GOMES DE LIMA
presidente do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (MIAN), comenta sobre a
projeção de Chico da Silva:
“Muitos ‘naifs’ brasileiros são reconhecidos no exterior, como Chico da Silva, que
ganhou o prêmio ‘Menção Honrosa’ de pintura, em 1966, na 33ª Bienal de Veneza,
a mais importante exposição mundial de arte contemporânea. O prêmio de Chico
da Silva é um feito único para a pintura brasileira de todos os tempos.”
        Explica Lucien Finkelstein: “O adjetivo francês ‘naif’ vem do latim ‘nativus’,
que significa nascente, natural, espontâneo, primitivo. Assim, pode ser substituído
também por ingênuo e primitivo, mas as três palavras devem ser tomadas ao pé da
letra. Todas têm origem no Latim: ingênuo vem de ‘ingenuus’ (nascido livre) e
primitivo, de ‘primitivus’ (que pertence ao primeiro estado de uma coisa). Essas três
definições poderiam servir para caracterizar a pintura ‘naif’, que é natural, livre e
pura.” Chico da Silva enquadra-se no conceito de ‘naif’, na forma conceituada por
Lucien. Avaliou o próprio Chabloz: “Francisco Silva, primitivo em muitos aspectos
de sua natureza, era ainda muito criança. De sua ingenuidade atraente, e de sua
pequena astúcia também, me dava mostras engraçadas, às vezes.”
        Chico pintava por sua habilidade e por sua aptidão, não por ciência ou
conhecimentos. Autoditata, ele pintava sem regras e sem constrangimentos. Era o
criador de suas obras e, como observou Chabloz, sua pintura tinha originalidade.
André Malraux, ministro da Cultura da França, disse sobre Chico: “um artista
primitivo entre os maiores do mundo”. Rubem Navarra, crítico de arte, comentou
em 1945: “Devo dizer que os guaches desse artista indígena são qualquer coisa de
muito sério. Na arte brasileira só Cícero Dias, há dez anos, me dera uma
impressão de ingenuidade lírica tão poderosa, aplicada à pintura.”
        Antes de Chabloz, Chico ganhava a vida consertando guarda-chuvas e
fazendo fogareiro de lata para vender, lembra Ivan, um dos integrantes da Escola
do Pirambu. Chico não era ligado a nenhuma escola ou grupo. Ele, sim, criou uma
escola e criou um estilo. Ele criou uma escola localizada no bairro Pirambu, em
Fortaleza, formada por um grupo seguidor de seu estilo.
        Na arte, segundo Luiz Fernando Marcondes, estilo é a “maneira de
expressão característica e diferenciadora de um artista ou de um grupo, em
qualquer arte”, enquanto escola é o termo empregado quando nos reportamos ao
critério geográfico, de acordo com a tendência atual. O estilo de Chico é original e
inconfundível: os pássaros, os peixes e os outros animais pintados tanto por Chico
como pelos seus seguidores constituem a simbologia da Escola do Pirambu.



                                          2
HENRIQUE GOMES DE LIMA
Inexiste nada parecido na pintura mundial, por isso Chabloz apresentou Chico da
Silva como “o índio que reinventou a pintura.”
O grupo da Escola do Pirambu era formado por Babá, o primeiro discípulo
(Sebastião Lima da Silva), Claudionor (José Cláudio Nogueira), Francisca
(Francisca Silva), já falecida, Garcia (José Garcia de Santos Gomes) e Ivan (Ivan
José de Assis).
        O autor vem incentivando o grupo a continuar a produção de obras no
estilo criado por Chico da Silva ou à luz da simbologia da Escola do Pirambu, uma
marca registrada do Ceará. O autor também vem estimulando Gerardo da Silva,
neto de Chico e filho de Francisca Silva. Escolas, fundadores de escolas e
seguidores ou discípulos fazem parte da história da arte. Não é demérito ter obra
de um seguidor ou discípulo. Sugeriu Chabloz: “Do ponto-de-vista prático, é certo
que, ao primeiro olhar lançado sobre os guaches de Francisco Silva, não se pode
deixar de pensar no aproveitamento que deles poderiam fazer as vulgarmente
chamadas ‘artes aplicadas’. A cerâmica, o tecido estampado, o papel-parede, o
bordado, a tapeçaria, encontrariam no Pintor da Praia um criador infinitamente
precioso.”
        Chabloz, lembra Estrigas, “possuía, além do desenho, da pintura e da
música, conhecimentos de filosofia, envolvia-se com as ciências ocultas, era um
animador cultural e ótimo conversador, trazendo uma cultura européia e sendo
muito sensível ao que era nosso.” Disse Chabloz sobre o Ceará: “De todos os
Estados brasileiros, o Ceará é, muito provavelmente, o mais autóctone, o mais
autêntico, o mais original.”




                                         2
HENRIQUE GOMES DE LIMA


4. RESUMO DIDÁTICO

Chico da Silva (1910 - 1985)



Nascimento: 1910 - Alto Tejo AC

Falecimento: 1985 - Fortaleza CE - 6 de dezembro

Cronologia

Pintor, desenhista, sapateiro, ajudante de marinheiro

1935 - Fortaleza CE - Muda-se com a família para o bairro de Pirambu

1937 - Fortaleza CE - Começa a desenhar a carvão e giz sobre muros e paredes
de casebres de pescadores

1943/1945 - Fortaleza CE - Incentivado pelo crítico e pintor suíço Jean Pierre
Chabloz, começa a pintar na técnica do guache

1961/1963 - Fortaleza CE - Através de Chabloz, trabalha no recém-criado Museu
de Arte da UFCE

1971 - Fortaleza CE - Treze reproduções de seus trabalhos são publicadas no
calendário do Banco do Nordeste

1952 e 1969 - Paris (França) - Jean Pierre Chabloz publica o artigo Um índio
Brasileiro Reinventa a Pintura, sobre seu trabalho. Em 1969, porém, Chabloz
publica um outro artigo no Jornal do Brasil: Chico da Silva ou a Ingenuidade
Perdida, comentando o retrocesso que sua obra vinha sofrendo nos últimos anos

1975 - Pedro Jorge de Castro realiza um filme sobre sua vida e obra

1976 - A SBPC, em sua reunião anual, dedica uma mesa de debates ao artista

1976/1980 - Fortaleza CE - É internado devido ao agravamento de cirrose hepática
e tuberculose, sendo, posteriormente, encaminhado a um hospital psiquiátrico,
onde permanece por quatro anos

1978 - São Paulo SP - Agraciado com a Medalha Anchieta pela Câmara Municipal

1981 - Fortaleza CE - Retoma a pintura após afastamento por motivos de doença

1984 - Fortaleza CE - Agraciado com a Medalha da Abolição pelo governo do
estado

1988 - Fortaleza CE - Estrigas publica um livro sobre o pintor

1989 - Fortaleza CE - É lançado o livro Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, com


                                          2
HENRIQUE GOMES DE LIMA


texto de Roberto Galvão

5. ALGUMAS OBRAS




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A vida e obra de Chico da Silva

  • 1. bbmmm 2008 HISTÓRIA DA ARTE AVALIAÇÃO FINAL DA DISCIPLINA JUNTO AO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE Texto retratando vida e obra de um dos maiores pintores primitivistas do Brasil: Chico da Silva. Henrique Gomes de Lima 28/05/2008
  • 2. HENRIQUE GOMES DE LIMA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTE DISCIPLINA: HISTÓRIA DO ENSINO DE ARTE PROFESSOR: Dr. JOSÉ ALBIO MOREIRA DE SALES ALUNO: HENRIQUE GOMES DE LIMA 1. JUSTIFICATIVA “A história da arte se baseia em noções de estilo próprio e talento individual. De uma perspectiva comercial, uma obra da ‘escola de Rembrandt’ não poderia nunca atingir os preços estratosféricos de uma obra autêntica do próprio mestre, independente do quão artisticamente satisfatória ela seja em todos os outros níveis.” (Eleanor Heartney, jornalista e comentadora de arte contemporânea) Valorizar a história de vida dos indivíduos é um dos primeiros passos para ressignificar conceitos, derrubar preconceitos, contar o que não foi contado, produzir conhecimentos, e o que é mais importante, valorizar a subjetividade e as emoções humanas. Um trabalho que se propõe a discutir História da Arte deve buscar tal intento. O presente texto então, vem mostrar e contextualizar a vida e a obra de um dos maiores pintores primitivistas do Brasil e do mundo, Chico da Silva. Sabe-se que as manifestações artísticas são endêmicas em toda e qualquer sociedade e que na maioria das vezes sua importância e seu valor são proporcionais ao poder político e econômico dessa sociedade. Nesse contexto, o que se torna mais conhecido, mais importante é apenas uma consequencia da força geopolítica. Meio mundo é influenciado pela cultura grego-romana. As idéias e concepções ainda hoje são refletidas em várias de nossos construções sociais. Não queremos aqui desvalorizar a grande produção artística da Europa, até mesmo porque ela é legítima e de qualidade. No entanto, ela não existe sozinha. Várias outras culturas e sociedades possuem manifestações com valor estético e histórico de igualdade magnitude. Portanto, as manifestações da Arte incorporam em sí um significado cultural e que pode, partir de uma realidade local, buscar coro em outros espaços e tempos. A compreensão dessa realidade, adquire um caráter de sistema a partir do momento em que ao explorar a sensibilidade percebe-se que sua formação é essencialmente coletiva e que suas bases são tão amplas e tão profundas como a própria vida social. A ligação entre arte e vida coletiva existe no plano simiótico e se materializam em uma forma de viver e traz ainda um modelo específico de pensar o mundo e com este relacionar-se. 2
  • 3. HENRIQUE GOMES DE LIMA Estudar Chico da Silva, portanto, vêm ao encontro desse objetivo. Mostrar como um homem simples, pobre, analfabeto pode construir um legado artístico único e original. O poder criativo dos indivíduos, conforme já afirmamos, é nato, mas também pode ser influenciado pelo meio, (...) Assim como a cultura nos modelou como espécie única - e sem dúvida ainda nos está modelando - assim também ela nos modela como indíviduos separados. É isso o que temos realmente em comum - nem um ser subcultural imutável, nem um consenso de cruzamento cultural estabelecido.” (GEERTZ,l989,p.64) A Arte é a expressão do belo. Esta definição, comum até há algumas décadas, conduz a outra questão: O que é belo? Aí, a resposta se torna bem mais complicada. O que é motivo de escárnio para uns, transforma-se em emoção para outros. Arte é contradição. O artista interpreta o mundo em que vive e não pode estar alheio às mudanças da própria sociedade. Caminha com elas e até adiante delas, provocando escândalo e reações iradas dos mais conservadores. O artista não busca a unanimidade; não é um copista, é um desbravador: busca o diferente onde todo mundo só vê o igual. Acretidamos que é dentro desse raciocínio que estudar o pintor cearense Chico da Silva se justifica. Possuidor de um estilo ímpar o artísta retratou suas vivências suas raízes com traços e cores carregados de simbolismo,de cultura. 2
  • 4. HENRIQUE GOMES DE LIMA 2. BIOGRAFIA Marcadas pelo talento, o acaso e a decadência, a vida e a obra de Chico da Silva são das mais intrigantes da História da Arte brasileira e também um retrato da falta de suporte por parte do governo e dos próprios artistas em oferecer a oportunidade de um grande artista, ainda que simples, como Chico da Silva - analfabeto toda a vida - de se profissionalizar. Tejo, AC, 1910 ou (Alto 1922,Fortaleza, CE, 1985) Francisco Domingos da Silva nasceu no Acre, e aos 10 anos veio para Pirambu, bairro pobre de Fortaleza. Perdeu o pai logo depois passando a fazer todos os tipos de serviços - consertando sapato, fogão, cobrindo guarda chuva, etc. Em suas muitas andanças pela cidade, Chico às vezes parava em frente a um muro branco e fazia desenhos com carvão ou tijolo, colorindo-os com folhas. Foram estes desenhos, na Praia Formosa, que chamaram a atenção do crítico de arte e pintor Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo e foi seu primeiro incentivador. Chabloz ensinou Chico da Silva a pintar com guache e passou a dar o material para que ele pintasse, além de comprar todas as suas telas - comprou mais de 40. Foi por intermédio dele que Chico da Silva expôs, pela primeira vez, no III Salão Cearense de pintura e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 45, junto com outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50, suas obras vão ser vistas em várias galerias da Europa, conseqüência de um artigo a seu respeito no Cahiers d’Art, conceituada publicação francesa, que o considerou um pintor genuinamente primitivo. Deslumbrado com o dinheiro e a fama, Chico da Silva passa a gastar com álcool e mulheres; atento à supervalorização dos seus quadros, quer produzir cada vez mais, e passa a recorrer a ajudantes, na verdade meninos e meninas que pintavam os quadros que ele só assinava - cerca de 90% dos quadros com data posterior a 72 eram falsos. A esta altura o artista estava cercado de aproveitadores que o exploravam, exigindo cada vez uma produção maior, vendendo quadros de Chico em mercados, feiras e até na porta de hotéis, por valores ínfimos. Em meio a denúncias de falsificação, Chico da Silva é indicado para expor na XXXIII Bienal de Veneza, em 66, onde recebe Menção Honrosa. Chabloz, decepcionado com os rumos que artista e obra tomaram, rompe com ele em 69, 2
  • 5. HENRIQUE GOMES DE LIMA afirmando em um artigo do Jornal do Brasil, intitulado Chico da Silva ou a ingenuidade perdida, que sua arte estava morta. A processo de decadência do artista se agrava com a morte da mulher, Dalva, em 75, e tem seu ápice em 1976, quando foi internado com cirrose hepática e tuberculose crônica, permanecendo um ano no hospital. Mesmo se recuperando fisicamente, Chico continuou bebendo e jamais conseguiu recuperar sua arte. O maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da região amazônica realizava através de uma expressão quase surrealista, e que está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do qual, sem orientação, acabou por perder-se. 3. A DESCOBERTA, O ENCONTRO, OS DEPOIMENTOS, AS INTERPRETAÇÕES Jean-Pierre Chabloz, nascido em 1910 em Lausanne, Suíça, e falecido em 1984 em Fortaleza, recordou: “... eu passeava ao longo da praia Formosa quando, de repente, minha atenção foi atraída por estranhos desenhos que enfeitavam algumas casinhas de pescadores. Intrigado, aproximei-me para ver aquilo mais de perto.” Era o ano de 1943 e Chabloz e Chico da Silva tinham, ambos, 33 anos. Continuou Chabloz: “Amplamente esboçados a carvão ou giz, havia grandes pássaros de linhas elegantes, peixes um tanto monstruosos, estranhas aparições de navios-fantasmas. O que me chamou a atenção e me seduziu logo nesses desenhos elementares foi sua originalidade, seu estilo nitidamente arcaico e seu admirável poder de evocação poética. Entusiasmado, procurei saber quem era o autor dessas composições murais. ‘É um cara meio louco’, responderam. É um caboclo que veio não se sabe de onde, se diverte rabiscando os muros e desaparece, sem deixar endereço’.“ Chabloz descobriu e projetou Chico da Silva no cenário artístico nacional e internacional. Sob a orientação de Chabloz, Chico progrediu. “Permanecendo fiel a seu universo interior e não alterando em nada sua preciosa visão de poeta, Francisco corria de descoberta em descoberta e conquistava galhardamente um real domínio artístico e técnico”, registrou Chabloz. Lucien Finkelstein, fundador e 2
  • 6. HENRIQUE GOMES DE LIMA presidente do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (MIAN), comenta sobre a projeção de Chico da Silva: “Muitos ‘naifs’ brasileiros são reconhecidos no exterior, como Chico da Silva, que ganhou o prêmio ‘Menção Honrosa’ de pintura, em 1966, na 33ª Bienal de Veneza, a mais importante exposição mundial de arte contemporânea. O prêmio de Chico da Silva é um feito único para a pintura brasileira de todos os tempos.” Explica Lucien Finkelstein: “O adjetivo francês ‘naif’ vem do latim ‘nativus’, que significa nascente, natural, espontâneo, primitivo. Assim, pode ser substituído também por ingênuo e primitivo, mas as três palavras devem ser tomadas ao pé da letra. Todas têm origem no Latim: ingênuo vem de ‘ingenuus’ (nascido livre) e primitivo, de ‘primitivus’ (que pertence ao primeiro estado de uma coisa). Essas três definições poderiam servir para caracterizar a pintura ‘naif’, que é natural, livre e pura.” Chico da Silva enquadra-se no conceito de ‘naif’, na forma conceituada por Lucien. Avaliou o próprio Chabloz: “Francisco Silva, primitivo em muitos aspectos de sua natureza, era ainda muito criança. De sua ingenuidade atraente, e de sua pequena astúcia também, me dava mostras engraçadas, às vezes.” Chico pintava por sua habilidade e por sua aptidão, não por ciência ou conhecimentos. Autoditata, ele pintava sem regras e sem constrangimentos. Era o criador de suas obras e, como observou Chabloz, sua pintura tinha originalidade. André Malraux, ministro da Cultura da França, disse sobre Chico: “um artista primitivo entre os maiores do mundo”. Rubem Navarra, crítico de arte, comentou em 1945: “Devo dizer que os guaches desse artista indígena são qualquer coisa de muito sério. Na arte brasileira só Cícero Dias, há dez anos, me dera uma impressão de ingenuidade lírica tão poderosa, aplicada à pintura.” Antes de Chabloz, Chico ganhava a vida consertando guarda-chuvas e fazendo fogareiro de lata para vender, lembra Ivan, um dos integrantes da Escola do Pirambu. Chico não era ligado a nenhuma escola ou grupo. Ele, sim, criou uma escola e criou um estilo. Ele criou uma escola localizada no bairro Pirambu, em Fortaleza, formada por um grupo seguidor de seu estilo. Na arte, segundo Luiz Fernando Marcondes, estilo é a “maneira de expressão característica e diferenciadora de um artista ou de um grupo, em qualquer arte”, enquanto escola é o termo empregado quando nos reportamos ao critério geográfico, de acordo com a tendência atual. O estilo de Chico é original e inconfundível: os pássaros, os peixes e os outros animais pintados tanto por Chico como pelos seus seguidores constituem a simbologia da Escola do Pirambu. 2
  • 7. HENRIQUE GOMES DE LIMA Inexiste nada parecido na pintura mundial, por isso Chabloz apresentou Chico da Silva como “o índio que reinventou a pintura.” O grupo da Escola do Pirambu era formado por Babá, o primeiro discípulo (Sebastião Lima da Silva), Claudionor (José Cláudio Nogueira), Francisca (Francisca Silva), já falecida, Garcia (José Garcia de Santos Gomes) e Ivan (Ivan José de Assis). O autor vem incentivando o grupo a continuar a produção de obras no estilo criado por Chico da Silva ou à luz da simbologia da Escola do Pirambu, uma marca registrada do Ceará. O autor também vem estimulando Gerardo da Silva, neto de Chico e filho de Francisca Silva. Escolas, fundadores de escolas e seguidores ou discípulos fazem parte da história da arte. Não é demérito ter obra de um seguidor ou discípulo. Sugeriu Chabloz: “Do ponto-de-vista prático, é certo que, ao primeiro olhar lançado sobre os guaches de Francisco Silva, não se pode deixar de pensar no aproveitamento que deles poderiam fazer as vulgarmente chamadas ‘artes aplicadas’. A cerâmica, o tecido estampado, o papel-parede, o bordado, a tapeçaria, encontrariam no Pintor da Praia um criador infinitamente precioso.” Chabloz, lembra Estrigas, “possuía, além do desenho, da pintura e da música, conhecimentos de filosofia, envolvia-se com as ciências ocultas, era um animador cultural e ótimo conversador, trazendo uma cultura européia e sendo muito sensível ao que era nosso.” Disse Chabloz sobre o Ceará: “De todos os Estados brasileiros, o Ceará é, muito provavelmente, o mais autóctone, o mais autêntico, o mais original.” 2
  • 8. HENRIQUE GOMES DE LIMA 4. RESUMO DIDÁTICO Chico da Silva (1910 - 1985) Nascimento: 1910 - Alto Tejo AC Falecimento: 1985 - Fortaleza CE - 6 de dezembro Cronologia Pintor, desenhista, sapateiro, ajudante de marinheiro 1935 - Fortaleza CE - Muda-se com a família para o bairro de Pirambu 1937 - Fortaleza CE - Começa a desenhar a carvão e giz sobre muros e paredes de casebres de pescadores 1943/1945 - Fortaleza CE - Incentivado pelo crítico e pintor suíço Jean Pierre Chabloz, começa a pintar na técnica do guache 1961/1963 - Fortaleza CE - Através de Chabloz, trabalha no recém-criado Museu de Arte da UFCE 1971 - Fortaleza CE - Treze reproduções de seus trabalhos são publicadas no calendário do Banco do Nordeste 1952 e 1969 - Paris (França) - Jean Pierre Chabloz publica o artigo Um índio Brasileiro Reinventa a Pintura, sobre seu trabalho. Em 1969, porém, Chabloz publica um outro artigo no Jornal do Brasil: Chico da Silva ou a Ingenuidade Perdida, comentando o retrocesso que sua obra vinha sofrendo nos últimos anos 1975 - Pedro Jorge de Castro realiza um filme sobre sua vida e obra 1976 - A SBPC, em sua reunião anual, dedica uma mesa de debates ao artista 1976/1980 - Fortaleza CE - É internado devido ao agravamento de cirrose hepática e tuberculose, sendo, posteriormente, encaminhado a um hospital psiquiátrico, onde permanece por quatro anos 1978 - São Paulo SP - Agraciado com a Medalha Anchieta pela Câmara Municipal 1981 - Fortaleza CE - Retoma a pintura após afastamento por motivos de doença 1984 - Fortaleza CE - Agraciado com a Medalha da Abolição pelo governo do estado 1988 - Fortaleza CE - Estrigas publica um livro sobre o pintor 1989 - Fortaleza CE - É lançado o livro Chico da Silva: Do Delírio ao Dilúvio, com 2
  • 9. HENRIQUE GOMES DE LIMA texto de Roberto Galvão 5. ALGUMAS OBRAS 2